domingo, 30 de dezembro de 2018

A Profecia da Curandeira





Escolhi um livro muito especial para começar a ler na Noite de Ceia.
Adoro começar a ler um livro místico nessa noite, e ficar a ler até tarde.
“A Profecia da Curandeira” do escritor peruano Hernán Huarache Mamani. 
Todas as mulheres deviam ler este livro.
O título original é “El Poder de la Mujer”.

Tem ensinamentos preciosos, passados por mulheres sábias peruanas, da comunidade de Ipana nos Andes Peruanos.
Verdadeiras Mestras Andinas!
Que ensinam que a Vida é uma Escola onde é necessário aprender a amar e a servir o próximo!

A Mama Qoyllurchiy diz que no passado, a mulher andina desempenhou um papel muito importante ao participar activamente na constituição de uma nova sociedade: o Tawantisuyo, a sociedade perfeita, o governo das quatro regiões ou o fabuloso Império do Ouro e da Prata dos Incas, como é conhecido pelos historiadores do Ocidente.

Ela fala que havia o Ajillawasi, um Centro Educativo Feminino, que existiu há mais de cinco séculos, e que era uma instituição criada pelas Mamakuna, onde as Mestras ensinavam a Pachamama, uma ciência que instruía sobre a compreensão e o respeito pela natureza.
Foi na base destes ensinamentos que os Incas, também chamados de “Filhos do Sol” foram instruídos. Foram eles que difundiram a Luz da Espiritualidade pelos Andes até à chegada dos Espanhóis.

Nos dias de hoje, existem muitas mudanças no mundo devido ao uso irresponsável da ciência e das tecnologias. A Terra vive uma autêntica catástrofe ecológica.
Pouco a pouco, muitas mulheres vão tomando consciência de que o nosso planeta corre um grande perigo, e instintivamente, estão a recuperar a Força e a Energia para encontrarem um caminho diferente, mais benéfico para o planeta, e voltarem a ter nas mãos as rédeas da Humanidade, que lhes foram temporariamente tiradas com o Sistema Patriarcal.
A mulher não tem ainda consciência do papel que irá desempenhar no futuro, assim como não está ainda consciente das imensas capacidades que possui e das quais entretanto se esqueceu.

Este livro é importante para mostrar o Caminho de Iniciação Andina que as mulheres sábias do povo Inca seguiram, mantendo em segredo os Conhecimentos Sagrados da Pachamama.
Mostra o que a mulher é capaz de fazer para reconquistar o papel que a Natureza lhe atribuiu. No longo trajeto de aprendizagem, é possível encontrar em nós próprias a força de vontade, a coragem, o conhecimento, e a energia necessárias para mudar o curso da história individual, fazendo de cada dor, de cada solidão, de cada tristeza, um mundo de alegria, de amizade e de plenitude.
Mostra também que, para favorecer o nascimento de uma nova relação, baseada na colaboração entre homem e mulher, é necessário destruir a prisão que alguns homens criaram com a finalidade de submeter a mulher.

A protagonista da história chama-se Kantu, uma jovem andina lindíssima. Pouco ou nada sabia dos seus ancestrais incas e tinha um estilo de vida moderno na grande cidade de Cuzco que a envolvia totalmente. Um dia, tudo se altera, quando no meio de uma violenta tempestade é atingida por um raio, o que a despertou para uma nova realidade. Inicia uma peregrinação mística pela antiga sabedoria xamânica da tradição espiritual inca, desafiando os seus próprios limites. Encontra-se com sábias curandeiras das montanhas, e nasce uma Kantu com uma nova Luz Interior, uma força poderosíssima que ignorava possuir e que lhe abre horizontes inesperados. Ao conhecer-se a si mesma, e às Forças subtis que governam a Criação, Kantu torna-se Senhora da sua Vida e descobre que o amor é a mais poderosa energia do Universo.
É uma história misteriosa e mágica, que faz despertar o Espírito Feminino neste Ciclo Cósmico, que será o início de uma época de Paz e Harmonia no Mundo.

O livro tem 267páginas para ler e reler devagar, divididas em 16 capítulos e um Epílogo:


  1. TU TENS O PODER

Fala da tempestade nas montanhas, em Coporaque no Perú, que vitimou Kantu com uma descarga eléctrica de um raio. Estava entorpecida caída no chão, e sentia-se impotente, indefesa e frágil. Os índios, com os chullos (gorro com orelhas) na cabeça e sandálias andinas feitas de câmaras de ar de pneus usados, são um povo sempre atento ao que se passa na comunidade e consideram o seu povo como uma família. Povo sensível ao sofrimento dos outros como se do próprio sofrimento se tratasse. Nas suas casas existe sempre pão, refúgio e bons conselhos para quem queira. E depressa socorreram Kantu, trataram dela, das suas feridas, deram-lhe a beber chás de ervas medicinais, esfregaram-lhe o peito com pomadas feitas com ervas medicinais, tudo feito por curandeiras cheias de força interior e um ânimo forte e indomável.

Segundo a Medicina da Pachamama (Mãe Cósmica, Mãe Natureza), as pessoas atingidas por um raio que sobrevivem estão destinadas a serem curandeiras. Essa Medicina da Pachamama é praticada pelos curandeiros Hampi Kamayok na sociedade Tawantinsuyo (a totalidade do território do Império Inca que se dividia em 4 regiões, e cuja capital era a cidade de Cuzco). Esses curandeiros tinham de possuir dons especiais e uma personalidade forte; curavam os seres humanos, combatiam as pragas e epidemias que atingiam os animais e as plantas. Viviam rodeados de uma aura de mistério e poder. Reuniam-se em congregações onde lhes eram transmitidas as fórmulas secretas, os rituais e as técnicas de cura e pertenciam quase sempre à casta sacerdotal. Tinham um processo de iniciação bastante rígido chamado Wamaq, com jejuns, privações, provas de resistência, exercícios físicos e mentais, para lhes ensinar a superar o medo do desconhecido. A sua alimentação era vegetariana à base de ervas, raízes, fruta e grãos de milho com o objetivo de purificar o corpo e atingir o controlo físico e mental. Eram guiados por um Amauta, um sábio capaz de lhes explicar os mistérios dos fenómenos humanos. Aprendiam a história dos seus antepassados, as lendas, os mitos, as cerimónias, o poder curativo das ervas medicinais, dos amuletos, das massagens, e também a compreender o mundo invisível. Alguns tinham o dom da clarividência, conheciam o Passado, o Presente e o Futuro, ao usarem folhas de coca, grãos de milho, vísceras de leitões e dos lamas; outros entravam em contacto com as forças da natureza e comunicavam com os relâmpagos, com o Sol e com a Lua; outros falavam com os espíritos dos antepassados; e outros comunicavam com os Apukuna, espíritos protetores dos homens que vivem nas montanhas altas. Depois da primeira invasão espanhola do Perú, estes curandeiros Hampi Kamayok quase se extinguiu e os seus conhecimentos perderam-se. Mas, a antiga tradição era transmitida de Pai para filho e os detentores de esta antiga sabedoria reuniam-se em segredo. Daí restou apenas um conhecimento rudimentar definido como Medicina Popular, chamada de Hampi Qhato.

Os curandeiros, parteiras, e adivinhos que usam essa nova medicina ainda hoje exercem conservando esses conhecimentos antigos, como é o caso dos Yatiri que vivem nas margens do Lago Titicaca no sul do Perú, e os Qamile na Bolívia, e percorrem as várias aldeias com os seus remédios, amuletos e ervas medicinais.

Kantu não acreditava em nada disto, levava uma vida ao estilo moderno em Cuzco, que hoje é uma cidade meio andina meio ocidental, a 3ª cidade mais importante do Perú, grande centro turístico e Capital Arqueológica da América do Sul. Na cidade vivem brancos, turistas ocidentais, mestiços e indígenas como a Kantu. Desde pequena que demonstrava muita intuição e sensibilidade para compreender as pessoas mas, não tinha nenhum interesse em cultivar essas faculdades e preferia dedicar-se à universidade.
Depois do acidente, aconteceram-lhe coisas muito estranhas: começou a ter visões do que estava para acontecer a outras pessoas, teve uma crise nervosa severa durante vários meses acamada que a medicina tradicional não curou. Foi quando a mãe a levou a Anselmo, o curandeiro da sua aldeia Coporaque, contra a sua vontade após muita insistência.
Anselmo usava as folhas de coca para diagnosticar o que se passava com Kantu.
Há milénios que os Quechua usam as folhas de coca para conhecer o passado, presente e futuro, para ler a mente do ser humano e para diagnosticar doenças físicas e espirituais, visto que a coca não é apenas um alimento e um remédio, mas é sobretudo uma substância que possui poderes mágicos, graças aos quais é possível entrar em contacto com o mundo dos espíritos. E foi quando lhe fez o diagnóstico.
“ As pessoas pensam que és louca porque começaste a ler o futuro. Tu podes ver o amanhã, podes predizer coisas bastante desagradáveis e isso irrita os outros. Aquilo que te provoca o mal-estar é a visão do futuro. A tua saúde está perfeita, o teu corpo está bem, mas aquilo que a tua alma consegue ver insinua-se na matéria do teu corpo e é isso que te está a provocar problemas. Possuis o Dom da Profecia! Podes vir a ser uma grande vidente! No teu caso, despertaram os poderes de que és dotada e que não sabes como controlar. Com a prática poderás desenvolvê-los e a controlá-los, recorrendo a eles apenas quando precisares”. 

Kantu não queria esse Dom, queria ser uma pessoa normal, e ter uma vida como antes.
Anselmo disse-lhe:
“Mas porque queres ser normal? Este é um dom que muito poucos possuem. Algumas mulheres, quando o desejam muito, podem adquirir essa capacidade com o tempo, mas são poucas aquelas que nascem com esta energia e este poder. A Mãe Natureza foi generosa contigo. Se quiseres posso ajudar-te a desenvolver este dom, mas se não quiseres posso restituir ao teu corpo o que chamas de normalidade, e anular este poder”
Kantu suplicou para que ele anulasse o poder da profecia e ele disse-lhe:
” A natureza ofereceu-te um dom, e tu, em vez de agradeceres e de aprenderes a utilizá-lo, preferes deitá-lo fora. No fundo, é sempre assim: por vezes, este dom é concedido a quem menos o deseja. Tu não sabes o poder que tens, e desconheces que o podes utilizar para ajudar os outros”. 

Os famosos Alto Misayoq, atualmente a hierarquia mais elevada dos médicos-sacerdotes no sul do Perú, chamam Paqos a estas pessoas que depois de serem atingidos por um raio se tornam sacerdotes-curandeiros.
Kantu fez o que Anselmo lhe disse para fazer, massagens, dieta específica, ingestão de ervas medicinais e as visões desapareceram, voltando a ter a vida normal de antes.
Foi assim que ela compreendeu que existem duas formas diferentes de abordar um problema: por um lado, a medicina tradicional exercida por médicos especialistas, e por outro a medicina popular praticada por curandeiros que recorrem a métodos transmitidos de geração em geração. Passou a confiar em Anselmo, por ter uma extraordinária capacidade de compreender as coisas e as pessoas, e por ter um profundo conhecimento, quer da psicologia masculina quer da feminina, que superava largamente o de muitas pessoas cultas. E assim nasceu uma verdadeira amizade entre eles.

Passou a visitar Anselmo para compreender melhor como um raio tem a capacidade de despertar dons nas pessoas. Anselmo explicou-lhe que:
 “a Natureza concede-nos grandes poderes, a todos os seres humanos, mas por regra ficam adormecidos dentro de nós. A vida que levamos, tudo o que fazemos, pensamos ou sentimos, faz com que pouco a pouco, se fechem os canais que nos permitem comunicar com a Natureza. De um modo geral, são as mulheres, seres mais espirituais e menos materialistas que os homens, que mais facilmente desenvolvem esses poderes. Tal como todas as mulheres, também tu possuis dentro de ti estes dons adormecidos. Um deles foi despertado graças à faísca que atingiu o teu corpo. Se te tivesse acertado em cheio tinhas morrido; estás viva porque apena te atingiu de raspão, mas abriu os canais que correm dentro de ti e que eu tive de voltar a fechar porque tu assim o quiseste. Tu foste dotada de uma capacidade, de um dom que despertou dentro de ti e que poderias ter utilizado e desenvolvido. Possuis uma grande força interior que podes usar em teu benefício e em benefício dos outros. Se quiseres, ainda vais a tempo de o fazer. Possuis um poder que só utilizarás quando for essa a tua vontade”. 

Mas Kantu lembrou-se dos problemas que a capacidade de prever o futuro lhe causou e foi embora. 

E assim começa esta viagem mágica com esta maravilhosa Kantu.




Sem comentários:

Enviar um comentário