sábado, 8 de setembro de 2012
A mulher é inimiga da própria mulher
Seguindo uma trilha de amor e ódio percorrida pela maioria das mulheres nos últimos dois mil anos, constatamos caminhos de violências em todas as formas: cultural, religiosa, filosófica, enfim, desde a integridade física até a transformação total dos seus valores éticos, da essência do moral feminino até o respeito a si mesma, com seu... corpo e sua função divina de procriar, de perpetuar a raça humana.
Conceber a alma da mulher hoje é deparar-se com um desafio obscuro. Na realidade, a mulher da atualidade está vivendo uma escravidão de alma. É escrava da sua própria densidade física. Do ego, das coisas da matéria, o que as nossas antepassadas chamariam de Mergulhadoras de Pântanos.
Alheia à habilidade natural dos sentidos de preservação sutil, do poder da premonição, da capacidade de transformar-se e gerir energias multiplicadoras de renovação, da força natural da Deusa interior que conduz, protege, e estabelece rumos naturais, que cria metas de paz e felicidade. Ela, a mulher atual, segue pela vida, amarga, ansiosa, dependente de um companheiro quase sempre nem tão companheiro assim. Mergulhada na sua própria incompetência, pobre de metas transformadoras, busca nas sensações meramente físicas, quase sempre sem entusiasmo o que encontraria na plenitude da sua própria essência, no seu poder do feminino.
Urge a necessidade do autoconhecimento, da busca de si mesma para que o crescimento aconteça naturalmente, assim a felicidade e a paz se estabelecerá na alma.
É comum ouvirmos a frase: “ Ninguém ama a quem não se ama,” pura verdade. Ninguém se sente bem ao lado de uma mulher amarga, neurótica e desequilibrada, bem como do homem também. A dor, o sofrimento, as necessidades materiais, as traições são um fato real na vida de qualquer um, mas não são justificativas para o desequilíbrio. Quando estamos centradas na nossa essência, a Mãe Dor se manifesta de forma serena e com a luz da mudança. Entretanto, quando estamos mergulhadas no pântano das emoções, a nossa alma está fechada para a luz , não nos permitindo ver além da dor.
Mas a mulher despertada para sua Deusa interior, caminha serenamente entre a dor e as verdades da alma, consciente da meta estabelecida e da plenitude a ser alcançada. Entretanto, é importante se ter conhecimento dos combates do caminho, sem perder a alegria das descobertas que estas promovem, o que torna o caminho mais alegre e envolvente de várias energias regeneradoras.
A descoberta da nossa bruxa interior não é apenas descobrir uma religião sedutora e alegre. Ou seja, o religar com as coisas da Deusa Mãe, a natureza, mas é principalmente nos conhecermos, nos encontrarmos como MULHER, obtermos a devida consciência da nossa missão na terra. Tomarmos a real medida da nossa função de mantenedora da vida e da preparação da sociedade futura.
Lembrando sempre que é a mulher que pari o homem, que cria e o educa para a vida. O homem será sempre o resultado da formação e informação que recebe da mulher que lhe concebeu, ou a que lhe criou, que lhe amamentou e lhe enviou para a vida.
A mulher da atualidade deve buscar interiorizar o sentimento primário de que ela é a própria expressão da natureza. Desenvolvendo, assim, uma aura luminosa em torno de si, de auto - respeito e se fazendo respeitar em todos os níveis; sexual, profissional, religioso e principalmente na sua mais divina missão, a maternidade.
Está na hora da mulher moderna desmistificar o velho e protetor Príncipe Encantado, aquele que a salva de um destino cruel e assim vivem felizes para sempre. É bom lembrar que nestes novos tempos, o Príncipe Encantado é o velho e bom diploma profissional e a Universidade é o casamento que garantirá um futuro, se não feliz para sempre, mas pelo menos será a chave do castelo, que facilitará o abrigo físico e o provento necessário. Quanto ao cavalheiro montado em um cavalo branco, que dará beijos mágicos e sedutores, estará naturalmente no caminho, como parceiro na mesma meta. Porque ele também já perdeu a fantasia de encontrar a bela Princesa indefesa, que espera pela sua viril companhia. O Príncipe destes novos tempos também já se desencantou com sua bela e frágil Princesinha, e está procurando uma MULHER, que seja parceira, guerreira, companheira, cúmplice e principalmente um ser humano. Já não está mais esperando encontrar a sua futura patroa, a sua senhora, a rainha do lar ou a dona de casa simplesmente. Ele busca encontrar aquela com quem vai dividir a vida, no sentido real da palavra dividir: proventos, emoções, os prazeres do corpo e a função divina de perpetuar a raça humana.
Outro aspecto que a mulher não deve negligenciar é o sentimento de culpa que normalmente se desenvolve a partir de um relacionamento frustrado.
Por muitos motivos de condicionamento educacional nas últimas décadas, a mulher mergulhadora do pântano das emoções, desenvolve sentimentos de culpa ao término de uma relação, culpando-se por este ou aquele motivo. Assim, deve-se criar o hábito de analisar serenamente as questões de ambos os lados, sem deixar-se levar pelo vitimismo, mal que acomete a maioria das mulheres.
É necessário que a mulher, busque amar com transparência e com o coração. Só assim se tornará livre e plena para usufruir verdadeiramente de uma parceria de amor. Quando se ama com o fígado no lugar do coração, corre-se o risco de trazer o amargor do fel para a relação, transformando um convívio que poderia ser livre e gostoso em uma relação neurótica e sofrida. Cheia de cobranças, deveres e obrigações.
O amor traz antes de qualquer obrigação, a liberdade. A plenitude está na sabedoria de vivenciá-la.
Não cabem mais na nova sociedade rótulos tais como: “A mulher é inimiga da própria mulher”, ou “ se quiser ver seus ideais irem por água abaixo, conte a uma mulher seus objetivos,” essas e outras frases de efeito semelhante, são ainda resquícios de um tempo de opressão patriarcal, que subjuga a mulher a condição de um ser menor, sem personalidade, influenciável. Sem contar com a estratégia por trás de tudo isso que é exatamente de criar conflitos entre a massa feminina para enfraquecê-la na sua força de união.
Precisamos estar atentas também a todas essas e outras heranças culturais medievais do poder masculino, ainda muito enraizadas na nossa cultura formativa.
Não estamos nesta guerra silenciosa por poder ou mesmo por querer ocupar o lugar masculino, não, apenas lutamos pela nossa divindade de existir de forma plena, livre e verdadeira. Pelo nosso poder feminino que nos foi violentamente subtraído de formas tão cruéis. Negando até mesmo o nosso poder de parir, quando instituíram a origem da mulher, extraída da costela de um homem, negando assim a divindade da maternidade da nossa Mãe criadora. Negando o nosso útero. Transformando a nossa função sagrada de menstruar em algo sujo e pecaminoso. Somos fortes quando temos a real consciência da grandiosidade do rio de sangue que corre nas nossas entranhas que dá origem a vida, como o líquido sagrado dos rios e mares, a água que corre nas entranhas da grande Mãe.
Somos simplesmente mulheres e, como tais, queremos existir com todas as características que faz de nós esse ser singular.
Graça Lúcia Azevedo / Senhora Telucama -
(Suma Sacerdotisa do Templo Casa Telucama)
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