Era um dos teus jogos preferidos.
O que é que há num quarto vazio?,
perguntavas. Ficávamos em silêncio.
O que é que há num quarto vazio?
Os que não conheciam o jogo
talvez dissessem: Nada, e tu dizias: Não.
Nada é nada, eu disse o que é que.
Até que alguém dizia, por exemplo: Silêncio.
E tu dizias: Sim.
E outro dizia: Pó.
E o jogo começava a ganhar asas.
Umas pegadas no chão.
Um fantasma. Uma tomada. O buraco
de um prego. A penumbra.
O quadrado que a ausência de um quadro
deixa na parede. Um fio.
Uma carta no chão.
A marca de uma mão na parede.
Um raio de sol que entra pela janela.
Uma teia de aranha. Um pedaço
de papel. Uma unha. Uma formiga perdida.
A música que vem da rua
(haverá música sem alguém que a escute?).
Uma mancha de fumo ou humidade.
Gatafunhos ou pássaros ou nomes
ou um desenho da Laura na parede.
Tu ias dizendo sim ou não.
Tu sabias. Eras o inventor do jogo.
Tu já sabias, Carlos, o que há
no quarto vazio onde acabas de entrar.
Era um dos teus jogos preferidos.
- O que há num quarto vazio?
- Um fantasma.
- Já disseram.
- Sim, mas este de que falo é outro.
Juan Vicente Piqueras
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