Michael Tarasov
Embora faça sol, a dor oprime a altura.
Converso com você, mas sei que é conjetura.
E sendo aqui montanha, verdade aprofundo:
Por quê? Por que nos nutrirmos deste mundo?
Deste mundo, exilio, — porta de nossas perdas
onde o tempo nos soma pelas horas esquerdas.
Não sabemos talvez, ou em saber não bastamos
que o mundo é sedento e nós o desalteramos.
Secam rios de pranto onde a sede se apura
e desagua o labirinto de uma carne obscura.
É preciso nos nutrirmos deste mundo, — quantos
somos, sirvamos à sua fome, — fome de tantos.
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Só, — enquanto a vida
mais distante esmaecia
e prosseguir — tão só — era oriente
(o caminho é sem retorno, se não existe
nenhum instinto além que o reconheça,
e o passo gratuito pronto ignora
o outro passo)
só, eu prosseguia.
Num fim remoto, silêncio ensurdecera
— quem sabe a paz, memória resignada
que tantos sentidos deslembraram?
Quem sabe o adeus de um deus que se prepara?
E, sem saber,
num espaço meu
ou de loucura,
— só, estranha em mim,
eu regressava.
MARIA ÂNGELA ALVIM
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