terça-feira, 29 de setembro de 2020

O não-ser





Um monge que andava buscando pediu a um mercador uma esmola.
O mercador se deteve por um momento e, ao dar-lhe o que pedia, perguntou ao monge:

“Como é possível que você me peça o que lhe falta para viver e, no entanto, precise menosprezar a mim e ao meu modo de vida, que lhe proporcionamos isso?

O monge lhe respondeu:
“Em comparação com o Ultimo que busco, o resto parece desprezível.”

Mas o mercador perguntou ainda:
“Se existe um Ultimo, como pode ser algo que alguém possa buscar e encontrar como se estivesse no fim de um caminho?
Como poderia alguém sair ao seu encontro como se fosse uma coisa entre outras e muitas, e apossar-se dele mais do que outros e muitos?
E inversamente, como poderia alguém afastar-se desse Último, ser menos conduzido por ele ou estar menos a seu serviço do que as outras pessoas?"


O monge retrucou:
“Encontra o Ultimo quem renuncia ao próximo e ao presente. ”

Mas o mercador ainda ponderou:
“Se existe o Ultimo, ele está perto de cada pessoa, mesmo que esteja oculto no que nos aparece e no que permanece, assim como em cada ser se oculta um não-ser e em cada agora, um antes e um depois.
Comparado ao ser, que experimentamos como fugaz e limitado, o não-ser nos parece infinito, como o de onde e o para onde, comparados ao agora.
Porém o não-ser se revela a nós no ser, assim como o de onde e o para onde se revelam no agora.
O não-ser, como a noite e como a morte, é um início desconhecido e só por um breve instante, como um raio, nos abre seu olho no ser.
Assim também, o Último só se aproxima de nós no que está perto e brilha agora.”


Então o monge perguntou, por sua vez:
“Se o que você diz fosse a verdade, o que restaria ainda a mim e a você?"

O mercador respondeu:
“Ainda nos restaria, por algum tempo, a terra.”



Bert Hellinger






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