terça-feira, 17 de maio de 2011

Sombra


A Sombra é um dos conceitos mais importantes da teoria junguiana, ou seja, do psicólogo suíço Carl Gustav Jung, que desenvolveu a linha psicológica que conhecemos como Psicologia Junguiana ou Psicologia Analítica ou Psicologia Complexa.

A Sombra é a parte mais obscura da nossa psique. Ela recebe tudo aquilo que não aceitamos como parte da nossa personalidade ou “identidade” ou “Ego”. O complicado é percebermos a Sombra. E geralmente só percebemos a Sombra porque ela está projectada em algo. E o que isso quer dizer? Basicamente que quando eu olho para algo e eu reconheço que isso é diferente de mim, eu estou a projectar nela a minha sombra; principalmente se além de reconhecer a diferença eu coloco repulsa ou algo que me separe ainda mais disso.

Como a Sombra reúne tudo o que reconheço (inconscientemente, a princípio) como sendo não-Eu, basicamente tudo o que eu vejo como não-eu no mundo se torna projecção da minha sombra. Por outras palavras, quando eu vejo isso, eu estou a ver no outro o que reconheço como sendo não-eu em mim mesmo.

Como não reconheço determinada característica em mim, então eu reprimo isso, que fica inconsciente. Mas isso não fica esquecido, mas sim projectado no mundo, no outro, que é visto como sendo isso que não reconheço em mim, que é a minha sombra. Eu posso consciencializar isso, mas não interiorizo como sendo eu.

Na nossa Sombra, geralmente colocamos os nossos defeitos, nossas culpas, vergonhas, coisas más que são socialmente ou pessoalmente reprovados ou qualquer coisa que nos é reprimida. Colocamos também tudo aquilo que nos foi proibido por culpa ou vergonha, e então disseram para nos calarmos. Só que isso não é mau!É importante perceber que a nossa psique é como a natureza: ela não é moral. Qualidades e defeitos são valores conscientes que damos a características nossas. Raiva, por exemplo, pode ser visto como um defeito, mas pode ser uma qualidade para quem sabe canalizar esse sentimento de forma proveitosa. Se não sabemos e nos ensinam (ou aprendemos) que devemos reprimir isso e/ou negar determinado sentimento/desejo/pensamento, ele acaba por se tornar a nossa sombra.

A nossa Sombra pode ser nossa amiga. Na verdade ela é uma realidade que não pode ser negada. Se deixamos a nossa sombra inconsciente, ela torna-se nossa inimiga e acaba por mostrar que no mundo existem vários inimigos, que no mundo existe um Mau que não pertence a mim (mas que na realidade, esse mau somos nós mesmos). Infelizmente é isso o que acontece com os vários tipos de fanatismo: sempre existe um inimigo, sejam os partidos de direita, os ateus ou simplesmente aqueles que pensam de uma forma diferente de nós. Esse inimigo nada mais é do que a projecção da nossa sombra inconsciente.

Mas se essa Sombra é tratada como amiga, sempre quando reconhecemos que algo fora nos incomoda, trazemos isso para nós e perguntamos: o que tenho eu dessa característica que vejo como sendo má nos outros? 
Quando reconhecemos que o mau do outro é na verdade um mau nosso, crescemos como pessoa. Nesse passo fazemos uma maior integração da sombra e ela se torna nossa amiga.Uma Sombra amiga descansa nossos olhos, ela nos serve de fonte de diversão e entretenimento quando brincamos com suas diferentes projecções. Para isso, temos que aprender a mexer com a sombra, ela precisa ser integrada e nossas características más precisam ser vistas como sendo nossas e a sombra, nossa amiga.


Pablo de Assis
Psicólogo

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