Procuro a terra branca de um outro
continente, os montes áridos de um litoral
tempestuoso, o fundo secreto de uns olhos
abertos para o coral da eternidade. Perdi-me
nessa procura; destruí os cadernos onde
apontara o caminho. Como um cego,
estendi os braços para o ocaso de um infinito
que os loucos desenharam. Bati contra
os seus limites, e andei às voltas sem encontrar
uma fuga.
Mas vi saírem todos os barcos do porto
que imaginei. Tinha-o pensado com longos
cais vazios, e percorrera-o devagar, tropeçando
nas madeiras podres e nas cordas inúteis
de um velame corrupto. Por vezes, sentei-me
nos caixotes desfeitos pelos vagabundos
em busca de um resto de comida. Os cães
vinham ter comigo e lambiam-me as mãos
como se eu fosse o seu dono.
Não sei o que levaram esses barcos; nem
que sonho de felicidade se desfez nos olhos
vazios dos afogados.
Nuno Júdice
in, Fórmulas
de uma luz
inexplicável
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