O espírito e a ciência são as duas grandes abordagens à Verdade.
Ambas procuram a verdade acerca de nós e do nosso Universo;
ambas procuram respostas às Grandes Questões.
São os dois lados da mesma moeda.
A nossa civilização mais antiga conhecida, a Suméria (3800 a.C.) via da mesma forma a busca de conhecimento do mundo que nos rodeia, e do mundo espiritual. Os sacerdotes do templo eram os escribas e tecnologistas que investigavam estes dois campos de conhecimento.
Na Grécia Antiga (1200 a.C. até 600 d.C.) os filósofos faziam grandes questões como:
- Por que estamos aqui?
- O que devemos fazer com as nossas vidas?
Na China, as pessoas viam o mundo como uma interacção dinâmica de forças de energia em fluxo constante, em que nada é fixo e estático; tudo flui, muda.
"Nas maiores culturas do mundo antigo, as pessoas dirigiam-se à Terra e ao Cosmos como uma Entidade, e não como uma coisa. Sentiam que faziam parte de um grande mistério cósmico. Sentiam o divino no mundo material. A Natureza e o Cosmos tinham inculcado na alma a divina presença."
- Anne Baring
Os povos nativos de todo o mundo viveram a relação equilibrada com o seu meio ambiente - animais, plantas, o Sol e a Chuva, a Terra Viva. Basearam a sua religião e a sua ciência em aprender a viver de uma forma que agradasse aos espíritos da Terra e do Cosmos. O objectivo da ciência, em todas essas culturas, era obter conhecimento de forma a equilibrar a vida humana com as grandes forças do mundo natural e os poderes transcendentes que todas as culturas sentiam por trás do mundo físico. Queriam saber como a natureza funcionava, não para a poderem controlar e dominar, mas para viver de acordo com o seu fluxo e refluxo.
Como dizia o filósofo Fritjof Capra,
"Desde os tempos dos anciãos que os objectivos da ciência são a sabedoria, a compreensão da ordem natural e viver em harmonia com esta. Procurava-se a ciência pela glória de Deus, ou tal como dizem os chineses, para seguir a ordem natural do Tao"
Tudo isto mudou radicalmente a partir de meados do Séc XVI.
Na Europa medieval, a Igreja tinha uma posição de poder supremo; coroadora de reis, proprietária de terras e mensageira da verdade, a Igreja autoproclamava-se a única conhecedora de tudo. Os seus Dogmas eram Leis, e o seu poder era absoluto. Não só legislavam a forma como funcionava o mundo espiritual, em termos de Céu, Inferno e Purgatório, como também diziam ao mundo físico como deveria funcionar, sempre sem questionar a Igreja.
Em 1543, Nicolau Copérnico teve a audácia de desafiar a Igreja e a Bíblia.
Publicou um livro que sugeria que era o Sol, e não a Terra, o centro do universo.
A Igreja, quando confrontada com a ideia de poder estar errada, proibiu a leitura do livro, pondo o livro no "Index" de livros proibidos (só saiu de lá em 1835).
Copérnico morreu de causas naturais antes da Inquisição lhe por as mãos. No entanto, dois cientistas que apoiavam e seguiam o seu trabalho, confirmaram os cálculos de Copérnico e foram apanhados pela Inquisição. Um deles, Giordano Bruno, foi condenado como herege e queimado vivo. O outro, Galileu Galilei, por ser amigo pessoal do Papa, foi apenas detido em prisão domiciliária aos setenta anos até á sua morte. Galileu é frequentemente chamado como o "pai da ciência moderna" porque foi o primeiro a basear o seu trabalho nos dois grandes pilares da ciência: a observação empírica e o uso da matemática.
E por causa das descobertas de Galileu no início dos anos 1600, o conhecimento deixou de ser propriedade do Clero. A sua validade deixou de se basear em autoridades anciãs e nas hierarquias eclesiásticas. O conhecimento passou a ser obtido através da investigação aberta e da observação e validação por princípios pré-acordados, que ficaram conhecidos como Método Científico.
Depois disto, surge Decartes, que separa a Mente do Corpo...separa a Natureza da Humanidade, aumentando o fosso entre a Matéria e o Espírito.
Francis Bacon, que passa a dominar a Natureza, defendendo que ela tinha de ser limitada nas suas divagações, posta ao serviço da humanidade, de forma a que o trabalho do cientista fosse extrair conhecimento para controlar e dominar a natureza, descrita como entidade feminina. Isto tornou-se no princípio que orienta a ciência ocidental, resumido na sua célebre frase, "Conhecimento é Poder"
"No séc XVII saímos de um período em que víamos o universo como uma entidade viva e vibrante, para um em que víamos o mundo como uma Máquina. Descartes e Newton solidificaram este conceito ao usar a Ciência e a Matemática para descrever um mundo não vivo de objectos inanimados. Fizeram alguns cálculos muito bonitos e aumentaram a nossa compreensão dos sistemas não vivos. Descartes via o mundo como uma máquina, como um relógio. O problema é que ele e os outros primeiros cientistas aplicavam o modelo de um relógio aos sistemas vivos. A ideia era que se compreendêssemos as partes, os diferentes componentes do sistema, compreenderíamos como o sistema inteiro funciona. Isto pode ser verdade para um relógio, mas o problema é que nós não somos uma máquina."
Daniel Monti
Newton veio solidificar ainda mais esta ideia de que os cálculos matemáticos descreviam com precisão como a natureza funcionava. Tal como Decartes, via o mundo como uma máquina a operar num espaço tridimensional. A matéria era sólida, com pequenas partículas no seu núcleo, que se moviam de acordo com as leis da natureza, tais como a força da gravidade. A ligação que fez entre a queda de uma maçã e o movimento do planeta foi absolutamente revolucionário, ligação essa mediada por uma força, a gravidade.
Esta sua abordagem mecanicista foi aplicada a todas as ciências, e este é o mundo que nos ensinaram a acreditar até hoje.
E foi assim que aconteceu o divórcio entre a Ciência e a Religião.
Os cientistas que se seguiram, livres da repressão do dogma religioso, proclamaram que tudo o que não é visível e mensurável, não passa apenas de uma fantasia e ilusão, dizendo que somos apenas pequenas máquinas às voltas num universo mecânico governado por leis imutáveis.
Darwin e os seus seguidores declararam o triunfo do materialismo. Para eles não somos mais do que mutações aleatórias, portadores do ADN da implacável busca por mais, num universo sem significado.
Fomos separados da natureza viva que nos sustém!E isso deu à humanidade a desculpa perfeita para explorar todos os recursos naturais para o nosso próprio benefício egoísta e imediato, sem qualquer consideração pelos outros seres vivos, nem pelo futuro do planeta. E o planeta sofreu, e sofre. Despojado da sua pureza e com os seus recursos violados e esgotados, o nosso lar poluído começou a caminhar em direcção à extinção.
No início do séc XX, a influência do materialismo estava a ser posta em causa por cientistas como Albert Einstein, Niels Bohr, Werner Heisenberg, Erwin Schrodinger, e outros fundadores da teoria quântica, que disseram ao mundo:
Se estudarmos profundamente a matéria, esta desaparece e dissolve-se em energia insondável. Se seguirmos Galileu e o descrevermos matematicamente, afinal o universo não é nada material. O universo físico é essencialmente não-físico, e pode surgir de um Campo ainda mais subtil do que a energia, um Campo que se assemelha mais a informação, inteligência ou consciência do que a matéria.
"Escreve-se filosofia neste grande livro - o universo - continuamente aberto, para nosso maravilhamento. Mas não se pode compreender o livro a menos que primeiro se aprenda a compreender a linguagem e a interpretar os caracteres em que é escrito. Está escrito na linguagem da matemática, e os seus caracteres são triângulos, círculos e outras figuras geométricas. Sem estes, apenas deambulamos num labirinto escuro."
Galileu Galilei
Nos dias de hoje, a moeda continua dividida, com a religião de um lado e a ciência do outro.
Porquê?
Não porque a realidade esteja dividida, mas porque os seus adeptos são pessoas.
Pessoas que não fazem perguntas, que não questionam.
Porque a resposta que irão obter poderá não ser a que querem receber.
E se a mente e a matéria não estiverem divididas?
E se nós formos feedbacks observáveis entre os dois?
Estamos no sec XXI, no entanto a ciência convencional ainda se recusa a ver isto.
Quem se desviou da procura pela verdade?
Duas faces da mesma moeda.
Primeiro, desviou-se a Igreja...e agora, desviou-se o novo Clero com os seus dogmas científicos, os cientistas convencionais.
in, "Afinal, Que Sabemos Nós?"
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