sábado, 8 de janeiro de 2022

DO CAIS

 





Todos os barcos partiram já
deste cais improvisado no abandono
das memórias queimadas, partiram sem velas,
e ninguém reconheceu o rasto incerto
do definitivo longe.

Só agora dou pelo peso do esquecimento.
A espuma embrulha-me com limos, espanto e sal.
E uma inviolável concha flutua na minha existência.

Apago as estrelas com a manga da absoluta solidão,
percebo que nenhuma luz me habita os olhos
- e fico cego diante do espelho.

Ninguém reconheceu que se morria.


Vasco Gato
in,  "IMO"




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