segunda-feira, 16 de setembro de 2024

De que é que Depende a Felicidade?


Darwis Alwan




Ser feliz.
De vez em quando, discretamente, pudicamente, ergue-se em ti ainda esta velha aspiração. 
Mas já não são horas de o seres, seriam só de o teres sido.

De que é que depende a felicidade?
O que falhou avulta quando enfrentamos a pergunta. 
Mas só se não tivéssemos falhado saberíamos se foi isso que falhou. 
Sei o que falhou mas não sei se o que falhou foi isso.

A felicidade ou infelicidade têm a sua escala de grandeza.
Tenho os meus motivos grandes mas os pequenos absorvem-nos.
Problemas do destino, da verdade, do absoluto que desse a pacificação interior. Mas eles apagam-se ou esquecem com uma simples dor de dentes. 
Assim eles me avultam apenas quando essa dor se apazigua.

Que dores menores me pontuaram a vida toda?
Do balanço geral há o que somos para os outros e o que somos para nós.

Ser feliz. 
Possivelmente o problema está num dente cariado. Sei o que falhou.
Não sei o que falharia ainda, se o mais não tivesse falhado.

Que falsificação de nós inventamos para os outros que no-la inventaram?
Ter grandeza no que se sofre para ao menos nos admirarem o sofrimento.

O que sofri entremeado ao público sofrimento não tem grandeza nenhuma. 
Precisava bem de saber se a minha verdade definitiva não está aí. 
Ou ao menos a condição de tudo o mais.

Para me negar radicalmente na obscuridade de mim.
Para saber definitivamente o que vou entregar à morte.
Porque pode ser só aquilo de que a morte tomará posse, sem restar nada de que tomem posse os outros.


Vergílio Ferreira
in, Conta-Corrente 4


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