algo fere o silêncio
e não é apenas o pingar
de uma torneira esquecida pela casa
nem o vento que assombra as vidraças
ferindo a plena cicatriz da noite.
algo envelhece esta sombra
que dança atrás da minha sombra.
uma estrela cai
e alguém conspira em silêncio,
através da loucura,
com uma lâmina entre os dentes,
tropeçando pelos astros.
algo abafa este cântico
e ouve-se o grito das aves sem asas
pela nudez fria do mármore.
a febre que respira pesadamente
a desordem das cinzas do incenso desfeito.
o exílio começa pela estrada dos céus.
alguém afasta os lençóis
e desfaz esta cama de trevas.
PAULO EDUARDO CAMPOS
in, A CASA DOS ARCHOTES
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