quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Ternura de Fundo







 Nos velhos discos de jazz também gosto 
de ouvir o ruído que vem do público. 
Há alguém que grita com a voz rouca, 
feliz pela prestação dos músicos. 
Há aplausos; um copo partido. 
O pulso do lugar no subúrbio 
de uma cidade do Sul. Momentos únicos 
que regressam sempre do passado. 
A vida deve ser qualquer coisa assim, 
para lá da morte: o perdido 
rumor de vozes numa noite de música. 
E a nossa alma imortal deve ser 
este instante preciso, frágil, breve, 
em que um copo retine num velho disco de jazz. 



Joan Margarit
in, "Misteriosamente Feliz"






Sem comentários:

Enviar um comentário