“ Não aguentava aquela gente a correr, a azafamar-se, sempre preocupada, sombria e alarmada, que passava por mim nos passeios.
Para que serve a eterna tristeza dessa gente, a eterna inquietude e azáfama dessa gente, a sua eterna maldade tenebrosa( porque são maus?)
Quem tem culpa de que sejam infelizes e não saibam viver quando ainda têm pela frente uma vida?
E cada um mostra os seus farrapos, as suas mãos trabalhadoras, enraivece-se e grita:
Trabalhamos como cavalos, labutamos, sofremos e somos pobres!
Os outros não se esforçam, não trabalham, e são ricos!
Sempre a lamuriar-se, sempre a queixar-se!
Oh, não, eu não tinha pena nenhuma desses parvos, não tinha antes nem tenho agora – e digo-o com orgulho! Se vive, então está tudo ao seu alcance!
Quem tem a culpa de ele não perceber isso?
Como compreendem eles todos, até ao último, onde está a felicidade?
Oh, podem ter a certeza de que Colombo não era feliz na hora de descobrir a América, mas sim quando estava no processo de a descobrir. O que importa é a Vida, apenas a Vida – o processo da sua descoberta, ininterrupto e eterno, e não o facto de descobrir!
Quantos lances pode haver numa vida e quanta coisa dessa vida é para nós desconhecida?
Lançando-se uma semente, uma “esmola”, uma boa acção, assuma a forma que assumir, oferece-se uma parte da nossa personalidade própria e recebe-se uma parte da outra; há uma comunhão e, com um pouco mais de atenção, pode ser-se recompensado com a sabedoria, com as mais inesperadas descobertas.
Abarcar-se-á toda a nossa vida e poderá preencher-se toda a nossa vida.
Por outro lado, todas as nossas ideias, todas as sementes lançadas por nós, que provavelmente já teremos esquecido, germinarão e crescerão; quem de nós receber, transmitirá ao outro.
E como podemos saber que participação isso terá na futura solução dos destinos da humanidade?
E se o conhecimento e o trabalho de toda uma vida nos elevarem, finalmente, até sermos capazes de lançar uma semente enorme, de deixar ao mundo uma ideia gigantesca, então…e assim por diante…
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