pai chão.
sexta-feira. o dia em que, dizem, mataram o cristo.
não sei se mataram. oiço-o, vivo, a pulsar por aí.
vejo-o, sol, a romper e a aclarar as manhãs.
sinto-o, presente, nos que se alinham com a substância divina.
homem.
gerado não criado e consubstancial ao pai.
milagre.
metáfora.
chão que pisamos, nós todos, por via da mãe.
o mistério da fé que permanece mistério
apenas para os que não acreditam.
não que o mataram, mas que nasceu, numa jerusalém do amor,
o país sem fronteiras dos que abrem os braços aos outros.
a paixão da entrega, a confiança no bem, o reino que não terá fim,
sempre que ressuscitarmos para a vida.
a paz esteja contigo.
a páscoa.
'pessah', em hebraico,
que significa passagem e nós a caminho.
passageiros sempre em trânsito,
de um lado para o outro,
de uma estação para a seguinte,
de colo em colo, mão em mão,
criando pontes, laços, afectos.
anunciamos a nossa morte,
proclamamos a nossa ressurreição,
guia-nos a consciência do nosso mistério ou,
se assim não for,
seguimos surdos e cegos,
às apalpadelas no escuro.
sem pai e sem mãe
e sem céu e sem chão.
crucificados.
e aquém, muito aquém, do amor.
Inês de Barros Baptista
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