Esta última Lua Nova, em Escorpião, levou-me finalmente a conseguir romper com a minha relação tóxica e doentia com a minha mãe e a minha irmã mais nova...
Como tenho Saturno, meu planeta regente, na Casa 3, retrógrado em Caranguejo, faz com que eu seja mais introspectiva no que diz respeito às minhas emoções, à minha infância, e ao longo da minha vida tenho sido bastante desafiada a me reconciliar com as minhas emoções reprimidas.
As questões familiares estão sempre presentes, Pai, Mãe e a minha irmã mais nova.
A minha luta pessoal está sempre ligada a conseguir libertar-me do meu passado, e de me libertar deste instinto de sobrevivência que ganhei desde os 7 anos.
Com o meu pai, em 2005, foi mais difícil de enfrentar mas, mais rápido de curar.
Com a minha mãe e a minha irmã mais nova, tem sido mais lento e doloroso.
Nestes últimos 7 anos, senti uma necessidade vital de enfrentar a minha Sombra, descer ao porão e limpar, curar...mas para isso, tive de entrar em assuntos que originaram conversas difíceis, conflituosas e que geraram muita tensão com a minha mãe, e na semana passada com a minha irmã mais nova.
Por isso vim aqui, à minha caixinha dos segredos, procurar um texto que li sobre tudo isto que estou a sentir... para encerrar este ciclo familiar.
O texto é da Bethany Webster e, para quem quiser ler o original, está AQUI
Romper com a essência patriarcal
do legado emocional
proveniente do vínculo materno
é às vezes, o preço que temos de pagar
para conseguir a autenticidade e liberdade
que precisamos.
Uma das experiências mais duras que podes ter como filha na relação com a tua mãe, é dares-te conta que ela está inconscientemente envolvida na tua insignificância. É perfeitamente devastador ver que, para lá da ferida da tua mãe, a pessoa que te deu à luz sente inconscientemente o teu crescimento como uma perda pessoal. É algo característico do Sistema Patriarcal, que diz às mulheres que "somos menos que".
Todas queremos ser Autênticas, sermos vistas tal e qual como somos, sermos aceites, amadas por sermos quem realmente somos. É uma necessidade humana.
Mas a realidade é que, para nos tornarmos autênticas, implica sermos complicadas, fortes, intensas, assertivas e complexas, qualidades que o patriarcado considera pouco atractivas numa mulher.
Historicamente, a nossa cultura não reagiu bem à ideia das mulheres como seres individuais.
Viu-as sempre como seres atraentes, complacentes, que procuram aprovação, cuidam das emoções, evitam conflitos, e toleram os maus tratos.
As mães transmitem esta ideia às suas filhas, e fazem com que elas inconscientemente construam um falso Eu, frequentemente através da máscara de "boa menina".
É um processo complicado, uma dura experiência que implica dar-se conta de que se está mergulhada na insignificância inconscientemente, num legado que perpetua a dependência através de uma educação dos pais com base em crenças antigas.
É um sentimento doloroso porque o desejo de desligar-se está ligado à necessidade de cuidar, e à ideia de que a pessoa que contribuiu com as experiências de afecto e apoio assume a nossa própria capacitação como uma perda. Por necessidade humana (ou melhor educativa) a mãe às vezes precisa moldar e educar a filha longe da essência da individualidade.
Este não é geralmente um processo ou uma necessidade consciente.
A mãe, na sua herança como mulher, pode pensar que a vida da filha será mais fácil, quanto menos complexa e intensa for. Por isso incentiva a sua filha a se adaptar às qualidades que "a cultura do patriarcado" mostra como atraentes.
Etiquetas subtis como "rebelde", "solitária", "boa menina" apenas transmitem uma mensagem "não deve crescer para ser amada." Nesta altura, ela deve tornar-se consciente e curar essa ferida, mesmo que isso signifique uma desvinculação que em parte é agressiva, e por isso dolorosa.
O patriarcado tem vindo a ficar mais enfraquecido, visto que de geração em geração a força feminina é evidente, urgente e necessária. De alguma forma no inconsciente colectivo está a pervalecer a necessidade das mulheres para serem autênticas.
As crenças patriarcais promovem um nó inconsciente entre mães e filhas, em que apenas uma delas pode ter o poder. É uma dinâmica "uma das duas" baseados na escassez que deixa ambas sem poder. Para as mães que foram particularmente privadas de poder, as suas filhas passam a ser "alimento" para a sua identidade atrofiada, e o depósito dos seus problemas. Devemos permitir que as nossas mães façam o seu próprio caminho e parar de nos sacrificar por elas.
Bethany Webster
O desejo de ser autêntica e a saudade da Mãe:
Bethany Webster sintetizou este processo de autenticação que estamos a falar de uma forma muito acertada:
"Trata-se de um dilema para as filhas criadas no patriarcado. O desejo de seres tu mesma e o desejo de seres cuidada, tornam-se necessidades que competem entre si, que parece que temos de escolher entre uma das duas. Isto acontece porque o teu fortalecimento está limitado por causa da tua mãe ter interiorizado crenças patriarcais, e espera que tu as acates.
A pressão da tua mãe para que não cresças depende principalmente de dois factores:
1) O nível a que ela interiorizou as crenças limitantes patriarcais da sua própria mãe.
2) O alcance das suas próprias falhas ao ser divorciada do seu verdadeiro eu.
Estas duas coisas mutilam a capacidade da mãe iniciar a sua filha para a sua própria vida.
O custo de te tornares no teu Ser Autêntico, muitas vezes envolve um certo grau de "ruptura" com a linhagem materna. Quando isto acontece, rompem-se os fios patriarcais da linhagem materna, algo essencial para uma vida adulta saudável e poderosa. Geralmente manifesta-se nalgum tipo de dor ou conflito com a mãe.
As rupturas com a linhagem materna podem assumir várias formas:
Desde conflitos e desacordos, até distanciamento ou mesmo separação total.
É uma jornada pessoal e é diferente para cada mulher.
Basicamente, a ruptura serve para a transformação e cura.
Faz parte do impulso evolutivo do despertar feminino para se fortalecer com mais consciência.
É o nascimento da "mãe não patriarcal" e o começo da verdadeira liberdade e da individualização.
"O preço de nos transformarmos em mulheres Autênticas, nunca é tão alto quanto o preço de permanecer num falso Eu"
Por um lado, nas relações entre mãe / filha mais saudáveis, a ruptura pode causar um conflito, mas na verdade serve para fortalecer o vínculo e torná-lo mais autêntico.
Por outro lado, nas relações mais agressivas e menos saudáveis entre mãe / filha, a ruptura pode provocar feridas não cicatrizadas na mãe, e fazer com que passe a atacar ou a renegar a sua filha.
E em muitos casos, infelizmente, a única opção da filha será manter-se afastada indefinidamente para preservar o seu próprio bem estar emocional.
Assim, em vez de ver que é o resultado do teu desejo de crescer, a tua mãe pode sentir o teu afastamento como uma ameaça, um ataque pessoal e directo sobre ela, uma rejeição de quem ela é. Nesta situação, pode ser devastador constatar que o teu desejo de fortalecimento e crescimento pessoal pode fazer com que a tua mãe, cegamente, te passe a ver como uma inimiga.
Nestas situações, podemos ver o preço alto do patriarcado nas relações mãe / filha. "
António Mora
"Eu não posso ser feliz
se a minha mãe estiver infeliz "
Já sentiram isto alguma vez ?
Eu até há bem pouco tempo sentia isto constantemente.
Causava-me dor ver a minha mãe sofrer com as suas próprias feridas e carências, e inconscientemente criou em mim uma necessidade extrema de curar as feridas dela.
E como isso é impossível de acontecer, porque cada uma de nós tem o seu caminho para fazer, sentia uma frustração enorme.
Até que na semana passada percebi que, me estava a deixar arrastar para uma realidade que não me pertencia, e que ao pôr em causa a minha felicidade por causa da infelicidade da minha mãe, estava a provocar a Estagnação das duas.
Estava a impedir a cura das minhas feridas, ao não fazer o luto de uma ilusão que criei, de querer vir a ter a relação que eu sempre desejei ter com a minha mãe e nunca tive.
E constatar isso, fez-me acordar para a vida!
Isto deixou de fazer sentido para mim!
Eu não posso sarar as feridas da minha mãe!
Assim como, também não posso fazer com que ela me veja como na realidade sou!
E este duelo é que impede a Cura!!!
Tive de chorar, fazer o luto, por mim, por nós, pela minha linhagem materna, toda ela muito influenciada e dominada pela Igreja Católica e pelo Sistema Patriarcal.
E ao fazer esse luto, ao me desapegar dessa ilusão de ainda ter esperança de vir a ter uma relação construtiva com a minha mãe, senti uma Liberdade enorme!!!
Senti que a minha Liberdade como mulher dependia muito deste luto e deste desapego emocional!
A crença de que não podemos ser felizes se a nossa mãe está a sofrer é mais um legado do patriarcado. Quando nós renunciamos ao nosso próprio bem-estar pelo bem-estar das nossas mães, impedimos uma parte essencial do processo de luto que tentamos alcançar.
Temos de fazer o luto da ferida da nossa linhagem materna, porque ao não fazê-lo provocamos um elevado grau de estagnação. Por mais que tentes fazê-lo, uma filha não pode curar a sua mãe, visto que cada uma tem a responsabilidade sobre si própria. Por isso, é necessário romper e encontrar um equilíbrio, o que só será possível se alterares os padrões patriarcais e não te entregares a uma cumplicidade de uma paz superficial.
É necessária muita coragem para iniciar este processo de desligamento, mas, como disse Bethany Webster, deixar que as nossas mães sejam seres individuais, liberta-nos como filhas e como mulheres, para sermos seres individuais. Não é nobre carregar com a dor dos outros, não é um dever que devemos assumir por sermos mulheres, e não te deves sentir culpada quando não assumires essa função.
A necessidade que temos da nossa mãe nos reconhecer e nos aceitar, é uma sede que temos de saciar, mesmo que tenhamos de sofrer por isso.
Isto significa uma perda de independência e liberdade que nos anula e nos transforma.
Esse papel de cuidadora emocional que se espera das mulheres, é um papel que faz parte do legado de opressão. Portanto, temos de compreender que isto é ficção e não obedece às nossas necessidades explícitas.
Basta manter esta perspectiva para nos ajudar a pôr de lado a culpa, para que ela deixe de nos controlar.
As expectativas do mundo em relação a nós podem tornar-se muito cruéis.
Na verdade, na minha opinião, são um verdadeiro veneno que nos faz esquecer a nossa individualidade.
É hora de romper.
A culpa não tem a ver com a Consciência, mas sim com o Controlo!
Esse sentimento de culpa por nos afastarmos para o nosso bem estar emocional, faz-nos ficar atadas às nossas mães, mesmo que isso nos faça mal. Debilita-nos, enfraquece-nos, deixamos de ser quem somos para não magoar a mãe, e por isso faz com que ignoremos o nosso Poder Pessoal ...tudo para não perturbar a mãe.
Mas, na realidade, não há motivo nenhum para nos sentirmos culpadas!!!!!!
Essa coisa do Síndrome da Enfermeira, de termos de ser Cuidadoras Emocionais, nunca foi um papel realmente nosso. Foi-nos imposto!!!!
E por isso, quando por opção deixamos de desempenhar esse papel, a Culpa passa a controlar-nos e perdemos toda a nossa Liberdade de Ser!!
Abster-me de cuidar emocionalmente da minha mãe, e deixá-la ser, deixar que ela aprenda ou não as suas próprias lições, é uma forma de me respeitar a mim própria e respeitá-la a ela, embora ela não o veja por essa perspectiva...
Ao contrário do que me ensinaram na Igreja, na escola e na família, eu não tenho de curar a minha família, tomar as suas dores como minhas, e deixar-me arrastar para uma inconsciência que não é a minha.
Eu tenho é de me curar a mim própria!!!
" Em vez de te sentires culpada por não conseguires curar a tua mãe nem os outros membros da tua família, dá-te permissão de seres inocente. Se o fizeres, recuperas a tua construção pessoal e o poder pessoal que a ferida materna te tirou. E em consequência, devolves aos teus familiares a possibilidade de seguirem o seu próprio caminho da forma que escolherem.
Trata-se de uma grande Troca Energética, que acontece quando nos apropriamos do nosso Valor, conservamos o nosso Poder, apesar de sermos constantemente tentados a entregar-lo aos outros.
É possível que as nossas mães e a nossa família nos virem as costas quando nos tornamos mais autênticas. Podemos sentir hostilidade, rejeição, desprezo, abandono, quando deixamos de viver de acordo com os seus padrões e passamos a ser autênticas connosco próprias.
A mãe cumpre a função de Iniciadora, de Provedora, para que a filha possa viver a sua própria vida, mas esta Iniciação só poderá ser feita pela mãe, se ela própria viveu e experimentou a sua própria Iniciação. Os processos saudáveis de separação de Mãe/Filha estão muito boicotados no sistema Patriarcal.
O problema é que muitas mulheres passam a vida inteira à espera que as mães as empurrem para viverem as suas próprias vidas, mas elas simplesmente são incapazes de o fazer.
É muito habitual ver mulheres nesse duelo da Ferida Materna, em que regressam frequentemente ao poço negro das suas mães, à procura de aceitação por parte das mães, quando elas são incapazes de o fazer. Em vez de concluir este duelo, muitas mulheres tendem a culpar-se o que as bloqueia.
Temos de lamentar que as nossas mães não nos possam oferecer a Iniciação que elas nunca receberam, e entrarmos de uma forma consciente na nossa própria Iniciação.
Parte deste processo é Aceitar esta profunda dor existencial, para nos podermos iniciar em total Liberdade e Criatividade nas nossas próprias vidas.
No final, esta dor dá lugar a uma compaixão genuína e a uma gratidão para com as nossas mães, e as mães das nossas mães.
É importante perceber que, ao cortar com as crenças patriarcais que para nos aceitarem devemos permanecer pequenas, não estamos a rejeitar as nossas mães.
Apesar de sermos mulheres adultas, temos saudades da nossa mãe.
Pode ser desgastante, sentir saudades da mãe e saber que a nossa própria mãe não pode satisfazer esse nosso desejo, apesar de ter feito o melhor que pôde.
É importante enfrentar este facto e chorá-lo.
O teu desejo é sagrado e deve ser honrado.
Deixar um espaço para o duelo é uma parte importante de ser uma boa mãe para ti própria.
Se não fizermos um duelo sincero da nossa necessidade insatisfeita de cuidado maternal, inconscientemente isso irá interferir nas nossas relações, causando dor e conflito.
Não se trata de um trabalho de superação qualquer.
Curar a ferida materna é essencial e fundamental.
É um trabalho em profundidade que te transforma interiormente e te liberta, como mulher, de correntes centenárias herdadas da tua linhagem materna.
Temos de nos desintoxicar dos elos patriarcais na nossa linhagem materna para seguir em frente no nosso fortalecimento.
Estamos a ser chamadas a encontrar no mais profundo do nosso Ser, aquilo que não nos foi dado.
A reclamar a nossa própria Iniciação mediante a cura da ferida materna."
Bethany Webster
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