digo: guardei cuidadosamente
o presente em tons de passado,
sem jamais ousar aguardar nada
desse futuro que cultivava
igonoto e desabitado da virtude
que Péguy declarou a mais pequena
calcorreava as sendas
criadas pelos instantes de um
quotidiano delineado cuidadosamente
nos extremos da onda que mede a
dimensão corpuscular da luz,
distante das matizes que pintaram a minha infância
eu, militante da razão cega,
que sempre quis de tudo conhecer a justificação,
tinha ouvido incréu os relatos de quem
declarava ter conhecido alguém capaz
de redimensionar a luz
para além das teorias da física
e tu desconstruíste o tempo
deste-me a beber a esperança
e recordaste-me que nem tudo é
definido pela luz e pela sua ausência
tu que a sabias tornar tangível,
telúrica intemporal
e eis que em toda amplitude
de um simples abraço dado com
uns olhos cor de avelã
me retorquiste que
coisas há que devemos aceitar
sem lhes questionar o porquê
qual ave trituraste com a tua boca
as certezas
a razão
e o tempo
depositando na minha ávida de um sentido
pequenos pedaços de ternura
Rui Amaral Mendes
in, A Noite e Sangue
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