quarta-feira, 22 de abril de 2020

Sempre a amante ultrapassa o amado





O destino gosta de inventar desenhos e figuras.
A sua dificuldade reside no que é complicado.
A própria vida, porém, tem a dificuldade da simplicidade. Só tem algumas coisas de uma dimensão que nos excede. O santo, declinando o destino, escolhe estas coisas por amor a Deus.

Mas que a mulher, segundo a sua natureza, tenha de fazer a mesma escolha em relação ao homem, isso evoca a fatalidade de todos os laços de amor: decidida e sem destino, como um ser eterno, fica ao lado dele, que se transformará.
Sempre a amante ultrapassa o amado, porque a vida é maior do que o destino. A sua entrega quer ser sem medida: esta é a sua felicidade.
A dor inominada do seu amor, porém, foi sempre esta: exigirem-lhe que limitasse essa entrega.


Rainer Maria Rilke
in,  'As Anotações de Malte Lauridis Brigge'






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