Sentas-te na sombra e sabes
do modo como apenas o crepúsculo
salva a tua urgência, a tua sede
de chuva e do avesso da noite
o assombro
o desvario de palavras,
essa lâmina que rasga o real
uma garra de nada, uma pedra
no teu caminho.
E procuras o escopro,
o arado alquímico, o compasso,
o fogo e o atanor
que há-de medir-te
o ritmo matemático
e a matéria transfigurada do poema,
esse golpe certeiro e lírico,
asa de sonho,
magma, víscera, palavra
suor, sangue, alma
língua, jogo, imagem
trevas esperando a alba
e a clara luz, esse estremecimento
mínimo
oculto nos detalhes.
Nascente, luminescente,
é um abismo em forma de rosa.
Maria João Cantinho
in, Do Ínfimo
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