quarta-feira, 4 de abril de 2018

Aviso à Navegação





Alto lá! 
Aviso à navegação! 
Eu não morri: 
Estou aqui 
na ilha sem nome, 
sem latitude nem longitude, 
perdida nos mapas, 
perdida no mar Tenebroso!

Sim, eu, 
o perigo para a navegação! 
o dos saques e das abordagens, 
o capitão da fragata 
cem vezes torpedeada, 
cem vezes afundada, 
mas sempre ressuscitada!

Eu que aportei 
com os porões inundados, 
as torres desmoronadas, 
os mastros e os lemes quebrados 
- mas aportei!

Aviso à navegação: 
Não espereis de mim a paz!

Que quanto mais me afundo 
maior é a minha ânsia de salvar-me! 
Que quanto mais um golpe me decepa 
maior é a minha força de lutar!

Não espereis de mim a paz!

Que na guerra 
só conheço dois destinos: 
ou vencer – ai dos vencidos! – 
ou morrer sob os escombros 
da luta que alevantei!

- (Foi jeito que me ficou 
não me sei desinteressar 
do jogo que me jogar.)

Não espereis de mim a paz, 
aviso à navegação!

Não espereis de mim a paz 
que vos não sei perdoar!


Joaquim Namorado
in, 'Antologia Poética'







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