domingo, 12 de abril de 2020

Páscoa






pai chão. 
sexta-feira. o dia em que, dizem, mataram o cristo. 
não sei se mataram. oiço-o, vivo, a pulsar por aí. 
vejo-o, sol, a romper e a aclarar as manhãs. 
sinto-o, presente, nos que se alinham com a substância divina.
homem.
gerado não criado e consubstancial ao pai.
milagre.
metáfora.
chão que pisamos, nós todos, por via da mãe.
o mistério da fé que permanece mistério 
apenas para os que não acreditam. 
não que o mataram, mas que nasceu, numa jerusalém do amor, 
o país sem fronteiras dos que abrem os braços aos outros.
a paixão da entrega, a confiança no bem, o reino que não terá fim, 
sempre que ressuscitarmos para a vida.
a paz esteja contigo.
a páscoa.

'pessah', em hebraico, 
que significa passagem e nós a caminho. 
passageiros sempre em trânsito, 
de um lado para o outro, 
de uma estação para a seguinte, 
de colo em colo, mão em mão, 
criando pontes, laços, afectos.

anunciamos a nossa morte, 
proclamamos a nossa ressurreição, 
guia-nos a consciência do nosso mistério ou,
 se assim não for, 
seguimos surdos e cegos, 
às apalpadelas no escuro.
sem pai e sem mãe 
e sem céu e sem chão.
crucificados.
e aquém, muito aquém, do amor. 


Inês de Barros Baptista





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