segunda-feira, 13 de agosto de 2018

QUANDO EU PARTIR


Aamer





Quando eu partir, quando eu partir de novo 
A alma e o corpo unidos, 
Num último e derradeiro esforço de criação; 
Quando eu partir... 
Como se um outro ser nascesse 
De uma crisália prestes a morrer sobre um muro estéril, 
E sem que o milagre se abrisse 
As janelas da vida. . . 
Então pertencer-me-ei. 
Na minha solidão, as minhas lágrimas 
Hão de ter o gosto dos horizontes sonhados na adolescência, 
E eu serei o senhor da minha própria liberdade. 
Nada ficará no lugar que eu ocupei. 
O último adeus virá daquelas mãos abertas 
Que hão de abençoar um mundo renegado 
No silêncio de uma noite em que um navio 
Me levará para sempre. 
Mas ali 
Hei de habitar no coração de certos que me amaram; 
Ali hei de ser eu como eles próprios me sonharam; 
Irremediavelmente... 
Para sempre. 


Ruy Cinatti
in, Nós Não Somos Deste Mundo





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