Não sei muito bem o que me liga a ti:
O passado, de que ainda me lembro,
E que não se pode mudar,
O futuro que ainda não foi escrito,
Ou essas memórias
Que não são minhas nem nossas
Porque nunca existiram.
Sei apenas que te lembro,
Que foste importante,
Que deixaste em mim
Essa marca demasiado profunda
Para que o tempo te mude ou te apague.
Depois a vida aconteceu,
As memórias misturam-se,
Confundem-se entre o que foi
E o que podia ter sido,
Esta a dor de lembrar
E o estar no presente.
Confrontar-me comigo mesma
Nesse espelho de censura
Que é a verdade,
Que é envelhecer e esquecer os sonhos
E a força com que se acredita
Por debaixo do tapete do quarto
Junto com aquilo que não se quer ver.
Lembro-me de ter sido jovem,
De ter sonhado,
De ter enterrado tudo quanto fui
E me fez sorrir.
Lembro-me e não queria lembrar,
é mais difícil suportar o presente,
Os dias que se esgotam, sem amanhã.
ANA BRILHA
in, A APOLOGIA DO SILÊNCIO
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