"O efeito da paternidade nos meninos, particularmente, é transformá-los em “Homens”, ou seja, desenvolver um duro sistema de defesa contra todas suas tendências à passividade, à bichice, e aos seus desejos de ser mulheres. Todo menino quer imitar sua mãe, ser sua mãe, fundir-se com ela, mas o pai o proíbe. Ele é a mãe, ele se funde com ela; assim, ordena ao menino, às vezes directamente e outras indirectamente, que não seja um mariquinhas, e aja como um “Homem”. O menino, que se caga nas calças com medo de seu pai, que – dizendo de outro modo – lhe “respeita”, obedece e chega a se tornar como o pai, esse modelo de “Virilidade”, o ideal americano: o cretino heterossexual bem-comportado.
O efeito da paternidade nas meninas é transformá-las em homens: dependentes, passivas, domésticas, bestiais, inseguras, ávidas por aprovação e segurança, covardes, humildes, “respeitosas” das autoridades e dos homens, fechadas, carentes de reacções, meio mortas, triviais, estúpidas, convencionais, insípidas e completamente desprezíveis. A Menina do pai, sempre tensa e temerosa, intranquila, sem capacidade analítica, sem objectividade, valoriza com medo (“respeito”) o pai e, consequentemente, os outros homens. Incapaz de descobrir o vazio por trás da fachada indiferente, aceita a definição machista do homem como ser superior, como mulher, e a definição da mulher, e de si mesma, como ser inferior, ou seja, como homem, o que, graças ao pai ela realmente é.
A individualidade feminina, da qual o homem é intensamente consciente, mas com a qual ele é incapaz de relacionar-se, de compreender ou alcançar emocionalmente, o assusta, o perturba e enche-o de pavor e de inveja. Assim, ele nega a individualidade das mulheres, e se dispõe a definir todo mundo, ele ou ela, em termos de função ou de uso, assegurando logicamente para si as funções mais importantes – médico, presidente, cientista – a fim de dar-se uma identidade, se não uma individualidade, e convencer, a si mesmo e às mulheres (teve melhor êxito convencendo as mulheres) que a função feminina é conceber e criar os filhos e relaxar, confortar e elevar o ego do homem; que sua função é, em suma, tornar-se trocável por qualquer outra fêmea."
IN, MANIFESTO SCUM
VALERIE SOLANAS
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