sábado, 6 de abril de 2024

O Dilema do Ouriço








O Dilema do Ouriço é uma parábola escrita em 1851 por Arthur Schopenhauer, na obra "Parerga e Paralipomena":


“Em um dia frio de inverno, uma manada de porcos-espinhos se reuniu em um grupo compacto para se proteger contra a geada por seu próprio calor. Mas imediatamente eles sentiram os ataques de suas penas, o que os fez se afastar um do outro. Quando o desejo de aquecer os aproximou novamente, o mesmo inconveniente voltou, de modo que foram jogados de um lado para outro entre os dois males até que finalmente encontraram uma distância média que pudessem usar, tornando a situação suportável. Assim, a necessidade de sociedade, nascida do vazio e da monotonia de sua vida interior, empurra as pessoas umas para as outras; mas suas muitas maneiras de ser hostis e suas falhas insuportáveis ​​os espalham novamente. A distância média que acabam descobrindo e pela qual a convivência se torna possível é a polidez e os bons modos. Na Inglaterra, gritamos para quem não está a esta distância: Mantenha distância! Assim, a necessidade de se aquecer é, na verdade, apenas meio satisfeita, mas, por outro lado, não se sente a ferida das penas. No entanto, quem tem calor interno suficiente prefere ficar fora da sociedade para não experimentar ou causar transtornos. " 


Schopenhauer, então, aplica o dilema à sociedade: 

O ser humano como animal político, segundo ele, é pré-programado para se unir a outros humanos e preencher a sua existência monótona; porém, conforme se aproxima, percebe que humanos possuem características, vícios e falhas repulsivas, e deles se afasta. Assim, o ciclo de aproximação e afastamento se repete. A “solução” encontrada para o problema, a dita “distância ideal” para convivência e tolerância entre as pessoas segundo o autor, seria a educação e os bons modos. Todo aquele que for incapaz de seguir esse protocolo deve se manter distante. A concessão que se faz aqui, infelizmente, não resolve totalmente o problema; a dor dos “espinhos” não é tão intensa, mas o “inverno”, o vazio existencial, também não é totalmente bloqueado. Além disso, e é aqui que Schopenhauer larga uma bomba, o mecanismo desse problema efetivamente força qualquer pessoa que tenha uma quantidade alta de “calor humano” a buscar isolamento da sociedade. Claro, afinal de contas esta pessoa terá muito mais oportunidades de causar ou sentir dor. .


A ideia que esta parábola quer transmitir é que assim como os ouriços necessitam dessa relação corporal para sua sobrevivência, os seres humanos também necessitam de relações sociais. Assim, ao transferirmos esta ideia para relações entre dois seres humanos, quanto mais próxima for a relação, mais provável será que possam causar dano um ao outro, ao mesmo tempo em que quanto mais distante for sua relação, tão mais provável será que "morram" de solidão. Deste modo, nós, os seres humanos, precisamos encontrar a distancia "perfeita" em nossas relações sociais, mas uma distancia figurativa, que representa nosso nível de amizade e intimidade com as pessoas ao nosso redor, não podendo nos isolar, nos tornando amigos da solidão, que por muitas vezes vem acompanhada com um sentimento de vazio, tristeza, e até depressão, mas sem nos aproximarmos muito, causando e sofrendo dor, seja por uma relacionamento que aconteceu muito rápido, se machucando gradualmente em um relacionamento sem perceber ou sem se importar pelo medo do frio ou necessidade de se esquentar, ou por vezes, acabar descobrindo ou demonstrando características que ainda não deviam ser expostas que de algum modo possam machucar ou acabar se machucando.


Nesse contexto, existem pessoas com "baixo calor corporal" (grande necessidade de relacionamento social) que precisam se aproximar muito de outros seres humanos, que resultam em não conhecer o "frio" (solidão), por baixa tolerância de solidão, mas acabam por conhecer muito "espinhos" (dores causadas por relações sociais). Por outro lado, pessoas com "grande calor corporal" (baixa necessidade de relacionamento social), acabam por conhecer muito bem a solidão, por terem grande tolerância a mesma, mas acabam passando muito "frio" (solidão), mas acabam não se ferindo muito com espinhos. A concessão que se faz aqui, infelizmente, não resolve totalmente o problema, todos precisamos achar nosso distanciamento ideal, para não cairmos na solidão, e nem nos machucarmos demais com espinhos, mas não conseguiremos deixar de sentir o frio nem os espinhos, é necessário achar o distanciamento em que ambos sejam suportáveis.


“Todavia, aqueles que possuírem calor interno em excesso vão preferir abster-se da sociedade para evitar receber — ou causar — transtornos ou inconveniências.” 

— Arthur Schopenhauer, “Parerga e Paralipomena”


Sigmund Freud cita a parábola de Schopenhauer em uma nota de pé de página de seu ensaio Psicologia das Massas e a Análise do Eu:

"Consideremos o modo em que os seres humanos em geral se comportam afetivamente entre si. Segundo a famosa comparação de Schopenhauer sobre os ouriços que se congelavam, nenhum suporta uma aproximação demasiado íntima dos outros."



Luis Cernuda se refere à parabola nas palavras iniciais de"Donde habite el olvido":

"Como os ouriços, já sabeis, os homens um dia sentiram seu frio. E quiseram compartilhá-lo. Então inventaram o amor. O resultado foi, já sabeis, como nos ouriços."



"A escrava Agar, quando Abrãao a expulsou da casa juntamente com Ismael, filho de ambos, partiu para o deserto com o coração destroçado. Um dia, quando morreu, o seu coração saiu do corpo: estava transformado num ouriço-cacheiro. Um coração cheio de espinhos para que ninguém o pudesse tocar. Ainda hoje, os nómadas do deserto de Neguev, descendentes de Ismael, acreditam que os ouriços-cacheiros nascem quando alguém sofre um desgosto de amor eterno." 

 Afonso Cruz, Enciclopédia da Estória Universal - Recolha de Alexandria




“Por mais que o ouriço queira se aproximar de outro ouriço, quanto mais se aproxima, mais os dois se machucam com seus espinhos. O mesmo vale para humanos. A razão pela qual ele [Shinji Ikari] parece tão retraído vem do medo de se machucar.”

— Ritsuko Akagi, “Neon Genesis Evangelion”


A existência humana é solitária por padrão. Somente com outros por perto podemos obter propósito, satisfação, e até mesmo um escape. Isso é o básico. 

A ideia de que os ouriços precisam, agora, aprender o distanciamento num nível presencial e num nível online é assustadora. Não à toa cria-se uma necessidade de autoinsulação, de medos e ansiedades relacionados à expressão. O único jeito de sobreviver aparenta ser, em alguns dados momentos, simplesmente não se expressar de forma alguma… Ou de romper com os padrões de “educação e bons modos” propostos por Schopenhauer, já que a dor parece ser inevitável e infindável demais para nos importarmos.

Quão perto é perto demais? 
Relacionamentos são igualmente divididos em atenção, carinho e respeito versus concessões, tolerância e espaço. Mesmo as pessoas mais compatíveis, quando tomadas por si só, podem ter relacionamentos catastróficos se as concessões que cada um se propõe a fazer não são compatíveis. 

Então, como saber qual é a distância certa?

O distanciamento nos livra dos ruídos e gatilhos causados em alguns de nós pelo convívio social, e nos permite introspecção e reflexão livre de interferências. Especialmente introvertidos com ansiedade social.
Mas, é importante perceber o quanto é importante sociabilizar, polarizar com os outros, porque só assim existe fricção, que traz evolução e crescimento.

A ideia que esta parábola quer transmitir é que quanto mais próxima for a relação entre dois seres, mais provável será que possam causar dano um ao outro, ao mesmo tempo em que quanto mais distante for sua relação, tão mais provável será que morram de frio.


Em nossas vidas, muitas vezes nos tornamos ouriços emocionais, criando barreiras ao redor de nós para nos proteger do possível sofrimento. Assim como os ouriços que buscam calor uns nos outros, buscamos conexões e relacionamentos, mas as espinhas do medo, da desconfiança e da experiência passada nos afastam.

O paradoxo reside no fato de que, embora ansiemos por proximidade e intimidade, muitas vezes nos esquivamos, mantendo uma distância segura para evitar as feridas emocionais. É um dilema universal: como podemos equilibrar a necessidade de proximidade com o instinto de auto-preservação?

Assim como os ouriços, precisamos aprender a baixar nossas defesas gradualmente, reconhecendo que a vulnerabilidade é a chave para relacionamentos mais significativos. O processo de se abrir para os outros pode ser assustador, mas também é a única maneira de experimentar a plenitude das conexões humanas.

Aprender com os espinhos do passado é crucial. Em vez de nos fecharmos completamente, podemos escolher ser seletivos em relação a quem permitimos entrar em nossas vidas. Ao cultivar relacionamentos baseados na confiança e no respeito mútuo, podemos encontrar o equilíbrio delicado entre a auto-preservação e a intimidade.

Assim como os ouriços descobrem que, ao se agruparem, podem compartilhar calor sem se ferir, podemos superar o dilema emocional ao construir relacionamentos saudáveis e solidários. Cada encontro, mesmo que pontuado por desafios, pode nos ensinar a ser mais resilientes, compreensivos e amorosos.

Portanto, quebremos as barreiras, abandonemos os medos e abracemos a beleza da conexão humana. Da mesma forma como os ouriços podem aprender a conviver, nós também podemos transcender o dilema, transformando-o em uma jornada de crescimento, aprendizado e, acima de tudo, amor.
  
  
 CARLA MIKULSKI 





Quando nossos medos se transformam em espinhos?

As relações humanas são tão complicadas. Há quem precise de carinho, mas ao mesmo tempo tenha medo de traições e decepções. Por isso, escolhe viver sozinha. São como ouriços com as costas cheias de espinhos, desejam acolhimento, mas afugentam quem pode oferecê-lo.

Amar é maravilhoso, mas para muitos também é uma experiência cheia de medo. Medo do abandono. Medo de traição. Medo de se sentir vulnerável, de se abrir emocionalmente para alguém e depois fracassar. Sabemos que as relações exigem correr riscos, mas a verdade é que há quem veja mais ameaças e territórios minados do que benefícios.

Muitas dessas maneiras de entender relacionamentos ou amizades são orquestradas por uma personalidade ansiosa-evitante. São homens e mulheres que na verdade desejam uma interação social, bem como amar e serem amados. No entanto, eles temem colocar seu bem-estar nas mãos de outros, o que explica por que se refugiam na solidão e preferem ambientes onde tudo esteja sob seu controle.

São seres nos quais parecem crescer espinhos invisíveis em suas costas. Com seu comportamento e atitude, eles afastam qualquer um que deseje se aproximar deles. Machucam com suas reações, muitas vezes soturnas e outras dominadas por uma timidez corrosiva. Podemos pensar que eles são um tanto anti-sociais e que seu comportamento lembra um pouco a síndrome de Hikikomori.

No entanto, há uma imagem que explica muito bem esse perfil de personalidade e é a dos dois ouriços. É uma metáfora que Arthur Schopenhauer enunciou em sua obra Parerga e paralipomena (1851):

"A conexão humana é uma necessidade básica no ser humano, mas às vezes nossos medos e ansiedades prejudicam a nós mesmos e aos outros."

Nossos medos e mecanismos de defesa nos impedem de alcançar relacionamentos íntimos satisfatórios.

Schopenhauer delineou com esse dilema uma realidade não menos espinhosa. O ser humano precisa de solidão e amor ao mesmo tempo. Quando nos reunimos, surgem as características e dimensões mais desconfortáveis, aquelas que nos impedem, por exemplo, de viver em casal. Então nos distanciamos, e nessa distância mais uma vez aparecem o frio e o abismo do vazio.

Os pequenos porcos-espinhos têm que lidar, por um lado, com os efeitos perigosos do inverno rigoroso e, por outro, com a dor dos espinhos dos outros ao tentar viver perto uns dos outros. As pessoas também são frequentemente confrontadas com a metáfora do ouriço.

A solidão é letal, mas às vezes, vivendo com alguém, também nos machucamos. 
O que fazer então? 
Algumas pessoas escolhem a primeira opção. 
Recordemos os exemplos dados no início. Pessoas com síndrome de Hikikomori demonstram esse fenômeno psicopatológico e sociológico marcante em que se isolam em seus quartos por meses, evitando todas as obrigações sociais.

O transtorno de personalidade esquiva, por exemplo, também mostra, segundo um estudo realizado na Universidade de Newcastle, esse medo de interação social e rejeição. 

Schopenhauer chega a dizer em certo momento do livro Parerga e paralipomena (1851) que há quem tenha muito calor interno e que, por isso, prefira se afastar da sociedade para evitar dar ou receber desconforto.

Não se engane, porque essa ideia não é verdadeira. 
O ser humano precisa de intimidade e conexão social para sobreviver, para garantir o bem-estar psicológico adequado. O isolamento nos adoece, a solidão causa mortes prematuras. A chave seria estabelecer uma proximidade ideal.

Diz-se que Sigmund Freud manteve a figura de um porco-espinho em sua mesa por causa de seu fascínio pela parábola de Schopenhauer sobre o dilema dos ouriços.

Em nossa tentativa de alcançar uma conexão íntima com alguém, podemos desencadear processos realmente complicados. Às vezes, quanto mais nos aproximamos, mais fazemos o outro fugir. Às vezes, a vulnerabilidade ou o eterno medo de ser ferido também nos fazem afastar quem mais amamos.

Deixemos claro que quanto mais temerosos ficamos, mais paliçadas e autodefesas erguemos. Nossos espinhos saem e acabamos nos machucando mutuamente. Fazemos isso para proteger esse eu aterrorizado que, mesmo temendo a solidão, também não sabe se deixar amar. 
O que fazer então?

Há algo que devemos saber. 
A metáfora do ouriço não é inteiramente verdadeira. 
É muito eficaz como parábola e como exercício de reflexão. Mas, na realidade, os ouriços não espetam a menos que se sintam ameaçados. Seus espinhos são como pêlos grossos que só ficam tensos quando se sentem zangados ou ameaçados.

A chave está na confiança, no estabelecimento de uma distância ideal entre a liberdade pessoal e a intimidade afetiva. Somente quando desligarmos nossos medos e entendermos que amar sem reservas implica confiança, alcançaremos a felicidade. De alguma forma, não nos servirá de nada buscar a proximidade dos outros se não conseguirmos primeiro, como os ouriços, apaziguar nossas partes afiadas.


Valeria Sabater







As necessidades sociais, a solidão e a monotonia impulsionam os “homens porcos-espinho” a se reunirem, apenas para se repelirem devido às inúmeras características espinhosas e desagradáveis de suas naturezas. A distância moderada que os homens finalmente descobrem é a condição necessária para que a convivência seja tolerada; é o código de cortesia e boas maneiras. Aqueles que transgridem esse código são duramente advertidos, como se diz na Inglaterra: keep your distance! Com esse arranjo, a necessidade mútua de calor é apenas parcialmente satisfeita, mas pelo menos não se machucam.

Ser totalmente sem filtros, ter uma proximidade muito grande, trazer os outros para seu intimo sem reservas só vai trazer muita dor. 
Em contrapartida, se isolar completamente leva à solidão, depressão e falta de sentido real de vida. 

Precisamos encontrar uma distância que não permita a manipulação e as relações de uso, mas também alimente uma interação social fértil, verdadeira e sadia. 

É importante dizer que, saber qual é esta distância e definir os meios de consegui-la são totalmente individuais e não vão ser aceitas e nem compreendidas pelos outros. 
  
 
Arthur Schopenhauer e Sigmund Freud exploraram esse paradoxo para descrever suas reflexões sobre o estado de um indivíduo em seu relacionamento com os outros. O dilema do porco-espinho sugere que, apesar da boa vontade, a intimidade não pode existir sem danos mútuos significativos, resultando em comportamento cauteloso e relacionamentos fracos. Com o dilema do ouriço, recomenda-se exercer moderação no trato com os outros, tanto pelo próprio bem quanto por consideração ao outro. O dilema do porco-espinho é usado para justificar ou explicar a introversão e o isolacionismo .
  
  
O conceito atraiu a atenção da psicologia contemporânea. Jon Maner e seus colegas (Nathan DeWall, Roy Baumeister e Mark Schaller) se referiram ao "problema do ouriço" de Schopenhauer ao estudar os resultados de experimentos que mostram como as pessoas respondem ao ostracismo. 
Seus resultados mostraram que a experiência da rejeição em pessoas cronicamente ansiosas pode fazer com que elas se tornem relativamente antissociais. Por outro lado, pessoas com um temperamento mais otimista, a experiência da rejeição irá resultar no aumento de seus esforços para se aproximar dos demais.

Portanto, eles concluíram:

“É necessário relembrar este último ponto quando consideramos a resposta dada pelo próprio Schopenhauer ao problema do ouriço. Schopenhauer sugeriu que as pessoas, em última análise, se sentem pressionadas a manter uma distância segura umas das outras. “Por isso”, escreve ele, “a necessidade de se aquecer é, na verdade, apenas meio satisfeita, mas, por outro lado, não se sente a ferida das penas” (1851/1964, p.  226 ) . 
Claro, Schopenhauer era conhecido por seu caráter azedo.
"É difícil encontrar em sua vida qualquer evidência de outras virtudes além da bondade para com os animais ... Em todos os outros aspectos, ele era completamente egoísta" (Russell, 1945, p.  758 ) - e sua filosofia era conhecida por seu pessimismo. " 
  
  





  
Sendo assim, com o dilema do porco espinho aprendemos as seguintes lições:

1. Nem sempre podemos escolher com quem convivemos
Essa lição diz respeito em especial ao ambiente de trabalho. Pois, dependemos do emprego para nossas necessidades básicas. Por isso, nem sempre trabalhamos com as pessoas que gostamos. Afinal, o ambiente pode ser competitivo e muito tóxico.

Ademais, o mesmo se aplica à família. Isso porque, os conflitos machucam. Por isso, muitas pessoas evitam a convivência com algum familiar. Não é à toa que muitos filhos saem da casa de seus pais. Porém, enquanto não há maneiras de sobreviver sozinho, a convivência precisa continuar.

2. Todos nós temos defeitos
Quando se trata dos defeitos, é muito comum olharmos somente para o outro. Ou seja, acusamos suas manias, ideias e atitudes. Então, é até normal culparmos os outros pelas nossas feridas e cicatrizes. Assim, reconhecemos que as pessoas são tóxicas conosco. Como resultado, saímos feridos e traumatizados.

Mas, quantas vezes olhamos para dentro de nós mesmos? Isso porque nosso ego só nos faz enxergar nossas qualidades. Assim, temos dificuldade de enxergar que causamos os mesmos sofrimentos às outras pessoas. Já parou para pensar nisso?

3. Precisamos desenvolver a tolerância
Desse modo, é essencial desenvolver a tolerância. Pois, ao levarmos tudo a “ferro e fogo”, estamos sempre estressados. Assim, a tolerância ao outro faz com que temos uma vida mais leve. Mas, tolerância não significa aceitar tudo.

Na verdade, podemos até discordar das ideias e atitudes do outro. Mas com a tolerância aprendemos a lidar com as diferenças. Ainda mais com uma sociedade tão diversificada e plural na qual vivemos.

4. Temos que medir uma distância segura do que nos machuca
Assim, com o dilema do porco espinho aprendemos a medir uma distância segura daquilo que nos machuca. Por isso, voltamos para as relações familiares. Assim, o melhor é buscar um lugar para viver longe dos pais. Desse modo, a relação de vocês pode melhorar.
  
  
  
  
 Leandro Karnal é um historiador e professor brasileiro. Sendo assim, seus estudos levam em conta questões filosóficas sobre a vida e a sociedade. Nesse sentido, no livro “O dilema do porco espinho: como encarar a solidão”, publicado em 2018, o autor reflete sobre vários aspectos da solidão.

Desse modo, Karnal percorre diversas épocas da humanidade para questionar o quanto o convívio é mesmo garantia de sobrevivência. Isso porque, mesmo cercados por milhões de pessoas, nos sentimos sozinhos. Em especial, nas grandes cidades, em que cada um vive a sua vida de maneira isolada.

Ou seja, mesmo cruzando com nossos vizinhos, não podemos contar com eles. Como é o caso dos idosos, que não sobrevivem mesmo quando estão próximos de outras pessoas. Ademais, quando não temos uma relação orgânica com o nosso(a) parceiro(a).

Assim, podemos estar próximos, de modo físico. Mas, as emoções e sentimentos podem estar a milhões de quilômetros de distância um do outro. Logo, nosso emocional fica machucado e nossa vida infeliz. 
Ele adota o termo solitude, que diz respeito à ideia de desenvolvimento somente quando estamos sós. Desse modo, ao não ter a presença de outras pessoas, olhamos para dentro de nós.

Então, temos acesso ao nosso interior. Assim, ouvimos os nossos pensamentos sem deixar ser influenciados pelas vozes de outros. Logo, despertamos o autoconhecimento, nossos reais desejos e limites.

Contudo, o medo da solidão faz com que tenhamos medo de encararmos quem realmente somos. 
Nesse sentido, Karnal, nos questiona:

“se o inferno está nos outros, o medo da solidão seria a opção para evitar o pior de todos os sofrimentos, nós mesmos?”  
   

  Alguma vez você conheceu alguém com quem, inicialmente, pensava que teria uma relação maravilhosa, mas, no entanto, uma reação própria ou, posteriormente, alguma ação da pessoa desencadeou uma profunda decepção?
Então, esse acontecimento poderia ser um exemplo claro do dilema do porco-espinho. 

Outro exemplo poderia ser viver feito de relações simbióticas, nas quais o interesse pela outra pessoa pudesse anular completamente suas necessidades ou individualidade.

Tudo isso acontece simplesmente porque em nosso dia a dia ficamos oscilando entre duas necessidades fundamentais: ter vínculos com os demais e, ao mesmo tempo, manter a nossa própria singularidade.
  
  Posteriormente, Schopenhauer tratou de averiguar qual deveria ser a distância correta para poder manter uma relação através do famoso exemplo dos porcos-espinhos. De acordo com Schopenhauer, se o porco-espinho tivesse calor interno suficiente, não necessitaria se aproximar dos demais e evitaria a sociedade, da mesma forma que evitaria causar ou experimentar sequelas psicológicas derivadas da interação social.

Isso serve da mesma forma para o ser humano, já que, igual ao porco-espinho, sentimos a necessidade de encontrar a distância adequada para evitar machucar o outro devido aos "espinhos", que representam os limites e a particularidades de caráter do indivíduo.

Para Schopenhauer, portanto, as nossas imperfeições são as responsáveis por afastar uma pessoa da outra, ou seja, estamos nos afastando daquilo que é diferente de nós e que pensamos que poderia nos completar. Por este motivo, para superar o dilema do porco-espinho é fundamental encontrar o equilíbrio entre o pertencimento e a separação, dois aspectos que caracterizam nossa vida.
  
Desde o nosso nascimento experimentamos diferentes sensações de pertencimento. Em primeiro lugar, o pertencimento a nossa família e, posteriormente, o derivado de outros contextos de relacionamento, como o escolar, o do trabalho, as amizades e o amoroso. Por sua vez, também experimentamos a separação desses mesmos contextos de pertencimento.

Por exemplo, quando começamos a ir para a escola, nos separamos da nossa mãe, quando vamos morar sozinhos/as ou com um/a parceiro/a, nos separamos da nossa família, quando terminamos uma relação ou um trabalho, nos separamos do/a parceiro/a ou do ambiente profissional, entre outros casos.
 
  
  Como encontrar o equilíbrio entre pertencimento e       separação?
  
  1. Estar seguro/a de si mesmo/a: conhecer-se e sentir-se confortável consigo mesmo é o segredo para poder se aproximar do outro e amá-lo. Somente dessa maneira poderemos correr o risco de sermos encontrados e estarmos próximos de outra pessoa.
  2. Estabelecer os próprios limites: devemos ter clareza de quem somos além da outra pessoa. Construir nosso próprio sentido de identidade nos possibilitará definir nossas fronteiras interiores para que os outros possam se aproximar sem ultrapassá-las ou sufocar quem somos, o que sentimos e como tomamos nossas decisões.

  
  

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