Manhãs há que se despedaçam nas pálpebras,
revolvem a íris,
arrancam-nos do sono, dos seus bancos da névoa,
de qualquer torpor
Estranhas núpcias celebra o homem com a mais
recôndita vida.
Enlaçados percorremos a noite, derrubamos as suas pontes,
queremos do amor os perfumes,
a trágica magia -
isto é:
lançamos as redes aos mares, somos um peixe de ouro
que abandona as escamas,
o covil de todos os tráficos, a mutação das cores.
É um estar subterrâneo, liquidamente.
Podíamos adorar as florestas interiores, os labirintos
da água,
estremecer com os golpes do remador, com as
rapidíssimas visões no intervalo das luas.
Seguimos a corrente, a flutuação dos líquenes,
olhamos devagar -
serão aqueles sobre a falésia os pescadores de
estrelas?
Eles, impassíveis,
veneradores do oceano e do Cruzeiro do Sul, eles
que amaram a cintilação das Pléiades?
Despertamos de repente, ao descerrar das persianas.
Viajámos muito:
uma anémona, corais, um vestígio de náufragos, o nome
eis quanto trazemos à luz.
Em pleno dia, já não recordamos - esfinges de
sal e sol envelhecendo -
tão pouco que somos.
José Agostinho Baptista
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