terça-feira, 26 de julho de 2022

A Projeção Psicológica






Em psicologia, 
projeção é um mecanismo de defesa 
no qual os atributos pessoais de determinado indivíduo, 
sejam pensamentos inaceitáveis ou indesejados, 
sejam emoções de qualquer espécie, 
são atribuídos a outra(s) pessoa(s). 


De acordo com Tavris Wade, a projecção psicológica ocorre quando os sentimentos ameaçados ou inaceitáveis de determinada pessoa são reprimidos e, então, projetados em alguém ou algo.

A projecção psicológica reduz a ansiedade por permitir a expressão de impulsos inconscientes, indesejados ou não, fazendo com que a mente consciente não os reconheça. Um exemplo de tal comportamento pode ser o de culpar determinado indivíduo por um fracasso próprio. Em tal caso, a mente evita o desconforto da admissão consciente da falta cometida, mantém os sentimentos no inconsciente e projecta, assim, as falhas em outra(s) pessoa(s) ou algo.

A teoria foi desenvolvida por Sigmund Freud e posteriormente refinada por sua filha Anna Freud e, por conta de tal ação, ela também é chamada de "Projecção Freudiana" em certas literaturas.

Apareceu nas “primeiras publicações psicanalíticas” de Freud, mais precisamente no texto “Observações adicionais sobre as neuropsicoses de defesa” de 1896. Nesse texto, Freud um estudo comparativo entre histeria, neurose obsessiva e paranóia, para então compreender e apresentar o mecanismo de defesa dessas neuroses: 

Parte dos sintomas, ademais, provém da defesa primária – a saber, todas as representações delirantes caracterizadas pela desconfiança e pela suspeita e relacionadas à representação de perseguição por outrem. Na neurose obsessiva, a auto-acusação inicial é recalcada pela formação do sintoma primário da defesa: aautodesconfiança. Com isso, a auto-acusação é reconhecida como justificável; e, para contrabalançá-la, a conscienciosidade que o sujeito adquiriu durante seus intervalos sadios protege-o então de dar crédito às auto-acusações que retornam sob a forma de representações obsessivas. Na paranóia, a auto-acusação é recalcada por um processo que se pode descrever comoprojeção. É recalcada pela formação do sintoma defensivo de desconfiança nas outras pessoas. Dessa maneira, o sujeito deixa de reconhecer a auto-acusação; e, como que para compensar isso, fica privado de proteção contra as auto-acusações que retornam em suas representações delirantes. 
FREUD

No texto acima, podemos perceber que Freud descreve a projeção como um mecanismo defesa, onde um conteúdo pulsional é reprimido, modificado e deslocado para um objeto externo. Essa é a visão clássica da psicanálise. 

Num sentido propriamente psicanalítico, Projeção define a “operação pela qual o sujeito expulsa de si e localiza no outro – pessoa ou coisa –qualidades, sentimentos, desejos e mesmo ‘objetos’ que ele desconhece ou recusa(em si)”Para Freud, a projeção designa exclusivamente um mecanismo de defesa “ que vamos encontrar particularmente na paranóia, mas também nos modos de pensar ‘normais’, como a superstição”

Segundo Freud, a projecção é um mecanismo de defesa psicológico em que determinada pessoa "projecta" seus próprios pensamentos, motivações, desejos e sentimentos indesejáveis numa ou mais pessoas. Para alguns psicanalistas e psicólogos trata-se de um processo muito comum que todas as pessoas utilizam em certa medida. 

Peter Gay define projecção como "a operação de expulsar os sentimentos ou desejos individuais considerados totalmente inaceitáveis, ou muito vergonhosos, obscenos e perigosos, atribuindo-os a outra pessoa."

Para entender o processo, podemos considerar uma pessoa que tem pensamentos de infidelidade durante um relacionamento. Em vez de lidar com tais pensamentos indesejáveis de forma consciente, o indivíduo os projecta de forma inconsciente no outro, e começa a acreditar que o outro é que tem pensamentos de infidelidade ou, até mesmo, que ele/ela tem outros "casos". Nesse sentido, a projecção psicológica está relacionada com a recusa, que é o único mecanismo de defesa mais primitivo que a própria projecção. Como todos os mecanismos de defesa, a projecção psicológica fornece uma função para que a pessoa possa proteger sua mente consciente de um sentimento que, de outra forma, seria repugnante.

Compartimentação, divisão e projeção são formas em que o EGO continua a fingir que está totalmente no controle em todos os momentos, quando, na realidade, se trata da experiência humana de transferir modos de agir e/ou motivos instintivos e emocionais, com os quais o "eu" não concorda. É comum, no trauma profundo, os indivíduos não serem capazes de acessar memórias verdadeiras, ou intenções e experiências, mesmo sobre sua própria natureza, porque a projecção é a sua única ferramenta de uso.

O filósofo Ludwig Feuerbach estabeleceu paralelos entre sua teoria da religião com a ideia de projeção psicológica, escrevendo que a ideia de uma divindade antropomórfica trata-se de uma projeção dos medos e ansiedades dos homens.

Robert Bly escreveu Um Pequeno Livro na Sombra Humana" totalmente baseado na ideia de projeção. A "Sombra"—termo usado na psicologia analítica junguiana para descrever uma variedade de projeções psicológicas—refere-se a "projeção material". 

Marie-Louise von Franz ampliou o conceito de projeção para descobrir fenômenos sobre mitologia nos seus Padrões de Criatividade Espelhados nos Mitos de Criação, em que ela escreve: "...onde quer que saibam quando a realidade pára, onde tocam o desconhecido, eles projetam uma imagem de arquétipo."

Quando se aborda o trauma psicológico o mecanismo de defesa é, por vezes, contraprojeção, incluindo a obsessão de continuar e manter-se numa situação recorrente do trauma e a obsessão compulsiva com a percepção do autor do trauma ou sua projecção.

Carl Gustav Jung escreveu que "todas as projeções provocam contraprojeção quando o objeto está inconsciente da qualidade projetada pelo sujeito."

O conceito tinha sido antecipado por Friedrich Nietzsche

"Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Pois quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo também olha para você."








O conceito junguiano de projeção


Sombra, em psicologia analítica, refere-se ao arquétipo que é o lado oposto do nosso ego consciente. 

É, por assim dizer, a parte animalesca da personalidade humana, e corresponde ao id freudiano. 

Para Carl Gustav Jung, esse arquétipo foi herdado das formas inferiores de vida através da longa evolução que levou ao ser humano. A sombra contém todas aquelas atividades e desejos que podem ser considerados imorais e violentos, aqueles que a sociedade, e até nós mesmos, não podemos aceitar. 

Ela nos leva a nos comportarmos de uma forma que normalmente não nos permitiríamos. 

E, quando isso ocorre, geralmente insistimos em afirmar que fomos acometidos por algo que estava além do nosso controle. Esse "algo" é a Sombra, a parte primitiva da natureza do homem. 

Mas a sombra exerce também um outro papel, possui um aspecto positivo, uma vez que é responsável pela espontaneidade, pela criatividade, pelo insight e pela emoção profunda, características necessárias ao pleno desenvolvimento humano. 

Devemos tornar a nossa sombra mais clara possível procurando um trabalho partindo do interior para o exterior. 

A sombra é frequentemente projetada em outra pessoa, que aparece ao indivíduo como negativa.

Ainda que a abordagem junguiana da projeção se faça sobre uma base psicanalítica, ela adquire um caráter mais abrangente, indicando um “mecanismo psicológico geral”), no qual determinados conteúdos psíquicos de um sujeito são deslocados e percebidos como se pertencessem a um objeto externo:
“A projeção é um processo inconsciente automático, através do qual um conteúdo inconsciente para o sujeito é transferido para um objeto, fazendo com que este conteúdo pareça pertencer ao objeto.”
Jung

 "a projeção é um fenómeno característico das camadas inconscientes da psique que está presente nos processos de formação e transformação psíquicas: Na análise clínica constatou-se que os conteúdos inconscientes se manifestam sempre, primeiro, de forma projetada, sobre pessoas e condições objetivas”
 Jung

Ela acontece de forma espontânea e autónoma, e designa o modo através do qual determinados conteúdos constelados (Na obra de Jung, o termo constelação indica “o conjunto de elementos psíquicos dotados de forte tonalidade afetiva agrupados ao redor de um conteúdo psíquico (...) – chamado núcleo – (...), carregado de energia e significado, e, portanto, de elementos cognitivo-afetivos”) num indivíduo se tornam inicialmente disponíveis à consciência do EU (EGO). Pode-se dizer que os conteúdos projetados são aqueles que têm uma tendência energética para se tornarem conscientes. 
“(...) o sujeito desprende de si um conteúdo – um sentimento, por exemplo – e fixa-o num objeto, animando-o (...) e atraindo-o para a esfera subjetiva” (Jung).

Segundo Jung, “a experiência mostra (...) que nunca se projeta conscientemente”, já que a projeção indica, via de regra, um conteúdo inconsciente para o próprio sujeito, algo que aparentemente não lhe pertence: 
“Quando um conteúdo é (...) substituído por uma imagem projetada, isso determina sua exclusão de qualquer influência e participação no tocante à
consciência” (Jung).

O mecanismo de projeção cessa no momento em que ele se torna consciente – “muitas projeções são integradas no indivíduo definitivamente, pelo simples reconhecimento de que fazem parte do seu mundo subjetivo” (Jung). Neste sentido, um conteúdo projetado só poderia ser reconhecido como tal a posteriori: “O termo projeção designa um estado de identidade que se tornou perceptível e objeto de crítica (...) quer por parte do sujeito, quer alheia” (Jung).

A conceção junguiana de inconsciente – com a sua característica subdivisão entre uma camada pessoal e outra coletiva – também encontra ecos nas construções em torno do conceito. Segundo Jung, os fenómenos de natureza pessoal tendem a ser mais facilmente reconhecidos como projeções “devido à facilidade com que poderiam tornar-se conscientes” (Jung). 

O mesmo não se daria com manifestações consideradas arquetípicas:
“Se realmente existe um inconsciente que (...) é não pessoal, isto é, que não seja constituído de conteúdos adquiridos individualmente (esquecidos, percebidos
subliminarmente, reprimidos), então deve haver necessariamente processos intrínsecos a esse Não-Eu, acontecimentos arquetípicos espontâneos, que só
podem ser captados pela consciência através das projeções. (...) Ele se manifesta nas fantasias, nos sonhos e alucinações, bem como em certos estados de êxtase religioso.”
Jung

Jung parece indicar, nesta passagem, que os conteúdos arquetípicos têm uma forte tendência
para se manifestar através de projeções, mas isso não significa que os fenómenos supracitados
comportem somente características tidas como arquetípicas.

No contexto junguiano, a projeção é compreendida como um processo de dissimilação no qual determinado conteúdo subjetivo é transferido e incorporado a um objeto externo.  
Jung usa o termo para exprimir “uma etapa específica do contínuo processo de estruturação e desestruturação das representações individuais e coletivas de si e do mundo”. 

Pietro Ubaldi descreve este mecanismo a partir de dois níveis de compreensão: 
o níve afetivo-cognitivo, e 
o nível das instâncias psíquicas.

No Nível Afectivo-Cognitivo, 
A projeção diria respeito a uma alteração na interpretação da realidade, que se caracterizaria pela impossibilidade de distinção entre o chamado “plano material dos objetos” e as suas representações subjetivas – “ na projeção (...) presumimos que aquilo que é visto no objeto não é subjetivo, mas
inerente ao objeto” (Jung). Segundo Jung, a percepção originária dos objetos resultaria menos “do comportamento objetivo das coisas” que “de fatos intrapsíquicos”. Esses, por sua vez, estão
relacionados com a realidade externa “somente mediante a projeção”:
"As nossas concepções de vida, das outras pessoas, e do modo como o
mundo está construído são formadas, de um modo sumamente importante, por
conteúdos inconscientes projetados no meio circundante.”
Stein

Todo conteúdo ativado no inconsciente surge inicialmente sob a forma de projeção.
Neste sentido, a razão psicológica da projeção “é sempre um inconsciente ativado que procura expressão” (Jung)

O mecanismo de projeção cria uma visão de mundo baseada mais em imagens formadas a partir da estrutura psíquica inconsciente do que “em percepções comprovadas da realidade”. 
Mesmo que o objeto contenha a característica projetada, a projeção não deixa de ser um mecanismo subjetivo. Ainda assim, ressalta Jung, “a experiência mostra que o portador da projeção não é um objeto qualquer, mas (...) se ajusta à natureza do conteúdo a ser projetado, isto é, oferece um gancho adequado” à receção deste conteúdo. 


Quanto à projeção compreendida 
no nível das instâncias psíquicas, 
ela designa um processo psicológico inconsciente que efetua o deslocamento de conteúdos subjetivos para objetos externos. Nele, o EU(EGO) não percebe estes conteúdos como partes constituintes da personalidade, mas os reconhece e os identifica nos objetos portadores da projeção.

Para Jung, “nada há de espantoso no fato de o inconsciente aparecer projetado ou simbolizado, pois de outra forma ele nem seria percebido”.

De acordo com esta frase, “o processo projetivo resulta igualmente fundado sobre a
característica fundamental da dissociabilidade psíquica”  que pressupõe, por sua vez, uma certa incomunicabilidade entre as diferentes instâncias psíquicas, bem como a necessidade egóica de fragmentar e analisar elementos psíquicos que surjam de forma caótica.
O nosso EU/EGO protege-se através da:
- Compartimentação
- Divisão
- Projeção

A noção de projeção está fundamentalmente ligada ao desenvolvimento da consciência, uma vez que todo o conhecimento consciente se efetua a partir das projeções. 




PERCEPÇÃO E PROJEÇÃO  
CARL GUSTAV JUNG

"Os nossos olhos podem ver a imagem,mas é nosso cérebro que interpreta o mundo visual e gera respostas congnitivas e emocionais"
Zimmmerban, In "Neurociências em benefício da Educação"

Carl Gustav Jung diz que 
"o pêndulo da mente se alterna entre perceber e não-perceber, e não entre certo e errado.

Segundo Mauro Pennafort 
"toda a informação que chega ao nosso cérebro é comparada com a informação anterior e o sistema nervoso automaticamente procura adequar os novos dados aos padrões já registados. Por isso quanto mais você sabe, mais consegue aprender. E por isso também as pessoas que pensam que já  sabem demais têm dificuldade para aprender coisas novas. 

Pennafort  diz que  Carl G. Jung estudou as diferenças de perceção de uma mesma situação para pessoas com históricos de vida diferentes e, chegou ao famoso princípio que é também um dos pressupostos mais importantes da programação neurolinguística: 

"percepção é projeção"

Ou, como disse Anais Nin,
" não percebemos as coisas como são, 
vemos as coisas como somos"

Soares Felipe comentando sobre esta colocação de Zemmmerberg, diz  que:  
"Nossos olhos não vêm nada. Quem vê é o cérebro.
O ambiente propaga frequências de luz (ou energia) e o cérebro monta "a imagem" que nós pensamos estar a ver diante dos nossos próprios olhos. Mas tudo acontece no cérebro. A luz passa pela retina e somente então a imagem é processada"

Maurilio Carneiro Coura: 
"O nosso cérebro grava TUDO o que vê, ouve, sente, pensa... desde antes do parto. 
O Nosso cérebro é dividido em dois: físico - o que morre e vai se decompor; o não-físico, que mantém tudo aquilo que gravou durante a vida material. Confirmado por cientistas."

O grande desafio é alcançar um estado de consciência onde possamos obter essa plena perceção do que necessitamos para sermos felizes. E, assim, termos equilíbrio para buscarmos no meio aquilo que nos satisfaz promovendo saúde física e mental. 
Nesse caminho ser capaz de discernir a diferença entre, a dor que faz crescer, da dor que impede a constituição do Ser. Há dores que destroem  os mecanismos de crescimento.
É necessário se livrar dela tomando decisões assertivas. 
Há dores que fazem  crescer apesar de nos afastar do  prazer que nos paralisa a buscar o real sentido de vida.
  
O autor Ginger, no seu livro "Mecanismos de Defesa", diz que 
"O homem saudável identifica a sua necessidade dominante em determinado momento (figura), escolhe a forma de satisfazê-las e se dispõe a atender à nova necessidade (nova figura), dando curso ao fluxo permanente de formações e dissoluções"

Partindo deste princípio podemos dizer que a subjetividade é uma dádiva, o ser é um mistério a ser desvendado. Cada um é único no Universo, cada um de nós tem sua impressão digital própria. Nada se repete. Nenhum pensamento se origina da mesma fonte. Nenhuma experiência produz, rigorosamente, o mesmo comportamento. Nada pode ser definido como absoluto. 

 Como disse Tizuka Yamasaki : 
"O que diferencia uma pessoa de outra é o seu imaginário, a interpretação que dá aos fatos da vida.
Por isso, A busca da autenticidade é mais legítima do que a busca pela perfeição"
A busca da autenticidade é mais legítima do que a busca pela perfeição. 
Sempre que as tuas " imperfeições" te incomodarem, lembra-te : 
Não busques a perfeição. Ela não existe. 
Busca a plenitude e a autenticidade.

Citando Friedrich Nietzsche : "Ouse conquistar a si mesmo"

Segundo RUDIO,
"Ser, enquanto construção pessoal, é fruto da responsabilidade assumida com relação à própria existência, na busca de mantê-la e aperfeiçoá-la; é buscar realizar-se dentro das condições de seu existir no mundo. 
Não-Ser é a negação de si, infidelidade para consigo mesmo e a frustração das próprias realizações pessoal. A busca pelo Parecer-Ser e Parecer-Ter, é representar papéis na busca de estima, admiração, prestigio e poder, papéis estes que não tem nada a ver com o indivíduo em questão."

Ao perpetuar este jogo de papéis e travessias de  superficialidade  deixamos de desenvolver meios mais eficazes de sermos  quem realmente deveríamos ser, e as máscaras vencem disparando seus papéis mal interpretados nos deixando aquém de nós mesmos.
Sabe-se que as exigências sociais são selvagens, e as exigência internalizadas ao longo da vida nos transportam para uma distância anos de luz de nós mesmos. 

Mas segundo Frederick Perls: 
“Quanto mais a sociedade exige que o indivíduo corresponda aos seus conceitos e ideias, menos eficientemente ele consegue funcionar”. 

Por isso Friedrich Nietzsche propõe uma ruptura com esse sistema mecanicista ao dizer : 
"Espírito livre é aquele que pensa de forma diferente do que se espera dele, em virtude de sua origem, de seu meio, de sua posição e de seu ofício, ou em virtude dos pontos de vista dominantes de sua época."

É essencial essa busca pela autenticidade e liberdade de ser.
Liberdade enquanto Ser aquilo que se é, e não fazer o que quiser.


"Algumas pessoas irão te amar 
e não será porque você é engraçado,
será porque eles precisam rir.
Algumas pessoas vão te odiar 
e não será porque você é arrogante,
será porque você se parece com os pais delas.
As pessoas não odeiam você por quem você é,
elas odeiam a parte delas que você reflete.
As pessoas vão te amar,
as pessoas vão te odiar,
e nada disso terá nada a ver com você”



  "Se não quisermos ser feitos 
de tolos pelas nossas ilusões 
devemos, pela análise cuidadosa 
de cada fascínio, 
extrair deles uma parte de nossa personalidade, 
e reconhecer lentamente que 
nos encontramos connosco mesmos 
repetidas vezes, 
em mil disfarces, 
no caminho da vida."
 
Carl Gustav Jung
  
  








  
O hábito da projeção nos outros

A projeção é uma atitude imatura do ego, em que tudo o que é desconfortável, proveniente dos complexos, da sombra, das negatividades, sofrimentos e confusões do inconsciente é projetado nos objetos e nos outros, no ambiente que circunda a pessoa.
Ao projetar no ambiente e pessoas, ocorre um processo de fragilização, pois a dependência do seu bem-estar fica atrelada à aprovação de terceiros, situações perfeitas, contextos ideais. Na medida em que a pessoa abdica de sua própria consciência sobre o que projeta externamente, esses conteúdos passam a ter domínio sobre ela.

Ao não ter mais o poder de gerar mudanças, ou pelo menos perder grande parte desse poder – já que as pessoas, acontecimentos e circunstâncias ora controlamos e ora não – a pessoa passa, sem perceber, a gerar um processo de incriminação, irritação, oposição com o ambiente externo. Isso, tomado em escala coletiva, pode ser muito bem o elemento sustentador de várias guerras, violências e inimizades.

Nessa mesma perspectiva, certamente a maior contribuição social, humanitária, e responsável que podemos fazer com a raça e com o planeta e Universo, é a atitude consciente a respeito dos monstros emocionais que nos habitam. Olhar para eles, conversar e poder entendê-los faz parte do processo de individuação do ser humano, permitindo-nos a desidentificação com esses núcleos de confusão emocional criados em outros tempos.

Quanto menos conscientes desses complexos negativos, mais dominância eles exercem sobre nosso comportamento usual. Muitas vezes podemos passar uma existência completa inconscientes do nosso Universo interno de crenças, olhares, visões, valores e emoções.

As consequências desse modo de ser inconsciente se manifestam de maneiras muito lamentáveis, como quando agredimos um semelhante, roubamos, somos rudes, gritamos, perdemos completamente o senso do outro e, quando estamos apenas focados em nos defender, atacar e sobreviver.

   
A compreensão de Jung acerca da projeção é, até certo ponto,  próxima da psicanálise, especialmente em seu aspecto estrutural, segundo Jung,  “A projeção – onde quer que os conteúdos subjetivos sejam transportados  para o objeto, surgindo como se a ele pertencesse – nunca é um ato voluntário”(JUNG). Contudo, a semelhança termina por aqui.

No que diz respeito ao aspecto funcional, a compreensão de Jung é outra, pois, para ele o mecanismo de projeção fazia parte da dinâmica normal (ou  natural) da psique, podendo estar relacionada a uma dinâmica saudável da psique ou atuar como uma mecanismo de defesa como na patologia(como era na visão de Freud). Toda e qualquer afirmação acerca de um caso específico onde a projeção se manifesta deverá considerar seu próprio contexto.
  
É possível projetar certas características em outra pessoa que não as possui em absoluto, mas, a pessoa sobre a qual se dá a projeção pode, inconscientemente, encorajar a tal projeção. Em tais casos é frequente ver que o objeto oferece uma oportunidade de escolher a projeção, ou mesmo a provoca. 
Isto acontece quando o objeto (pessoa) não está consciente da qualidade projetada. 
Com isto ela atua diretamente sobre o inconsciente do interlocutor. 
Com efeito, qualquer projeção provoca uma contra-projeção todas as vezes que o objeto não está consciente da qualidade projetada sobre ele pelo sujeito.
JUNG
  
1 – Muitas vezes a projeção é provocada, incentivada, ou motivada por certas características do objeto.

2 – A projeção pode significar uma relação inconsciente de dois individuos.

3 – A projeção provoca uma contra-projeção.

Esses três aspectos estão intimamente relacionados, acredito que um exemplo, pode nos ajudar:

Um rapaz imaturo, dependente,  indeciso, com um complexo materno acentuado, pode projetar numa mulher forte e independente (com quem tenha ou não relação afetiva), aspectos de seu complexo materno, mesmo que essa mulher não apresente características maternais, pode vir, devido a projeção, apresentar características de cuidado maternal. Esses atributos de “independência e força” podem servir de “gancho” favorecendo a projeção, isto é, oferecendo um “gancho” para que a projeção fosse “pendurada”.
  
Assim, compreendendo que a projeção corresponde a uma dinâmica natural da psique, Jung diz:

A projeção tem, também, efeitos postivos. No dia-a-dia, ela facilita as relações interpessoais. Além disso, quando supomos que alguma característica ou qualidade está presente em uma pessoa, e constatamos, então, pela experiência, que a suposição não tem fundamento, podemos aprender algo sobre nós mesmos.
Por isto, enquanto o interesse vital, a libido, puder utilizar estas projeções como pontes agradáveis e úteis, ligando o sujeito com o mundo, tais projeções constituem facilitações positivas para a vida. Mas logo que a libido procura seguir outro caminho e, por isto, começa a regredir através das pontes projetivas de outrora, as projeções atuais atuam então com os maiores obstáculos neste caminho, opondo-se, com eficácia, a toda verdadeira libertação dos antigos objetos.
JUNG 
  
 As projeções propiciam a dinâmica interpessoal. Essas projeçôes diminuem as defesas e auxiliam o individuo a se permitir à experiência.

A necessidade de retirar as projeções é, geralmente, indicada por expectativas frustradas nos relacionamentos, acompanhadas de um forte afeto. Jung era da opinião, contudo, que enquanto houver uma discordância óbvia entre aquilo que imaginamos ser verdade e a realidade que se nos apresenta, não há necessidade de se falar em projeções e menos ainda de retira-las.Mas só se pode denominá-la projeção quando aparece a necessidade de dissolver a identidade entre sujeito e objeto. Esta necessidade aparece quando a identidade se torna empecilho, isto é, quando a ausência de conteúdo projetado prejudica muito a adaptação, e o retorno desse conteúdo para dentro do sujeito se torna desejável. A partir desse momento a prévia identidade parcial adquire o carater de projeção. Esta expressão designa, pois, um estado de identidade que se tornou perceptível
JUNG
  
Somente podemos falar em projeção quando ela se torna desfuncional, nesse caso, será perceptível a incompatibilidade entre as percepções do sujeito e a realidade do objeto. Antes disso, ela será apenas parte da dinâmica natural.

Jung ainda fazia uma distinção entre projeção ativa e passiva. 
Em linhas gerais, a projeção ativa seria o que chamamos de empatia, “sentir com o outro” ou “sentir como o outro” o que poderia chegar a identificação. Por outro lado, a projeção passiva seria o que compreendemos normalmente como a projeção, um fenómeno inconsciente que nos toma.

Frente ao que comentamos, fica mais claro para compreender algumas das projeções específicas, como a sombra, anima ou animus e os complexos. 
De forma geral, para haver a projeção é necessário um “gancho” sobre o qual possa se estabelecer essa projeção. 

No caso da sombra, que está relacionado com os aspectos próprios negados pelo Ego, a tendência é a projeção em pessoas do mesmo sexo. Pois, a identidade se torna mais clara. Essa projeção da sombra, em alguns casos é “aversiva”  e o individuo vai se sentir “perseguido” ou tendo no receptáculo da projeção um inimigo. Em outros casos, a projeção da sombra se torna atraente, pois, a projeção da sombra pode indicar justamente aspectos subdesenvolvidos, que o sujeito precisa se desenvolver.

Por outro lado, a projeção da anima do homem ou do animus na mulher, vão sempre se relacionar a pessoas do sexo oposto. Isso porque os aspectos que vão constituir a anima ou animus não estão relacionados com a identidade do ego, mas, podem ser compreendidos como o totalmente outro.   

Acredito ser importante compreendermos que os vários aspectos da projeção, quer numa dinâmica de defesa ou na dinâmica saudável, têm por finalidade última favorecer o encontro do individuo consigo mesmo. Ao projetar um conteúdo no meio externo o inconsciente não “esconde” esse conteúdo, mas, expõe o individuo a esse conteúdo de uma forma que não ofereça tanto perigo ao Ego, possibilitando que, no momento certo, o individuo possa confrontar e integrar esse conteúdo, dando mais um passo no processo de individuaçao.
  
  
Referências Bibliográficas

FREUD, S.  Observações adicionais sobre as neuropsicoses de defesa. In: FREUD, S. Obras completas. 

JUNG,C.G. Vida Simbólica Vol. I 

JUNG,C.G. Tipos Psicológicos

JUNG,C.G. A Natureza da Psique
  
  
  
  

domingo, 24 de julho de 2022

CONFRONTO



Volodymyr Tverdokhlib






Bateu, Amor à porta da Loucura.
Deixe-me entrar, pediu, sou teu irmão.
Só tu me limparás da lama escura
a que me conduziu minha paixão.

A Loucura desdenha recebê-lo,
sabendo quanto o Amor vive de engano,
mas estarrece de surpresa ao vê-lo,
de humano que era, assim tão inumano.

E exclama: Entra correndo, o pouso é teu.
Mais que ninguém mereces habitar
minha casa infernal, feita de breu.

Enquanto me retiro, sem destino,
pois não sei de mais triste desatino
que este mal sem perdão, o mal de amar.


Carlos Drummond de Andrade





A loucura



Denis Kabelev





 

A loucura, longe de ser uma anomalia, é a condição normal humana. Não ter consciência dela, e ela não ser grande, é ser homem normal. Não ter consciência dela e ela ser grande, é ser louco. 
Ter consciência dela e ela ser pequena é ser desiludido. 
Ter consciência dela e ela ser grande, é ser génio.


Fernando Pessoa
in, Aforismos e Afins



 

Os Verdadeiros Burros e os Falsos Loucos

 





O mais esperto dos homens é aquele que, pelo menos no meu parecer, espontaneamente, uma vez por mês, no mínimo, se chama a si mesmo asno..., coisa que hoje em dia constitui uma raridade inaudita. Outrora dizia-se do burro, pelo menos uma vez por ano, que ele o era, de facto; mas hoje... nada disso. E a tal ponto tudo hoje está mudado que, valha-me Deus!, não há maneira certa de distinguirmos o homem de talento do imbecil. Coisa que, naturalmente, obedece a um propósito. Acabo de me lembrar, a propósito, de uma anedota espanhola. Coisa de dois séculos e meio passados dizia-se em Espanha, quando os Franceses construíram o primeiro manicómio: «Fecharam num lugar à parte todos os seus doidos para nos fazerem acreditar que têm juízo». Os Espanhóis têm razão: quando fechamos os outros num manicómio, pretendemos demonstrar que estamos em nosso perfeito juízo. «X endoideceu...; portanto nós temos o nosso juízo no seu lugar». Não; há tempos já que a conclusão não é lícita. 

Fiodor Dostoievski
in, "Diário de um Escritor"




quinta-feira, 21 de julho de 2022

....................... my own family didn't support me

 


Tale of a Former Black Sheep


Rob Tol







For years I wore
your shame as my own
and lived unknown
in terror of being seen
like a leper
self-quarantined
intrinsically unclean

Your neglect
became to me
my insignificance
undeserving of your glance

Your abuse
became to me
my fault and utter blame
my soiled but rightful name 

Your abandonment
to me
was my unworthiness
unfit and valueless

'Til this layered shame became
a camouflaging cloak
wrapped about with care
disguising me as if
I wasn't even there

How I avoided them
my friends so true
for they could plainly see
the agony in me
and I couldn't control
it radiating through

Yet butterflies won't stay bound
in crippling cocoons
integrity impugned
by wings that cannot fly-
and I at last have found
the answer to my wounds
in exposing you
and all your lies

You were cruel-
I do matter

You were guilty-
I am not to blame

You were unfit-
I am worthy

You nearly destroyed me-
But I overcame

Now my only dread is
of leaving this world
as un-notably as I came
as invisibly as I lived
to be known only 
by others
as unredeemed as
you thought me to be-
No! the truth
will set me free...

I humbly give
this cloak to you
it was yours to wear
not mine to share

I'm through

I'm through

I'm through.


Rhona McFerran 




A Viagem da Ovelha Negra






O fenómeno da Ovelha Negra 
é bem real,  
não estamos a fazê-lo sozinhos e, 
este caminho 
não é para fracos de espírito! 



Esses são fáceis de encontrar pois estão algures presos a um qualquer rebanho social, familiar ou profissional, seja a dominar ou a ser dominados, em profundo estado de ilusão, irresponsabilidade e inconsciência tanto pessoal como espiritual. 

Aliás, onde há dependência, drama, toxidade, cobrança, violência, há rebanho e as suas típicas violências e projeções.
Onde há silêncio, trabalho, autonomia, solitude e responsabilidade pessoal, há uma Ovelha Negra que se cansou e se comprometeu em trilhar um novo caminho e a não compactuar mais com os dramas do velho rebanho.

Mas se a mente percebe bem o fenómeno e até o aceita e facilmente escolheria pelo sentido que ele faz e pela oportunidade de cura que ele oferece, as emoções não seguem à mesma velocidade e precisam de mais tempo para processar as dores que essa corajosa escolha acarreta ao longo do caminho:
  • Sensação de solidão - pela primeira vez em séculos, provavelmente, não vais sentir apoio, não vais poder depender de ninguém. Mas vais descobrir que consegues caminhar sozinho e que esses primeiros passos são o princípio da liberdade.
  • Desamparo - sim, vais aprender que quando caíres, não está ninguém para te amparar. Mas vais aprender sobre autonomia, resiliência e que consegues levantar-te e seguir sozinho sem ajuda.
  • Ressentimento - não te zangues com quem não te ajuda ou até dificulta a tua já por si desafiante proposta. Graças a eles vais desenvolver a auto-preservação, a coragem, a autoridade, saber por limites, e perceber que és mais e consegues mais do que alguma vez imaginaste.
  • Julgamento - Sim, vão-te chamar todos os nomes, acusar das mais variadas maneiras, fazer de tudo para te quebrar e fazer desistir da tua viagem. São apenas testes à tua firmeza, aprender a ignorar referências externas, a não permitir que os outros te definam e a reconectar com a vozinha do teu coração.
  • Tristeza - Faz parte do pacote de quem já rebentou a bolha das ilusões de viver no rebanho e se atreveu a aceitar que a sombra é uma realidade e faz parte da vida. Em breve descobrirás que a verdadeira alegria só é possível quando aceitamos a tristeza. 
  • Medo - O maior dos monstros. O caminho entre a imaturidade e a inconsciência e a Liberdade, Independência e Sucesso é íngreme, exigentíssimo, cheio de obstáculos, longo e vagaroso e não permite corta matos. Não raras vezes iremos querer desistir, acreditar que não somos capazes de o fazer. Mas é confiando e persistindo, que ele nos levará às tão ansiadas Liberdade, Independência e Sucesso.

O preço da cura, de conquistarmos esse novo patamar de crescimento e abundância é alto mas simples: desistir, libertar, morrer para todo e qualquer velho mecanismo de apego, projeção, manipulação, acusação, culpabilização, vitimização, ou seja, qualquer traço que revele imaturidade e falta de responsabilidade pessoal.

Se queres perceber em que parte do caminho estás, observa-te:

- Qual o teu grau de dependência financeira dos outros?
- Qual o teu grau de dependência emocional dos outros?
- Qual a tua capacidade de lidares com os desafios sem ajuda dos outros?
- O que é mais importante para ti; as tuas relações com os outros  ou a tua relação contigo mesmo?
- Qual a tua capacidade de resiliência quanto às provocações e testes de quem está no rebanho?
- Ainda te deixas arrastar pelo drama alheio?
- Já te rendeste à ideia de que a dor e os desafios que te rodeiam são o preço que estás a pagar pelas velhas escolhas feitas do tempo do rebanho?

Volto a repetir, a viagem da Ovelha Negra não é para fracos de espírito. 
Aproveito mesmo para validar e aplaudir a coragem de todas as almas que encarnaram com este projeto de evolução. Acreditem, não estão sozinhas!

E porque o Universo é uma criação inteligente e amorosa, algures a superação será recompensada e iremos curar e retornar à Essência de Abundância e Amor perdida.


Vera Luz




quarta-feira, 20 de julho de 2022

TESTAMENTO DA MULHER SUSPENSA



Nirav






Eis o que vos deixo:
um leve gosto
de renascer lembrada.

E um falso desejo de ser esquecida.

Que eu virei
buscar a espuma da onda
que ficou para sempre por quebrar.

Beleza não me bastou:
o que quis ser
foram cetins de fogo,
pétalas de cinza depois do abraço.

Nem flor invejei:
o que mais ilumina
vem de um oceano escuro.

Esperanças tive: todas naufragaram
ante cansaços e remorsos.
Procurei ilhas e mares:
só havia viagens,
travessias de água
nos olhos de quem amei.

Num mundo com remédios parcos
não clamei bravuras.
Injusto é viver
em perecível ser.

Menina,
aprendi a desenrolar tapetes
em rasos pátios voadores,
varandas maiores que o mundo
onde o tempo à nossa mão vinha beber.

Meus pequenos dedos
rasgaram céus,
mas o ensejo era largo:
em mim secaram
lembranças de um mar antigo.

Assim,
tudo o que sou
já fui
na criança que sonhou ser tudo.

Meus lutos, sem emenda, carrego:
viuvez de mulher
não vem de marido.

Vem do amor não mais sonhado.

Com a fragilidade de um riso
enfrentei ruínas e derrotas
e apenas a vida, calada, me calou.

Tudo falei com meus amantes.
Perante o amor, porém, não tive palavra.
O que da vida me restou:
pegadas alheias sob meus pés molhados.

Viver sabe quem ainda vai viver.

Deixo-me,
mulher que quase foi,
à mulher que nunca fui.


Mia Couto
in, Tradutor de Chuvas




CHIRON IN ARIES RETROGRADES







What hurts? What stings, is making you sad, frustrated or grumpy? It’s in the air…

Today, July 19, Chiron in Aries moves retrograde.

This offers many of us the chance to reflect on Groundhog Day type wounds. These painful patterns repeat because we are only halfway to understanding how to soothe the ache, or stop the pattern from creating suffering in our life.

What to do? INTEGRATE.

Integration is the process we undertake; we actively engage in self awareness, identify where we are in conflict, where we are engaging in blame, and become courageously willing to more truly see where we are separating from ourselves, where we are splitting off from deep wounds that want to be named, valued and felt (where we feel: abandoned, rejected, violated, denied, neglected, unloved).

Through deeper acknowledgement, by courageously feeling the pain and telling the truth about it, we embrace those self parts and include them in our identity. This is how we become whole. This is how we stop re-enacting a repetitive and painful cycle of suffering.

Chiron and the Healing Journey 
is the BEST book about Chiron. 


Chiron is stationing on my natal Moon-Chiron conjunction, so you can bet I’m feeling this right now. I’ve been curling up with this wonderful book, and journaling my reflections in my JUST LOVE journal.

Here’s more of what I’ve been personally re-exploring:

-Chiron holds repetitive patterns that feel we can never quite get healing resolution around.

-This repetition cycle enacts a wounding cycle where we are aware of a hurt or pain but feel unable to stop it from re-occurring.

-These wounds feel compulsive, and very difficult to sort through for a variety of reasons.

-Once we learn we cannot get these needs, desires, wants met, we may stop asking for this from our Self (Aries), or we simply don’t know how to do this for our Self because we weren’t shown how- which creates inner conflict and suffering.

-In this area, described by Chiron’s placement, we may feel unappreciated, rejected, neglected, abandoned and/or different.

-We tend to easily get stuck in cycles of blame in this area, mistaking the symptom for the actual CAUSE, we blame the person/thing/issue/conflict/difference instead of seeing the REAL problem — which is actually an internal psychological complex we are carrying with us from childhood. More deeply, we are trying to heal/address/fix a childhood wound. This is why we keep re-experiencing suffering. This requires both courageous truth-telling, and courage to feel the pain.

-If this wound involves a lot of defenses to the feeling/naming of it, we may have to more gently “take down our walls” over time.

-You may need to engage a number of healing tools and techniques in order to understand and heal this.

-The entire process at work is to allow the pain, and your limited understanding of it, to goad/irritate you to a place of greater understanding, self-awareness… and therefore freedom of choice. You can get to the place where the issue no longer compulsively controls your life and causes you to suffer, even if it keeps reoccurring. Commit to: feeling the pain (remember: it’s only pain, it won’t kill you), and then investigating it with more honesty and compassion, and you will get there.

-A hard truth that can free you is: This painful thing may not entirely go away, if ever (a chronic illness, terminal disease, difference, disability, for instance)… but your suffering around it can. Your WILLINGNESS, to figure out how to do that for yourself, is key.

-Those of us who have a strong Chiron signature in our natal chart often become healers and teachers. For us, the pain/difference is not just temporary, it is a lifelong PATH — and constantly working on this is a way for the Soul to self-actualize and feel fullness.

-Eventually, this process blooms into wisdom, self-love and the satisfaction of leading a self-aware, authentic, WHOLE SELF life.

Love yourselves, friends. ALL parts of you!



Jessica Shepherd



segunda-feira, 18 de julho de 2022

Quando vier a Primavera







Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme

Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.
Se soubesse que amanhã morria

E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.


Alberto Caeiro
In, Poemas de Alberto Caeiro




A Morte Não É Nada Para Nós


Nashoba




Habitua-te a pensar 
que a morte não é nada para nós, 
pois que o bem e o mal 
só existem na sensação. 


Donde se segue que um conhecimento exacto do facto de a morte não ser nada para nós permite-nos usufruir esta vida mortal, evitando que lhe atribuamos uma ideia de duração eterna e poupando-nos o pesar da imortalidade. 

Pois nada há de temível na vida para quem compreendeu nada haver de temível no facto de não viver. 
É pois, tolo quem afirma temer a morte, não porque sua vinda seja temível, mas porque é temível esperá-la.

Tolice afligir-se com a espera da morte, pois trata-se de algo que, uma vez vindo, não causa mal. 
Assim, o mais espantoso de todos os males, a morte, não é nada para nós, pois enquanto vivemos, ela não existe, e quando chega, não existimos mais.

Não há morte, então, nem para os vivos nem para os mortos, porquanto para uns não existe, e os outros não existem mais. 
Mas o vulgo, ou a teme como o pior dos males, ou a deseja como termo para os males da vida. 

O sábio não teme a morte, a vida não lhe é nenhum fardo, nem ele crê que seja um mal não mais existir. 


Assim como não é a abundância dos manjares, 
mas a sua qualidade, que nos delicia, 
assim também não é a longa duração da vida, 
mas seu encanto, que nos apraz. 


Quanto aos que aconselham os jovens a viverem bem, e os velhos a bem morrerem, são uns ingénuos, não apenas porque a vida tem encanto mesmo para os velhos, como porque o cuidado de viver bem e o de bem morrer constituem um único e mesmo cuidado.


Epicuro
in, "A Conduta na Vida"