É de mim e só de mim que não posso e que não quero:
desistir.
Tudo o resto é perene e passageiro.
Só eu perduro, numa essência que me é própria e sobrevive a qualquer estrago da matéria.
É de mim, e só de mim, que não posso prescindir.
Só a mim, e a mais ninguém, que concedo o privilégio de ocupar todo o meu centro e daí, benignamente, irradiar para o mundo inteiro.
Ou então sombriamente, porque em mim também há sombra, a escurecer rente ao luar, mas sem me tornar minguante.
Em mim estão a que chega e a que parte, a que agarra e a que liberta, a que expande e a que retrai, a que cria e a que destrói, a que acorda e a que adormece, e sou sempre eu que me convoco a cada instante, na frequência que escolher: mais para baixo ou mais para cima na espiral do infinito, onde o fundo é lá no fundo e o céu muito acima deste seu cume visível.
Só eu escolho a quem me entrego, onde me enrolo, com quem me dou, quando é que rio, como é que choro, porque me engano, que trilho sigo. E nem sempre isso quis dizer que me entrego a quem me acolhe, que me enrolo onde é macio, que me dou com quem devolve, que me rio quando há motivo... Às vezes choro e esqueço tudo, até que os olhos são os meus e que só molham o que eu escolho que me magoe.
Quando me engano, só me engano se insistir que o erro é mau e que não tenho esse direito e surgir culpa. e quando o trilho desemboca num abismo, fui sempre eu que escolhi a visão sobre as vertigens, em vez da orla no meu corpo de
mulher
É de mim que me demito, quando cedo ao que é alheio, a mim que traio quando pactuo com uma mentira, só de mim pode vir esse consolo de sentir que sou inteira, só em mim posso encontrar o que procuro e que, afinal, não é nada que não seja desde sempre a minha essência.
Sou eu que vibro, é em mim que pulsa a vida, foi minha a escolha de me ter dado este nome e a forma humana do amor: carne e sangue que só doem quando há medo.
é a mim, e só a mim, que devo tanto,
só a mim posso pedir que me dê tudo.
Inês de Barros Baptista
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