Não foi porque não tinha que ser.
Quantas vezes eu já ouvi e repeti isso?
Mas será que não era mesmo?
Ou eu fiz não ser?
Não sei.
Só sei que o tempo não volta, e nesse caso específico, um dia tivemos outra oportunidade mas assim como as águas nunca voltam iguais, a oportunidade também não se mostrou a mesma.
Aí lembro de uma citação do filme “2046” onde o amor tem a ver com o tempo:
Não adianta encontrar a pessoa certa demasiado tarde ou cedo demais.
Então concluo que não foi a oportunidade que já não era a mesma, era o tempo que já era outro.
Não estou com saudades não, nem arrependida.
E confesso, faz tanto tempo que não sei nem contar os anos desde aquele dia.
É que hoje vim de carona.
E ouvimos um único cd o percurso inteiro.
O mesmo cd que num fim de semana qualquer do passado tocou sem parar.
Músicas que meses depois, num pedido de “perdão”, ganhei num dvd e num cartão que ainda não tive coragem de jogar fora.
Nunca assisti esse DVD. Não queria nada que lembrasse aqueles dias.
Mas a lembrança não obedece a gente.
Nem os outros sabem dos segredos que guardamos, ou melhor, enterramos dentro da gente.
Só sei que aquelas músicas tocaram hoje sem parar.
Uma seguida da outra.
E eu ainda sabia todas as letras.
E como um filme, pela janela eu via uma estrada vazia, chuva no pará-brisa, árvores e uma mão na minha coxa.
Clarice Lispector
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