A satisfação própria do sexo
é uma emoção sensual
como o simples mirar.
Ou, como a mera sensação que cumula a língua enquanto se saboreia uma fruta deliciosa.É uma experiência maior, infinita, que nos é oferecida; um conhecer do mundo, a plenitude e o esplendor de todo o saber…E o que é errado não é viver esta experiência, mas sim que quase todos abusem dela e a dissipem.
Empregando-a como incentivo e dissipação nos momentos de maior lassidão, em vez de a viver em recolhimento para alcançar sublimes êxtases.
Também do comer, decerto, fizeram os homens outra coisa.
Por um lado a miséria e, por outra a opulência excessiva, deslustraram esta necessidade.
De modo semelhante se turvaram também outras necessidades profundas e singelas, em função das quais a vida se renova. Mas cada indivíduo, para si mesmo, pode resgatar a sua pureza, vivendo-as com límpida singeleza.
Se isto não está ao alcance de qualquer indivíduo – porque cada um depende demasiado dos outros – está ao alcance do homem solitário. Este pode recordar-se que tanto nas plantas como nos animais, toda a beleza é uma calada e persistente forma de amor e anseio.
Pode também ver como os animais e as plantas se unem, multiplicam-se e crescem sem conhecer nenhum prazer ou sofrimento físico, mas sim curvando-se ante necessidades maiores do que o gozo e a dor, mais poderosas que toda a vontade e toda a resistência.
Oh! Se o homem pudesse acolher com o espírito humilde e levar com maior seriedade este mistério do qual está prenhe a terra mesmo nas suas coisas mais pequenas.
E o suportara, sentindo quão terrível e esmagador é o seu peso, em vez de o encarar de forma ligeira!
E se inclinara com profunda veneração ante a sua própria fecundidade, que é apenas uma, quer pareça material ou espiritual.
Pois também o criar do espírito ascende do mundo físico.É da sua mesma essência e como uma reprodução mais subtil, mais extasiante e mais perene do gozo carnal.
Rainer Maria Rilke
in, "Cartas a um Jovem Poeta"
Sem comentários:
Enviar um comentário