Ninguém durma! ninguém durma!
Tu também, ó princesa,
na tua fria alcova
olhas as estrelas
que tremulam de amor
e de esperança!
Mas o meu mistério está fechado em mim,
O meu nome ninguém saberá!
Não, não, sobre a tua boca o direi,
Quando a luz resplandescer!
E o meu beijo escolherá o silêncio
que te faz minha!
E o seu nome ningúem saberá!
E nós deveremos, infelizmente, morrer!
Desvença, a noite!
Desapareçam, estrelas!
Desapareçam, estrelas!
Ao alvorecer eu vencerei!
Vencerei,Vencerei!!!
Turandot, última ópera de Giacomo Puccini, composta em três atos, com libreto de Giuseppe Adami e Renato Simoni, baseado numa peça (1762) de Carlo Gozzi com a adaptação de Friedrich von Schiller. Estreou no Teatro alla Scala em Milão em 25 de abril de 1926, sob a regência de Arturo Toscanini. Esta ópera ficou inacabada por causa da morte do autor, a 29 de novembro de 1924, sendo completada por Franco Alfano. Arturo Toscanini não gostou do final que Franco Alfano deu à ópera de Puccini; por isso, na cena de morte de Liù, virou-se para a plateia e disse: "Senhoras e Senhores, aqui parou Giacomo Puccini".
Em Turandot, Puccini mostra a veia sadomasoquista que havia manifestado em Suor Angelica, Madame Butterfly e Tosca ("meus instintos neuróticos", dizia ele).
O triunfo final de duas personagens que se comportam de forma censurável (Turandot e o príncipe Calaf) chocou algumas pessoas, apesar da partitura de um melodismo fluido, extremamente quente, melancólico e sensual, típico de Puccini.
Esta ópera, na qual Puccini importa temas musicais de origem chinesa, assim como a Aïda de Giuseppe Verdi, é um verdadeiro deleite para os cenógrafos, pois permite a criação de cenários monumentais.
A Princesa Turandot, filha do Imperador Altum da China, odeia todos os homens, e jura que jamais se entregará a nenhum deles; isto devido a um fato ocorrido na família imperial que a traumatizou para sempre: o estupro e assassinato da princesa Lo-u-Ling, quando os tártaros invadiram e conquistaram a China. Seu pai, porém, exige que ela se case, por razões dinásticas, e para respeitar as tradições chinesas. A princesa concorda; porém, com uma condição: ela proporá três enigmas a todos os candidatos, que arriscarão a própria cabeça se não acertarem todos os três, e somente se casará com aquele que decifrar todas as três duríssimas charadas.
A crueldade e frieza da princesa não fazem mais do que atiçar a paixão do Príncipe Desconhecido, filho do deposto rei dos tártaros, que decide arriscar a própria vida para conseguir a mão da orgulhosa princesa. Ele consegue, após a derrota de todos os outros candidatos, até porque é o único que compartilha da natureza sádica e egoísta da princesa, sendo capaz de entendê-la.
Ato I
Pequim. Um arauto do governo imperial anuncia à multidão, reunida na Praça da Paz Celestial, o decreto do imperador Altum: a Princesa Turandot desposará aquele que, de sangue real, decifre os três enigmas que ela proporá. Aquele que se arriscar, porém, e fracassar, pagará com a vida. O Príncipe da Pérsia acaba de tentar, mas não teve sorte: será executado ao nascer da lua. A multidão mal pode esperar para ter o prazer de assistir à execução (Perché tarda la luna?).
No meio dessa turba ensandecida está o velho Timur, incógnito príncipe destronado dos tártaros, e sua fiel servidora Liù. O Príncipe Desconhecido, filho de Timur, exulta de alegria ao reencontrar seu pai, que julgava morto.
A lua surge no céu. Aparece o Príncipe da Pérsia a caminho do patíbulo; longe de parecer assustado diante da morte, ele parece estar num êxtase místico, embriagado pela beleza de Turandot. Aqui a princesa entra em cena pela primeira vez. Tomados de compaixão pelo jovem príncipe, todos suplicam-lhe por clemência; mas, ao invés, sem hesitar um só segundo, num gesto imperioso, frio, e cruel, ela dá o sinal ao carrasco que faz descer o machado no pescoço do príncipe.
É neste exato momento que o Príncipe Desconhecido se apaixona por Turandot, e anuncia sua intenção de se candidatar à mão da princesa. Todos tentam demovê-lo da ideia: seu pai, os três ministros imperiais Ping, Pang e Pong, e Liù que, numa comovente ária, Signore ascolta, confessa que está apaixonada pelo príncipe desde o dia em que pela primeira vez o viu sorrir no palácio real. O Príncipe responde pedindo-lhe que nunca deixe de tomar conta de seu velho pai, se ele vier a faltar (Non piangere Liù).
Aos gritos gerais de louco! insensato! o que estás fazendo? - o príncipe toma do martelo, e dá três golpes no gongo, sinal de que está se candidatando à mão de Turandot.
Ato II
Os três ministros Ping, Pang e Pong discutem o destino da China, e comentam que, desde que Turandot começou a reinar, ninguém mais tem paz no Celeste Império: o machado e os instrumentos de tortura funcionam noite e dia. Monta-se a cena diante do Palácio Imperial para a cerimónia dos enigmas.
Surge em cena o velho imperador Altum, que tenta convencer o jovem pretendente a desistir:
"Permite, meu filho, que eu possa morrer sem levar para o túmulo essa culpa pela tua jovem vida, muito sangue já correu!"
Mas é tudo em vão, a obstinação do jovem Príncipe Desconhecido deixa todos estupefatos.
Surge Turandot, que olha o candidato com olhar frio, impassível, e cheio de desdém. Sua voz se faz soar pela primeira vez:
"Neste palácio (In questa Reggia), já faz mais de mil anos, um grito desesperado ressoou; e aquele grito, da flor da minha estirpe, um eco eterno na minh'alma deixou. Princesa Lo-u-Ling!… Há séculos ela dorme na sua tumba enorme! Estrangeiro, desiste! Os enigmas são três, a morte é uma."
Tendo o príncipe recusado sua última hipótese de escapar ileso, Turandot expõe seu primeiro enigma.
"Qual é o fantasma que nasce todas as noites, apenas para morrer quando chega a manhã?"
"É a esperança," responde o príncipe.
Os três sábios do reino consultam o livro das respostas: primeira resposta, correta.
Turandot, por um breve momento, parece ter sentido um choque, mas não se deixa abater, e diz cheia de escárnio: "Sim! A esperança que ilude sempre!"
Impassível, ela propõe o segundo enigma:
"O que é vermelho e quente como a chama, mas não é chama?"
"O sangue," responde o príncipe.
Os sábios consultam seus livros: a segunda resposta também está correta.
Agora, Turandot parece ter perdido um pouco a compostura, mas se convence de que nem tudo está perdido. Vem o terceiro enigma:
"Qual é o gelo que te faz pegar fogo?"
"Turandot."
"Turandot! Turandot!" gritam os sábios em coro. Resposta correta!
Agora, o desespero toma conta de Turandot, que se atira nos braços do pai:
"Pai, não me obrigue a entregar-me a este estrangeiro!"
Mas seu pai lhe responde que nada pode fazer: o juramento é sagrado.
O Príncipe Desconhecido, porém, afirma que não quer ter Turandot contra a vontade da princesa.
Ele propõe-lhe, então, um único enigma; se ela responder corretamente, ele desiste dos seus direitos, e entrega sua cabeça ao carrasco.
"Tens até a aurora," diz ele, "para descobrir meu nome."
Ato III
Funcionários públicos percorrem as ruas de Pequim com lanternas acesas. Numa ditadura perfeita, onde ela tem poderes ilimitados, Turandot ordenou que ninguém durma esta noite em Pequim: todos devem ajudar a descobrir o nome do Príncipe Desconhecido.
É então que o príncipe canta a ária Nessun dorma (Que ninguém durma).
Os três ministros Ping, Pang e Pong tentam fazer de tudo para convencer o jovem a desistir, oferecendo-lhe lindas mulheres, riquezas, e um visto de saída da China - mas tudo em vão.
De repente, alguém se lembra de que viu o jovem príncipe em companhia de Liù e do velho.
Turandot ordena que Liù seja torturada, até que revele o nome do príncipe; ela morre sem dizer uma palavra, numa das mortes mais comoventes de todas as óperas.
O dia nasce com o velho a chorar sobre o cadáver de Liù.
"Liù, bondade! Liù, doçura! Liù, poesia!".
Calaf, o principe desconhecido vê Turandot, ela pede que todos saiam e tem um duo com ele (este já composto por Franco Alfano) em que ela se revela humilde. Calaf conta qual é o seu nome, e os guardas chegam; Turandot restaura seu orgulho, mas na hora de falar qual é o nome de Calaf ela fala que o nome dele é "Amor".
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