segunda-feira, 14 de outubro de 2024

O Quarto Vazio


Blenze






Era um dos teus jogos preferidos. 
O que é que há num quarto vazio?, 
perguntavas. Ficávamos em silêncio. 

O que é que há num quarto vazio? 

Os que não conheciam o jogo 
talvez dissessem: Nada, e tu dizias: Não. 
Nada é nada, eu disse o que é que. 

Até que alguém dizia, por exemplo: Silêncio. 
E tu dizias: Sim. 
E outro dizia: Pó. 
E o jogo começava a ganhar asas. 

Umas pegadas no chão. 
Um fantasma. Uma tomada. O buraco 
de um prego. A penumbra. 
O quadrado que a ausência de um quadro 
deixa na parede. Um fio. 
Uma carta no chão. 
A marca de uma mão na parede. 
Um raio de sol que entra pela janela. 
Uma teia de aranha. Um pedaço 
de papel. Uma unha. Uma formiga perdida. 
A música que vem da rua 
(haverá música sem alguém que a escute?). 
Uma mancha de fumo ou humidade. 
Gatafunhos ou pássaros ou nomes 
ou um desenho da Laura na parede. 

Tu ias dizendo sim ou não. 
Tu sabias. Eras o inventor do jogo. 
Tu já sabias, Carlos, o que há 
no quarto vazio onde acabas de entrar. 

Era um dos teus jogos preferidos.
- ⁠O que há num quarto vazio?
- ⁠Um fantasma.
- ⁠Já disseram.
- ⁠Sim, mas este de que falo é outro.


Juan Vicente Piqueras




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