que as portas se estão a fechar por trás de nós,
que já nenhum ruído de passos nos segue;
e temos medo de nos voltar,
de dar de frente com essa sombra que não sabíamos que nos perseguia,
como se ela não andasse sempre atrás de nós,
e não fosse a nossa mais fiel companheira.
Às vezes, em tudo o que nos rodeia,
encontramos essa impressão de que não sabermos onde estamos,
como se o caminho para aqui não tivesse sido o mesmo, desde sempre,
e tudo devesse ser-nos, pelo menos, familiar.
A solução é pegar no fim e metê-lo à boca,
como se fosse uma pastilha elástica,
derreter o sabor que o envolve, por amargo que seja,
e no fim pegar nesse resto que ficou
e, tal como se faz à pastilha elástica, deitá-lo fora.
Para que queremos nós o nosso próprio fim?
Já bastou tê-lo saboreado, derretido na boca,
sentido o seu amargo sabor.
Então, libertos do nosso fim,
veremos que as portas se voltarão a abrir,
que a gente continua a andar à nossa volta,
que a sombra já não nos mete medo,
e que se nos voltarmos teremos pela frente o rosto desejado,
o amor, a vida de que o fim nos queria ter privado.
Nuno Júdice
in, Fórmulas de uma luz inexplicável
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