Saiba como ajudar os outros
de maneira efetiva
com respeito, ordem e equilíbrio.
5 ORDENS DA AJUDA:
- Equilíbrio
- Limites e humildade
- Maturidade
- Olhar sistêmico
- Honra e respeito
Equilíbrio
A primeira das ordens de ajuda trabalha diretamente o equilíbrio na hora de dar. É preciso que se entregue apenas aquilo que carregamos por hora. Dessa forma, devemos pegar o suficiente e sempre entregar o que podemos.
Precisamos conhecer nossos limites e, ainda que tenhamos boas intenções, é preciso nos afastar.
Caso contrário, as seguintes atitudes podem ocorrer:
- Querer doar mais do que é possível dar
Como dito acima, a sua intenção pode ser muito nobre, mas há limite para tudo. Existem circunstâncias onde deixamos de fazer algo por nós para fazermos pelo outro. Mesmo que pareça egoísmo, devemos focar primeiramente em nós, reunirmos recursos e só então ajudarmos os outros.
- Criar expectativas não correspondidas
Ninguém é obrigado a atender as exigências que fazemos ou guardamos dentro de nós. Expectativas servem apenas para construir uma imagem idealizada que aproxima alguém da perfeição. Infelizmente, quando isso não é respeitado, a frustração se torna real.
Respeitando a primeira ordem da ajuda, só dou aquilo que eu tenho e tomo apenas o que necessito.
Se exijo de outro algo o que ele não tem para oferecer, isto causa uma desordem na relação, da mesma forma se quero dar algo que eu não tenho.
Em uma relação de ajuda equilibrada eu respeito os limites do dar e tomar, percebendo as responsabilidades e as possibilidades de cada um.
Tomar para si apenas o necessário e dar apenas aquilo que se tem. O equilíbrio é a chave tanto para quem doa quanto para quem recebe. Por isso, o caminho do meio nesta relação de assistência, não é ter nem demais e nem de menos.
Quando isso é ignorado surgem os seguintes desarranjos:
- Desejar doar aquilo que não possui.
- Desejar mais do que aquilo que necessita.
- Ter expectativas e fazer exigências que o outro não pode atender.
- Desatribuir a pessoa de responsabilidades que são apenas dela.
Estamos a falar de humildade para compreender os próprios limites e, inclusive, para recuar em determinados momentos quando o auxílio pode se configurar em algo danoso a si e ao outro. Esta ajuda humilde traz uma consciência maior sobre até onde podemos ir e nos empele a tomarmos decisões que mais adiante podem evitar conflitos entre ajudador e ajudado.
Limites e humildade
A segunda ordem da ajuda nos ensina que ao ajudar me submeto às circunstâncias externas e internas e somente interfiro e apoio à medida que elas me permitem. Simplificando, só ajudo a quem me permite.
Cada pessoa tem a sua própria história, valores, sonhos, enfim, a sua bagagem. Ao me dispor a ajudar outra pessoa, preciso respeitar toda a conjuntura da situação, entendendo que o destino e as escolhas do outro são distintos dos meus.
Preciso considerar isso, evitando assim impor as minhas vontades e necessidades à vida de outrem.
Saber compreender o contexto da situação é a chave para reconhecer seus próprios limites e também para ter a humildade de não avançá-los ainda que seu ego deseje isso. Ao reconhecer as circunstâncias e analisar com clareza suas possibilidades de ação, o ajudador, mesmo que discretamente, pode fazer o seu melhor apenas com os recursos que dispõe e nada mais.
Quando isso é ignorado surgem os seguintes desarranjos:
- Ignorar ou mesmo ocultar a natureza real das circunstâncias.
- Insistir em ajudar e acabar prejudicado tanto o auxiliado como a si.
Portanto, é preciso compreender quando é hora de agir ou de se retirar e, aceitar com humildade e sabedoria que a vida possui seus próprios desígnios.
Ir contra isso é uma grande perda de tempo.
A segunda das ordens da ajuda fala a respeito do poder de compreender o contexto de uma situação.
De acordo com ela, seu uso correto nos faz conhecer nossos limites e alimentar a humildade de não ultrapassá-los. Fazer uma análise do momento e entregar apenas aquilo que carrega, sem recorrer a recursos que não tem.
Fugindo disso, corremos o risco de esconder ou ignorar a realidade. Sem contar que a insistência prejudica não só o outro, mas a você também. Portanto, entenda o momento de agir e não fazer nada, sendo humilde nas suas próprias escolhas. Essa sabedoria não vai desperdiçar o seu tempo e energia.
Maturidade
A terceira Ordem da Ajuda, trata de colocar cada um em seu lugar, uma vez que em nosso lugar somos mais fortes. De acordo com essa ordem, eu ajudo de igual para igual. Ajudo do meu lugar e reconheço o outro no lugar dele.
Isso evita, por exemplo, nos colocarmos no lugar dos pais de outra pessoa, gerando assim uma desordem na relação.
Posicione-se diante de seu ajudado sempre de pessoa adulta para pessoa adulta. Empodere-o de modo que perceba que é o autor de sua história e responsável por suas escolhas, erros, acertos e conquistas. Para isso, jamais tente ocupar papéis que não são seus para que ele se sinta melhor.
Ainda que queira muito ajudar, posicione-se sempre de maneira adulta e madura.
Quando isso é ignorado surgem os seguintes desarranjos:
- Consentir pedidos infantis e fazer concessões neste sentido.
- Acabar tratando a pessoa como uma criança e não como o adulto que é.
- Evitar que a pessoa assuma deveres e responsabilidades por seus atos.
Para evitar estes problemas é essencial que aquele que está no papel de ajudador trate o outro sempre como o adulto que é, de modo que este reconheça seu potencial, perceba a necessidade de mudança e trabalhe, de forma madura e consciente, no sentido de alcançá-la.
A maturidade faz parte das ordens de ajuda, tanto ao outro, como a nós mesmos.
Precisamos assumir uma postura mais adulta e fazer o outro agir de acordo com ela no relacionamento. Por exemplo, você não deve acatar desejos infantis ou mesmo concessões em favor do outro. O mesmo deve entender que a vida é feita por responsabilidades e que não devem ser ignoradas.
Por isso que, quando formos ajudar alguém, devemos tratá-lo como o adulto que é.
O mesmo deve reconhecer seu próprio potencial sem interferências e trabalhar para conquistar qualquer mudança. Isso vai amadurecê-lo e deixá-lo mais consciente, fazendo com que entenda o quão longe pode ir.
Olhar sistêmico
A quarta das ordens da ajuda nos move a olhar para as pessoas de maneira completa, sistêmica, e não de forma isolada. Além do próprio indivíduo, devemos assistir sua relação com quem está próximo, especialmente a família. Em relação a eles, devem ser acolhidos com a mesma atenção dada ao cliente. Caso o contrário, isso acaba por:
- Resultar em desprezo
Se apenas um indivíduo for assistido, a chance de reabilitação dele fica comprometida. O desprezo em relação às pessoas importantes de sua família vai impedir que se olhe de forma mais profunda para qualquer pessoa. Isso é como cortar o passado de alguém e deixá-lo sem impressão digital.
- Ignorar soluções
Às vezes, a solução para o problema de relação em uma pessoa se encontra em um familiar distante. Se isso é ignorado, a possibilidade de ajudar uma pessoa cai drasticamente.
- Ignorar sua infantilidade
Ignorar comportamentos infantis implica de forma direta na limitação do desenvolvimento dessa pessoa. Com isso, impedimos que o empoderamento chegue até ela, fazendo com que não cresça e amadureça.
A quarta ordem da ajuda nos lembra que ao ajudar reconheço o outro como parte de algo maior.
Não vejo o outro apenas como um indivíduo isolado, mas como uma parte de um sistema maior.
É preciso olhar para o outro de forma sistêmica e não isolada, ou seja, considerando suas relações e todos aqueles que estão ao seu redor, em especial, a figura dos seus pais. Estes, por sua vez, também devem ser acolhidos e amparados com o mesmo respeito, não julgamento e compaixão que a pessoa que estamos a tentar ajudar.
Quando isso é ignorado surgem os seguintes desarranjos:
- Desprezar e desconsiderar membros importantes do clã familiar.
- Ignorar um parente afastado da família que pode ser a solução para, enfim, resolver a queixa da pessoa.
- Ignorar os comportamentos infantis da pessoa e, assim, limitar o desenvolvimento e empoderamento necessário ao seu crescimento.
- Limitar sua visão, não perceber algo maior por traz da história da pessoa e simplesmente aceitar isso sem questionar.
Portanto, é essencial envolver todos os familiares que estão diretamente relacionados a quem tentamos ajudar, de modo que o ajudador consiga ter uma visão sistêmica e mais apurada sobre a questão e assim possa ter mais ferramentas para ajudá-lo a resolver definitivamente seu problema.
Honra e respeito
A última das ordens da ajuda nos convida a respeitarmos a história de cada pessoa.
Devemos amá-las sem impedimentos e da forma verdadeira como elas são, entendendo os caminhos que tomaram em suas vidas. Se assim for feito, fica mais claro entender as necessidades desse indivíduo pela ótica dele e dos parentes.
Ademais, isso vai fazer com que tenha outras perspectivas sobre qualquer problema e ficará mais fácil enfrentar dificuldades e resolvê-las rapidamente. Portanto, precisamos evitar as reprovações, julgamentos contínuos, desprezo moral e críticas.
A quinta ordem da ajuda nos ensina a ajudar com amor, sem julgamento.
Respeito o outro como ele é, ainda que seja diferente de mim.
O julgamento, por vezes falado aqui, é fruto de uma imagem que alguém faz baseado em recortes do outro. Lembremos que uma pessoa que não tem conhecimento do todo de uma outra pessoa não tem o direito de julgá-la.
Honrar e respeitar a história de cada pessoa; amar esta sem reservas e como ela é na essência e, buscar compreender e aceitar os desígnios da sua vida, o seu destino. Assumir esta postura ajuda o terapeuta a enxergar melhor a natureza da queixa do cliente sob o viés daqueles que convivem diretamente com ele. Também auxilia a que tenha novas perspectivas do problema que ajudem o cliente a enfrentar suas dificuldades e solucioná-las de vez.
Quando isso é ignorado surgem os seguintes desarranjos:
- Julgamentos constantes.
- Crítica e reprovação.
- Desprezo moral.
Ter este tipo de postura diante do outro faz com que o ajudador acabe por minar o seu processo de desenvolvimento e, consequentemente, a eliminação do seu problema. Isso porque os julgamentos e críticas acabam sendo um impeditivo a que o ajudador realmente possa ajudar o outro a sanar sua queixa e, enfim, encontrar a confiança e o empoderamento que precisa.
Quando isso acontece, o outro acaba por remoer sua questão pendente e se vê sem forças para seguir em frente.
Quando temos uma missão que tem como foco apoiar o outro em seu processo evolutivo, muitas vezes, podemos acabar ignorando que em determinados momentos, nosso recuo é importante para que haja uma ação da pessoa, para que outras forças que não compreendemos, possam agir e a vida possa finalmente seguir o seu curso.
No que diz respeito a cada um de nós, é importante sempre buscar servir com respeito, amor, não julgamento, paciência e compaixão e agir da melhor maneira possível para que possamos construir uma relação positiva e equilibrada entre nós, que ajudamos, e aqueles que por nós são ajudados.
“Ajudar é uma arte. Como em qualquer outra arte, faz parte dela uma faculdade que pode ser aprendida e praticada. Também faz parte dela uma sensibilidade para compreender a pessoa que procura ajuda, isto é, a compreensão daquilo que lhe é adequado e, simultaneamente, daquilo que o expande para além de si mesmo, para algo mais abrangente.”Bert Hellinger
Ajudar quando o outro pedir ajuda e se o outro pede ajuda. Muitas vezes quando o outro pede ajuda, a sua primeira necessidade é estabelecer uma aliança com o terapeuta que confirme a sua posição de vítima ou de ter razão.
Neste caso, só se consegue realmente ajudar quando o outro está disposto a desistir. Desistir que as outras pessoas ou situações sejam do modo como idealizou, desistir das fantasias e de tentar estabelecer alianças que confirmem a sua posição.
É preciso escolher entre ser feliz ou ter razão.
Quando estamos prontos para ajudar precisamos observar se o nosso intuito é de realmente ajudar ou se é um movimento nosso de nos livrarmos da angústia que nos traz o sofrimento do outro. Precisamos observar até onde o sofrimento do outro reverbera na nossa alma para que tenhamos tanta necessidade de salvá-lo, salvando a nós mesmos.
A verdadeira ajuda se dá quando compreendemos e confiamos que o “outro conseguirá lidar com os próprios conflitos” na medida de sua vivência e de seus valores.
Neste sentido devemos nos contentar em dar o que se tem, e receber o que precisa.
Já parou para pensar,
de maneira mais profunda,
qual o benefício e o intuito dessa sua necessidade de ajudar os outros?
“Ajudar tem a ver com a promoção do crescimento, do crescimento interno. Como algo cresce?Primeiro, quando é nutrido. Segundo, quando precisa se impor contra forças que se opõem ao crescimento. Muitos ajudantes, frequentemente, preferem focar na nutrição e recuar perante o conflito. Entretanto, trata-se de confiar em que o outro saberá lidar com o seu conflito, administrando as adversidades.”Bert Hellingerin, O Amor do Espírito
Quando nos propomos a ajudar alguém, precisamos nos ater a ajudarmos da maneira que vai contribuir para a outra pessoa. Observando se, por debaixo dos panos, inconscientemente, a ajuda que estamos oferecendo ao outro não está, na verdade, ajudando apenas a nós mesmos.
E o que eu quero dizer com isso?
Quero dizer que, algumas vezes, de modo inconsciente, fazemos interpretações da vida alheia, criando uma visão sobre um terceiro e acreditando que sabemos o que essa outra pessoa precisa para solucionar alguma situação pela qual está passando e que sabemos o que ela tem que fazer para “melhorar” a sua condição em diversos aspectos.
Acontece que, essa interpretação é influenciada pelos nossos medos, nossas impressões sobre a realidade, nossos julgamentos, preocupações, crenças, entre tantos outros fatores que distorcem a visão que temos da realidade de outra pessoa, pois trata-se de particularidades individuais de cada um.
Aqui estamos supondo que não temos consciência da realidade total desse terceiro, de modo que, a ideia de que ele precisa “melhorar” foi construída na nossa mente, baseada nos nossos ideais de vida, que por muitas vezes, são distintos dos ideais dessa outra pessoa a quem pretendemos ajudar.
Mesmo quando alguém nos expressa que necessita de ajuda ou de melhorar algo em sua vida, devemos lembrar que, ainda assim não conhecemos 100% da situação.
A intenção de ajudar também pode estar relacionada ao desconforto que sentimos ao ver outra pessoa em uma situação que, para nós, seria muito desagradável. Muitas vezes, esta ajuda pode impedir a outra pessoa de trilhar o seu próprio caminho e de se impor contra as forças que se opõem ao seu crescimento.
Emoções também podem interferir neste aspecto, causando essa necessidade de ajudar.
Exemplificando, o medo de algum ente querido estar sofrendo ou a preocupação com alguma situação específica de um familiar pode nos dar a sensação de que precisamos salvá-los.
No entanto, um ato corajoso e maduro da nossa parte é confiar em que o outro saberá lidar com o seu conflito, administrando as adversidades, como destacou Bert Hellinger no trecho de seu livro descrito acima.
Precisamos ser conscientes de que cada pessoa tem os seus obstáculos para vencer e assim adquirir algum proveito, seja um aprendizado, amadurecimento, fortalecimento. Enfim, o que cada um está precisando, que é singular.
Aprendemos com as Ordens da Ajuda que ao ajudar outra pessoa, precisamos entender que não temos conhecimento do todo. E que as nossas impressões representam apenas uma parte, e muito influenciada pelos nossos julgamentos e medos. O todo é muito maior.
Para contribuir com outra pessoa, não devemos empurrar as nossas escolhas e o nosso modo de vida nela, pois isso advém da experiência de vida de cada um. Sem ter a consciência do todo, não temos como saber das necessidades reais de outra pessoa, que tem suas próprias experiências, que tem uma vida e visão diferente da nossa.
Com respeito, precisamos enxergar a pessoa em um nível mais profundo, escutá-la de fato, procurando entender as suas verdadeiras necessidades.
Para isso, precisamos estar abertos a compreender a outra pessoa, aceitando que ela tem o direito de ter escolhas e pensamentos diferentes dos meus. Com isso, eu uno o que ela precisa com o que eu tenho a oferecer, e ajudo sem tirar a sua dignidade e as suas oportunidades de crescer.
“Como ajudantes, temos a ideia de que devemos, a qualquer preço, manter uma pessoa viva e ajudá-la a ter uma vida feliz. Entretanto, ela está entregue a outras forças, diante das quais nossos esforços fracassam. Ao invés de nos vermos apenas diante da pessoa que busca ou necessita da nossa ajuda, olhamos para além dela. De repente, sentimos que há outras forças em ação, que são maiores que nós. Aí nos acalmamos. Muitas vezes, também conseguimos olhar de outra maneira para a criança, sem preocupações.”
Bert Hellingerin, O Amor do Espírito
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