segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O Plano




Os Anonymous seguem o modelo da Al-Qaeda, que consiste num número indeterminado de células que vão aparecendo de forma livre e autónoma, com as mesmas fontes de inspiração mas sem ligações formais entre elas, sem os membros se conhecerem.
Só que a Al-Qaeda tem um líder. Os Anonymous não.
Não têm regras, nem estruturas, nem hierarquias.
A única base que existe são dois ou três princípios ideológicos, incluindo a defesa do pacifismo, o anonimato absoluto dos membros, a coerência estética, uma constante renovação de slogans e o objectivo global de luta pela liberdade. Com todas as interpretações que isso pode arrastar.

A primeira grande operação que trouxe notoriedade aos homens da máscara foi organizada ainda a partir do site 4chan, em 2008. O alvo era a Igreja da Cientologia, pela forma como a seita oprimia os seus fiéis. A operação consistiu em manifestações de milhares de Anonymous e numa série de ataques informáticos, que levou a algumas detenções.
O vídeo no YouTube que fez o anúncio da operação (“message to scientology”) a 21 de Janeiro desse ano, em que era declarada uma guerra aberta até à destruição final da seita, foi visto mais de 4,5 milhões de vezes e marcou o modus operandi daí para a frente. Foi um ataque agressivo, que envolveu o roubo de informações internas. Foi também a primeira vez que os Anonymous se cruzaram com a WikiLeaks, fornecendo esse material a Julian Assange para que fosse exposto.

Muitas acções vieram a seguir desde então, com anúncios e explicações replicadas vezes sem conta no YouTube. Algumas, apenas de protesto, outras envolvendo o mais típico dos ataques informáticos dos Anonymous: os “Distributed Denial of Service” (DDos), em que um número elevado de computadores se coordenam para entupir os servidores de Internet do alvo escolhido, deitando o seu site abaixo durante algum tempo.

Foi isso que aconteceu quando em dezembro de 2010, em solidariedade com a wikiLeaks, várias células lançaram a Operation Avenge Assange, resolvendo minar os gigantes Amazon, PayPal, MasterCard e Visa, por suspenderem os serviços que forneciam a plataforma de fugas de informação. A veia ilegal do movimento parecia ascendente. Já em fevereiro deste ano, a seguir ao director da HBGary Federal (que trabalha para o Bank of America e para o governo americano) ter anunciado que se infiltrara nos Anonymous e que ia revelar informaçõessobre eles, a retaliação foi tão forte que bases de dados inteiras foram apagadas e dezenas de milhares de e-mails internos daquela empresa de segurança informática foram publicados na Internet. O director acabou por se demitir, vencido por knock-out. Até a sua morada de casa foi divulgada.

Mas depois chegou a Primavera Árabe.
De repente, as atenções viraram-se para outros lados, multiplicando-se o número de operações dos Anonymous no Egipto, na Líbia, na Síria, para garantir a navegação na Internet aos manifestantes e aos rebeldes e para bloquear os servidores dos regimes autoritários.
Os mais agressivos dos Anonymous, inclinados a intensificarem os ataques informáticos a grandes corporações, juntaram-se debaixo de outro conceito, criado em maio deste ano. Os LulzSec pretendem, como eles dizem com ironia, ser líderes mundiais no entretenimento de “alta qualidade” (Lulz quer dizer “just for fun”).

Há cinco meses que há um novo Plano em marcha pelos Anonymous em Nova Iorque, em Los Angeles, em Oklahoma, em Atenas, em Londres, em Medrid, em Roma, em Lisboa e muitas outras cidades. Foi lançado em Junho no YouTube e num site www.whatis-theplan.org
O Plano é simples:
É uma declaração de guerra ao sistema financeiro!
Muito vago e utópico no objectivo (“liberdade para viver num mundo justo e pacífico, sem corrupção, sem o silêncio imposto e escravidão económica alimentada por aqueles que guardam o poder para eles, explorando o resto da humanidade”), mas muito preciso no calendário.
Está dividido em 3 Fases:
A primeira fase (“assembly”) passa pelos simpatizantes informarem-se sobre a corrupção nos seus países e espalharem a mensagem.
A Segunda Fase (“Organize”) é organizarem-se em grupos.
A Terceira Fase (“act”) é saírem à rua em massa.

Chamam-se a si próprios “ a resistência” e falam de uma “revolução legal e pacífica”.
A primeira fase deveria terminar em novembro.

Desde que a 17 de Setembro, nos EUA, uma vaga de contestação social reformulou o que vinha sendo a mensagem dos movimentos de indignação da Europa, ocupando Wall Street e definindo como alvo os bancos e outras grandes corporações financeiras, que o Plano parece ter sido adoptado. Cada vez mais Anonymous aparecem nas câmaras de televisão. E cada vez mais garantem a logística da contestação.

Além de Lisboa, nos últimos meses têm surgido núcleos de Anonymous um pouco por todo o país. É difícil saber quantos são. São todos adeptos do “Plano”.

Dias depois da Manifestação dos 99% contra os 1%, que encheu a 15 de outubro o Largo de S. Bento, em Lisboa, grande parte eram adeptos da máscara.
Longe da euforia das câmaras de televisão e dos microfones da rádio, porque ninguém pode falar em nome dos Anonymous. “Basta um de nós revelar-se publicamente ou levar-se pelo ego para deixar de o ser”. Só o Avatar tem direito a ego, exibido em todos os cartazes.

“ Os corruptos temem-nos, os honestos respeitam-nos, os heróis juntam-se a nós” 

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