Estas são as antigas ferramentas:
a paciência indecisa e mineral
como a minha caveira
que apoio agora na palma da mão,
o lápis e o papel que foram árvore
e conservam ainda
vocação vertical de tronco um,
e o outro a frescura da seiva,
o branco ofuscante dos verões
na cal das casas da minha aldeia,
nas secas preces das copas.
Estas são as temidas ferramentas:
as velas dos verbos, a memória
e esta mesa que é nave, ninho, mãe
em cujo seio dormem
o lápis e o papel, a aldeia afundada
e a tinta que é sangue de animais marinhos.
Estas são as simples ferramentas
e este o vento inventado:
a tímida tormenta de um alento
e as palavras, manchas
de voz sobre o papel,
faróis de voz no meio do oceano.
Juan Vicente Piqueras
in, INSTRUÇÕES PARA ATRAVESSAR O DESERTO
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