quinta-feira, 16 de agosto de 2018

A DANÇA





Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio 
ou seta de cravos que propagam o fogo: 
amo-te como se amam certas coisas obscuras, 
secretamente, entre a sombra e a alma. 

Amo-te como a planta que não floriu e tem 
dentro de si, escondida, a luz das flores, 
e, graças ao teu amor, vive obscuro em meu corpo 
o denso aroma que subiu da terra. 

Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde, 
amo-te directamente sem problemas nem orgulho: 
amo-te assim porque não sei amar de outra maneira, 

a não ser deste modo em que nem eu sou nem tu és, 
tão perto que a tua mão no meu peito é minha, 
tão perto que os teus olhos se fecham com meu sono.


PABLO NERUDA
in CEM SONETOS DE AMOR





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