domingo, 9 de fevereiro de 2014
Três problemas (e soluções) para educar em 2014
“As crianças de hoje estão expostas na alma, exigidas demais intelectualmente e super protegidas fisicamente”.
Ouvi essa frase da educadora Waldorf Luiza Lameirão em uma palestra e não me saiu da cabeça o que ela disse.
De fato.
Vamos por partes:
Problema 1 – “As crianças estão expostas em sua alma”:
Por conta da solidão, de muitas vezes estarmos sozinhos com eles ou nos sentirmos assim na cidade grande, as crianças acabam servindo de confidentes dos adultos. Acessam histórias sobre nossos relacionamentos, finanças ou sobre o mundo cão que não conseguem digerir ou entender como solucionar. Vêem programas de TV inadequados e que são incapazes de compreender. E com isso ficam estressadas, ansiosas, tristes, doentes.
Solução: Essa é fácil. Tá triste? Liga pra amiga, pra mãe, vai pro parque andar na grama. Mas faça de tudo pra não usar seu filho como apoio. Durante a infância, é ele quem precisa de você. Aliás, uma maneira de se alegrar é sair com ele pra brincar e esquecer seus problemas ao se envolver na alegria que naturalmente as crianças têm.
Problema 2 – “As crianças são exigidas demais intelectualmente”:
Não tem nenhum pedagogo, psicólogo ou qualquer ser humano de bom senso hoje que não concorde que as crianças estão aprendendo a viver como adultas cedo demais, indo pra escola cedo demais, aprendendo inglês, mandarim e alemão cedo demais. Enquanto ainda deveriam estar envolvidas apenas em amor, em um lar, em fantasia e brincadeiras, são obrigadas a sentar em uma sala de aula e aprender qual é a raiz quadrada de 9. Até o governo obriga a isso. Outro dia ouvi uma professora de escola pública morrendo de dó de uma pequena e atormentada alma que, com apenas 4 anos, já estava no primeiro ano do ensino fundamental. “Ela simplesmente não tem capacidade de ficar sentada por 4 horas pensando. É um massacre”, me disse a moça.
Solução: Adie ao máximo o desenvolvimento do intelecto. Seu filho vai se dar melhor no mercado de trabalho se ele puder, até ao menos os 6, 7 anos, se entregar à fantasia, às brincadeiras, ao seu colo e ao ócio que é tão bom para a infância. Não precisa aprender a usar o computador com 5, ele vai ter a vida toda pra isso. Se você deixar a escola pros 7 anos, que sorte ele vai ter em ganhar um ano a mais para o desenvolvimento que só se dá quando brinca. E, se ele já estiver ativando seu intelecto com essa idade, a brincadeira perde a qualidade, a fantasia vai perdendo espaço. E isso não tem volta lá na frente. Crianças que brincaram muito serão mais criativas e resolvidas na fase adulta.
Problema 3: “As crianças estão superprotegidas fisicamente”:
É remédio demais, é vacina demais, é blusa demais. Não pode subir em árvore porque cai, não pode tomar banho de chuva porque pega pneumonia, não pode sair sem blusa porque pega virose, não caminha nem até a padaria porque o pai prefere levar de carro. Na escola, tem que ter câmera online para que os pais saibam exatamente o que o filho fez e se a professora deu a comida na boquinha na hora certa. Nessa mesma reunião de professoras, ouvi muitas delas reclamando que, mal fazia um ventinho e já tinha mãe ligando pra que a tia da escola vestisse o casaquinho no pequeno. Ou seja, assim matamos a capacidade de a criança sentir por si só e aprender o que é frio e calor, o que é chuva na cabeça, e tiramos de seu organismo a capacidade de se adaptar. Não suportamos a possibilidade de que ele pegue uma gripe nem catapora.
Solução: Deixe seu filho tomar uma chuvinha de vez em quando. Dê a ele a possibilidade de sentir frio e, quando perceber o que é, volte pra casa e peça um casaco. Mas que ele faça isso por si só ou você vai ter que passar a vida falando: filho, levou blusa? Porque ele mesmo não vai saber quando ela é necessária. Leve seu filho pra andar todo os dias. “O ideal seria que as crianças caminhassem ao menos 1 hora diariamente. Essa seria uma solução para uma série de problemas afetivos que as crianças têm hoje. Elas não se cansam fisicamente, não tiram do seu corpo tudo o que ele pode dar e a energia fica toda na cabeça”, diz Luiza Lameirão.
É isso. Se dá pra fazer tudo isso sempre? Talvez sim, pode ser. Mas tentar já é um bom começo. Bom final de semana!
Fabi Corrêa
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