segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Quando a rotina nos limita - A Vaquinha







Não é difícil ficar preso em uma rotina limitante. Nós ficamos tão habituados com a forma como fazemos todas as coisas que perdemos, com o tempo, a nossa habilidade de testar novas possibilidades. A rotina é tão confortável, tão segura, e nos acostumamos tão rápido com ela que até nos esquecemos disso. No entanto, a história da vaquinha é uma daquelas que funcionam como um despertador. Um despertar para o que não vemos no nosso quotidiano, mas que nos afeta muito mais do que imaginamos.

Graças a esta história, descobriremos o verdadeiro significado dessa vaquinha, quais são as suas vantagens e o quanto podemos nos tornar dependentes de tudo que ela nos dá. Mas acima de tudo, ela nos ajudará a descobrir qual é a vaquinha da nossa vida.

“A rotina é outra maneira de morrer”.
– Anónimo –


A história da vaquinha
A história da vaquinha fala sobre um sábio que passeava pelo campo com o seu discípulo. Um dia, eles encontraram uma humilde casa de madeira, habitada por um casal e seus três filhos. Todos estavam mal vestidos, com roupas sujas e rasgadas. Seus pés estavam descalços e o ambiente aparentava uma pobreza extrema.

O sábio perguntou ao pai como eles faziam para sobreviver, já que naquele lugar não havia indústrias ou comércio, e não se via riqueza em nenhum lugar. Calmamente, o pai respondeu: “Temos uma vaquinha que nos fornece vários litros de leite todos os dias. Vendemos uma parte dele e com dinheiro compramos outras coisas que necessitamos. O restante usamos para o nosso próprio consumo. Dessa forma, sobrevivemos”.

O mestre agradeceu a informação, se despediu e foi embora. Quando se afastaram da casa, ele disse ao discípulo: “Volte lá, pegue a vaquinha e jogue-a do penhasco”.

O jovem ficou chocado, porque a vaquinha era o único meio de subsistência daquela família humilde. Mas ele pensou que o seu mestre teria seus motivos e, com muito pesar, levou a vaquinha até o penhasco e a empurrou. Essa cena ficou gravada na sua mente por muitos anos.

Depois de algum tempo, o discípulo, culpado pelo que tinha feito, decidiu deixar o mestre, retornar a aquele lugar e pedir desculpas àquela família para a qual causou tanto mal. Ao aproximar-se, observou que tudo havia mudado: naquele lugar havia uma bela casa cercada por árvores onde muitas crianças brincavam, além de um carro estacionado.

O jovem sentiu-se triste e desesperado porque achou que aquela família humilde havia vendido tudo para sobreviver. Quando ele perguntou por ela, eles responderam: somos nós, continuamos aqui. Ele entrou na casa e perguntou ao pai o que tinha acontecido e ele, com um sorriso largo, respondeu:

“Tínhamos uma vaquinha que nos fornecia leite e com o qual sobrevivíamos. Mas um dia, a vaquinha caiu de um penhasco e morreu. Nesse momento, fomos obrigados a fazer outras coisas, a desenvolver outras habilidades que nunca tínhamos imaginado possuir. Dessa forma, começamos a prosperar e a nossa vida mudou”.

O conforto de fazer “o de sempre” na rotina limitante
Talvez, assim como o discípulo, tenhamos ficado horrorizados com a decisão do mestre de jogar a vaquinha no precipício. No entanto, esta história é uma metáfora sobre o que precisamos fazer com as coisas com as quais nos sentimos muito confortáveis ​​nas nossas vidas e que, ao mesmo tempo, fazem parte de uma rotina limitante.

No momento em que aquela pobre família foi deixada sem o seu sustento para sobreviver, não tiveram outra escolha senão procurar alternativas. Mas, em vez de descobrir mais pobreza, encontraram uma forma de prosperar, algo que nunca haviam imaginado. Se a vaquinha nunca tivesse desaparecido das suas vidas, eles continuariam vivendo na pobreza, sem acreditar que poderiam ir mais longe.

Muitas pessoas agradecem pelos momentos difíceis da sua vida que, apesar de dolorosos, as tiraram da sua “zona de conforto” onde estavam estagnadas. Os seres humanos procuram segurança, conforto, tudo o que não os faça sentir inseguros. Mas quando perdemos tudo isso, descobrimos habilidades e qualidades que nunca tínhamos imaginado, que estavam adormecidas.

A história da vaquinha nos leva a descobrir qual é a nossa rotina limitante. Pode ser um trabalho do qual não gostamos, mas cujo salário no final do mês nos dá segurança; pode ser a satisfação de economizar para viajar, embora a viagem seja improvável…

Esta é uma excelente história que nos permite refletir sobre o modo como vivemos, especialmente se vivemos nos queixando de como é a nossa existência. Não é necessário esperar que um mestre chegue para jogar a vaquinha que nos limita em um precipício. Podemos, a partir de hoje, olhar para além dos nossos confortos e nos conscientizarmos do potencial que temos. Não somos limitados: nós mesmos colocamos obstáculos na nossa vida.

Cada um de nós tem uma vaquinha na sua vida.
Qual é a sua?







A rotina, um oceano de águas profundas


O que você vai fazer hoje? A mesma coisa que eu fiz ontem, o mesmo que eu farei amanhã: aquilo que dita a rotina. Eu vou acordar, tomar café, me vestir, ir até o metro atrasado, perder a condução, chegar tarde ou justo a tempo, me encontrar com alguém, fazer que alguns papéis desapareçam da minha mesa e colocar outros no lugar e quando chegar na hora do café, eu vou ter uma conversa boba sobre o último capítulo da série que emitiram ontem pela televisão.

Eu vou sair tarde, para adiantar um pouco o trabalho e quando chegar a sexta-feira terei tempo de sair com todo mundo. Em casa, me esperam as coisas do lar. Claro, vou assistir um filme e depois cair na cama imaginando possibilidades para uma vida que agora mesmo carece delas. Rotina, é claro.

E pode ser que Raphael Giordano tenha razão e nossa vida só comece realmente quando percebemos que ela é única. Que só nos damos conta disso quando passamos por uma experiência que nos faça reconsiderar toda a nossa existência em apenas um segundo. Uma experiência estranha, descrita como mágica por aqueles que já passaram por isso, precisamente porque elas têm o poder de botar ordem nas nossas prioridades.

“Essas experiências também promovem outro tipo de poder: nos lembrar de que o futuro com o qual contamos não é uma certeza”.

Animais com hábitos
Dizem os especialistas que o homem é um animal com hábitos e que não existe nada como um hábito para transformar a vontade e a forma de pensar. Se é o hábito que faz o monge, então ele deve ser frequente, constante e dedicado. Esse colarinho que nós vestimos todos os dias para não ir despidos e passear vulneráveis pela vida.

Tanto o hábito quanto o costume remetem à rotina. Uma ordem que se repete de forma mais ou menos frequente e que nos traz segurança. Separando a dúvida: nos proporciona estratégias já conhecidas para ter sucesso ao abordar problemas que aparecem habitualmente.

Além do mais, a rotina economiza uma enorme quantidade de energia. É igual a um programa de computador que funciona sozinho, não precisamos nem pensar e tampouco esboçar. Já fizemos isso alguma vez e vamos nos aperfeiçoando com o tempo. Por exemplo, no começo, utilizávamos o bus para ir ao trabalho, porém um dia suspenderam a linha e descobrimos que o metro é bem mais rápido, ao contrário do imaginado. É a própria realidade e também o êxito de nossas estratégias o que preenche a nossa agenda.

Você se imagina pensando todo dia: O que vou tomar de café da manhã? Como vou trabalhar? A que horas farei a minha pausa? São dúvidas que em nosso programa, aperfeiçoadas com o tempo, já estão solucionadas. Então, porque criar um problema onde na realidade ele não existe? Porque gastar mais recursos do que os necessários para sobreviver se temos uma rotina?

“A maioria das coisas que acontecem na nossa vida dependem do que acontecem aqui em cima, na cabeça”.

A rotina: uma ajuda ou prisão?
No entanto, pode chegar um momento, quando a rotina é muito rígida e não encontramos momentos para descansar, em que podemos nos sentir sobrecarregados. Certamente, você já conhece essa sensação.

O que antes nos ajudava agora se transforma em uma prisão onde falta oxigénio. Pensamos em quebrar essa cela, até fantasiamos sobre isso, mas depois na realidade não ter uma rotina nos exige, pelo menos no começo, o esforço de sair de nossa zona de conforto. É uma sensação ambígua de querer e não querer e confrontando essa dúvida acabamos fazendo sempre a mesma coisa.

Mas, quais são os sintomas dessa espécie de doença da rotina aguda? São vários: falta de motivação, sensação de cansaço, uma certa melancolia ou nostalgia, mudanças de humor, apatia, desencanto… e essa opressiva sensação de que temos tudo, ou quase tudo, para ser felizes, mas não somos.

Falamos dessa sensação de vazio, indeterminada e incómoda para a qual não conseguimos identificar claramente uma razão. Por outro lado, todas as mudanças que imaginamos, bem analisadas, acabam parecendo um pouco absurdas: porque vamos tentar de novo ir de bus ao trabalho se já verificamos que demora mais tempo? Porque vamos mudar o café da manhã se faz bem e nos proporciona energia?

Também discorremos sobre uma falta de novos objetivos que substituam aquilo que já alcançamos. Estes novos objetivos seriam somente a parte visível do iceberg, aquilo que eles nos proporcionam na realidade é ilusão. Então, quando faltam novos objetivos é difícil que essa ilusão esteja presente.

Pode ser que a opressão da rotina seja uma doença menor ou própria de pessoas com recursos suficientes que precisam se preocupar com questões superficiais…ou pode ser que não, porque é verdade que se combinada com outros elementos, como a solidão percebemos que é uma das causas mais comuns pelas quais os pacientes recorrem à terapia. Ou seja, é um dos principais motivos de sofrimento.

Giordano nos diz no seu livro, com um pouco de humor e também seriedade, que essa prisão na qual a rotina pode vir a se transformar tem tanto poder que pode chegar a diminuir a cota de humor de um país inteiro”.

Rotina: sim ou não?
A melhor forma de quebrar a rotina e a planificação está relacionada com a improvisação. Em realizar novas tarefas onde antecipamos aquilo de que gostamos, mas também fazer de vez em quando algo de que não gostemos e que outras pessoas, por exemplo, nos recomendem. Pode ser que nos surpreenda, uma surpresa que pode ser a melhor solução para enfraquecer as pegas da prisão da qual nos sentimos prisioneiros.

Nesse sentido, existe uma área da personalidade que reúne vários modelos: falamos da “abertura para a experiência”. Pois bem, essa é a área idónea para cultivar, pelo menos de vez em quando, se não queremos que a rotina se alimente dia após dia e se transforme em um poderoso monstro que termine superando nossas forças.

Finalmente, podemos considerar que a rotina assume uma enorme economia em energia, mas também pode se transformar em um grande desperdício quando deixamos de dominá-la e passamos a ser dominados por ela, quando o risco perde toda a sua atração contra àquilo aparentemente seguro, que já repetimos com sucesso inúmeras vezes.







Rotinas que asfixiam, medos que encarceram


As rotinas nos protegem, tanto que, às vezes, podem se tornar uma verdadeira prisão. Estabelecê-las evita que tomemos algumas decisões diárias que deveríamos adotar se não existissem aquelas costumeiramente fixas. Também nos coloca uma forma de agir que se traduz em um esquema de pensamentos e sentimentos que não mudam.

O preço das rotinas pode ser muito alto. Sim, elas são necessárias; são uma maneira prática de administrar a vida quotidiana. Ao mesmo tempo, porém, e de forma imperceptível, se transformam em uma forma de viver na qual você se refugia e começa a ter medo das mudanças.


“Não são os males violentos que nos marcam, 
mas os males surdos, insistentes, 
toleráveis – aqueles que fazem parte de nossa rotina 
e nos minam meticulosamente, como o tempo.”
-Emil Cioran-


É comum encontrar com pessoas que vivem submersas em uma rotina, mas que a negam o tempo todo. Suspiram, tomam a frente e dizem que estão entediados porque tudo sempre é igual. No entanto, não sentem que têm a força para dizer “basta”.

Assim, para vencer a ditadura das rotinas é necessária uma boa dose de valor. Além disso, é imprescindível uma motivação importante e a confiança suficiente em si mesmo para ser capaz de romper o esquema e adentrar o caminho da incerteza.


O efeito ensurdecedor das rotinas
O pior de estabelecer rotinas e mantê-las é que você vai se tornando insensível sem perceber. Não é que você deixa de sentir, mas isso acaba restringindo o que sente. Você começa a ter a percepção de que tudo aquilo que não é familiar é perigoso. O novo, o diferente, se transforma em uma espécie de ameaça.

A rotina é um andaime composto por muitas peças. Compreende desde a forma como você administra seus horários habituais e chega a abordar toda a sua concepção sobre o mundo. Você acaba acreditando que deve sentir, pensar e agir de um único modo. Que já compreende toda a realidade e que perguntas não são mais necessárias.

A rotina acaba com a sua curiosidade, diminui sua capacidade de se surpreender. Sobretudo, o deixa surdo e cego a respeito de seu próprio potencial. Você acaba acreditando que só faz o que pode fazer e que seria impossível agir ou viver de outra forma.

O resultado é um certo estado de torpor. Com a rotina, você vive em função de “cumprir”, e não de evoluir ou ser feliz. E o pior: começa a ver a rotina como sua grande realização e sente medo de tudo que pode alterá-la.


O medo de mudar e a resistência à mudança
Viver com paixão é um verdadeiro dom que muitos não podem, ou não querem, experimentar. Significa sentir um interesse genuíno pelo trabalho que desenvolve, um amor autêntico pelas pessoas com quem se relaciona, um verdadeiro entusiasmo diante dos planos para o futuro e de tudo o que há para fazer.

Por que, então, tantas pessoas vêem a vida passar diante de seus olhos e tratam, mais ainda, de “perder tempo” ao invés de viver intensamente? A resposta só pode ser uma: é o medo que as prende em rotinas que funcionam como um escudo. Faz com que elas evitem experimentar o novo, o desconhecido, o desafiador.

A mudança é isso: um desafio. Os convencionalismos, os costumes, a segurança que existe em fazer a mesma coisa sempre para não ter que pensar demais. Mesmo quando a rotina está repleta de situações desagradáveis, muitos a toleram porque o medo de mudar é maior. Isso significaria sair de sua zona de conforto e ter que aguçar sua capacidade de encarar as situações desconhecidas.


Como vencer o medo de sair da rotina?
Cada pessoa deveria estar fazendo o que quer, do modo que quer, com quem quer e onde quer. Ninguém teria razão para se conformar em trabalhar ou viver como não quer simplesmente por medo de mudar.

Com certeza ninguém pode mudar completamente de um dia para o outro. Na verdade, pode sim, mas muitos precisam de um processo mais pausado para conseguir isso. É certo que nem sempre convém romper com tudo, mas basta recuperar algum espaço para ser você mesmo.

Como começar? 
O que fazer para sair dessas rotinas que nos encarceram?


  • Tire um tempo para você. Por mais exigente ou importante que seja o seu trabalho, ele nunca pode ser mais importante do que você mesmo. Uma parte do seu tempo deve ser dedicada a si mesmo. É nessas partes que você deve focar somente o que verdadeiramente quer: dormir, comer, dançar, seja o que for. O importante é que você sinta que está fazendo única e exclusivamente o que quer fazer.
  • Você precisa brincar. A brincadeira nunca deve ser eliminada. A brincadeira tida como diversão é um espaço de liberdade por excelência. Durante a brincadeira você se reinventa, volta a construir novos significados para o que você é. Jogue cartas, jogue bola, brinque com o que quiser, mas brinque. Atenção: não olhe os outros jogarem. Estamos falando de você ser o jogador.

Não perca contato com a natureza. 
A natureza exerce um efeito extremamente positivo sobre as emoções e o pensamento.
Assim, é muito importante que você procure uma forma de estar em contato com o verde das plantas e com a maneira particular que os animais têm de interagir. A natureza nos ajuda a nos conectarmos com nós mesmos, e isso, por sua vez, nos permite identificar as mudanças que precisamos implementar.




in, A Mente é Maravilhosa



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