sexta-feira, 27 de novembro de 2015
............................a propósito do novo governo
Desengane-se, não vou falar de política. Prometi a mim mesma não o fazer no espaço público pelas razões óbvias.
Vou falar de racismo, xenofobia e preconceito. Em Portugal. Sim, em Portugal.
Em 1967, em Angola, só houve dois casamentos mistos. Um deles foi o dos meus pais.
Em 1974, quando regressei a Portugal com a família enfrentei na escola primária pública inúmeros insultos por ser “retornada” e que “devia ir para a minha terra”.
Mais tarde, muitas vezes, de uma maneira subtil e mesquinha, era olhada de forma diferente. Claro que não vou, nem quero, generalizar. Havia muita gente para quem isso não era assunto, mas para outros tantos era.
Desculpem mas para muita gente ainda é.
Ainda é!
Comecei por falar de mim apenas por um motivo: Quem sente na pele sabe melhor do que fala.
Vem isto a propósito do novo governo.
Diz a comunicação social, diz-se nas redes sociais, que o novo executivo tem a primeira mulher negra no governo, que tem 4 mulheres e ainda uma deficiente.
Uauuuu! Parabéns! É pena é ser notícia, não é?
A mulher negra de quem se fala é inteligente, competente e experiente, era disso que devíamos estar a falar e não da raça e do género.
Quanto às mulheres, são quatro, discute-se se é pouco, se é muito… Alguém discute a qualidade e competência? Não! A realidade é que ainda temos de discutir o género, portanto não me venham falar em igualdade.
E ainda uma última novidade: uma secretária de estado com deficiência, a primeira. Só agora?! A deficiência define-a como pessoa? Ou não deveríamos estar a discutir se é eficiente, competente, experiente? Qualidades que se exigem a um governante.
Isto para não falar nas inúmeras referências diretas ou indiretas subtis e muitas vezes insultuosas à ascendência do primeiro-ministro.
Sim, há racismo, há xenofobia, há preconceito e há machismo em Portugal. E não é tão pouco como se diz.
É preciso senti-lo na pele para perceber a dimensão do fenómeno.
Alberta Marques Fernandes
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