quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Viajar



” Nós próprios eis a questão da viagem. Nós próprios e mais nada. Ou pouco mais. Pretextos, ocasiões, múltiplas justificações, sem dúvida, mas de facto fazemo-nos à estrada movidos unicamente pelo desejo de nos reencontrarmos, ou mesmo de nos encontrarmos. A volta ao mundo nem sempre basta para atingir este frente a frente. Por vezes nem sequer uma vida inteira. Quantos desvios ou quantos lugares, antes de saber que estamos na presença daquilo que levanta levemente o véu do ser? Os trajectos dos viajantes coincidem sempre, secretamente, com as procuras iniciáticas que colocam a identidade em jogo.”

“A viagem pressupõe uma experimentação sobre si próprio que remete para os exercícios habituais dos filósofos antigos: o que posso saber sobre mim? O que posso descobrir acerca de mim se mudar de lugar, de orientação e modificar as minhas referências? O que resta da minha identidade quando me liberto das amarras sociais, comunitárias, tribais, quando fico sozinho, ou quase, num meio ambiente quando não hostil, pelo menos inquietante, perturbador, angustiante?”.

Michel Onfray
in,Teoria da Viagem

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