A história dos teus Olhos começou no Dia da Primeira Árvore
quando as estrelas saíram dos poços para apodrecerem no céu.
Então as aves existiam apenas dentro da imaginação da luz
e as flores ainda voavam no cio dos perfumes enlaçados.
O canto não tinha limites. Prolongava o silêncio
até ao murmúrio das últimas constelações.
Foi então que os teus Olhos criaram o mundo.
Ordenaram as pedras com cuidado para não as acordar.
Pentearam os lagos com lírios.
Adormeceram os voos nas açucenas.
Separaram o mar das lágrimas dos homens
e deram às fogueiras este jeito de vento e de cabelos.
E pouco a pouco os teus Olhos desfizeram-se no mundo.
Diluíram-se nos vales dos regatos de choro oculto,
na fixidez de remorso dos pirilampos,
nas pálpebras verdes do crepúsculo,
nos astros ainda trémulos de lágrimas no teu rosto.
E nesta Penumbra de coração em cinzas
que me enreda e beija e quer e dói e ama,
e és tu, és tu, és tu a olhar para mim
- num envolver de braços no pescoço.
José Gomes Ferreira
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