terça-feira, 5 de junho de 2012
SEDUZIR UMA MULHER
Seduzir uma mulher está pelas horas da morte. Fica caro para caramba. Se há sector de actividade em que a crise se faz sentir com toda a força, esse sector é o da sedução. E é por isso, sobretudo por isso, que este país não vai a lado nenhum. Um país sem sedução é um país que não seduz. E um país que não seduz é um país que não reluz. E um país que não reluz é uma bosta para todos os tus. E eu já estou farto destas rimas em uz. Bate aí com força na minha cabeça para me tirar desta merda: truz-truz.
Seduzir é uma missão extenuante. Exige tempo, exige método, exige paciência. E exige dinheiro. Pilim. Massa. Money Money. Mais ainda quando se quer seduzir uma mulher que, ao contrário de quase todas as outras, não quer ser seduzida. Uma mulher que, mais do que se fazer de difícil, é mesmo difícil. Uma chata de uma mulher que quando diz “não” quer dizer mesmo “não”. No fundo: uma mulher que é um homem – mas sem pénis. É do pénis, não é?
Uma mulher difícil é um jogo de xadrez contra o Kasparov. Sendo que és tu a máquina. E não há que duvidar: para seduzires uma mulher difícil tens de ser uma máquina: uma infalível, e demoníaca, máquina de conquista. Para seduzir uma mulher difícil, e tu sabes como eu sei que as mulheres que valem a pena são apenas as difíceis, tens de ser o super-homem – mas o super-homem que, para ser ainda mais super, apresenta deficiências, insuficiências. As mulheres difíceis gostam de homens insuficientes – homens imperfeitos. Mas tens de ser perfeito nessas tuas imperfeições: tens de ter as imperfeições certas, as insuficiências certas, na hora certa. Tens de ser perfeito na tua imperfeição: demonstrar fragilidade no que ela quer que tu sejas frágil, demonstrar força no que ela quer que tu sejas forte. Tens de ser um animal sem deixar de ser humano – uma máquina sem deixar de ser gente. O homem perfeito, para a mulher difícil, é o homem que consegue gostar dela o suficiente para não se deixar ser marioneta dela; mas também tem de ser o homem que consegue gostar dela o suficiente para não deixar de ser a marioneta dela. Pode parecer confuso, paradoxal – mas não é. É difícil.
Mas voltemos ao começo: seduzir está pelas horas da morte. E, como está pelas horas da morte, as mulheres difíceis estão em vias de extinção. Porque as mulheres difíceis, apesar de serem mesmo difíceis, são também mulheres inteligentes – e é por isso que são difíceis (o que é, desde logo, inteligente da sua parte). E as mulheres inteligentes percebem que, quando o tempo é de crise, é tempo de tomar medidas de excepção. E as mulheres difíceis, ao perceberem que a sedução está cada vez mais cara (e cada vez mais inacessível), resolveram baixar um patamar – e passaram a ser mulheres relativamente difíceis. Ou relativamente fáceis. O que é, convenhamos, uma tristeza do caraças. Uma tristeza difícil de digerir. Ou nada fácil de digerir. A crise está a matar as mulheres difíceis – porque está a matar a sedução. E seduzir uma mulher difícil oferecendo-lhe um pechisbeque e levando-a a jantar no Macdonald’s é estar a contribuir, por incapacidade económica, para o final de uma das espécies que o ser humano, mais do que os tigres ou os leões ou os mais raros felinos do mundo, deveria fazer por preservar. A mulher difícil é, a par do futebol e dos filmes pornográficos, uma das criações mais inspiradas da natureza. A mulher difícil merece que o governo crie, imediatamente, um subsídio de sedução. Ou, no mínimo, ajudas de custo. Nas floristas de topo, nos restaurantes de elite – até nas peças de lingerie de luxo. Exactamente: um subsídio de sedução e/ou ajudas de custo para a preservação da mulher difícil: da mulher que vale a pena seduzir. É hora de agir, de gastar o dinheiro naquilo que verdadeiramente é importante. Sim, eu sei que é, em tempos de aperto como os que vivemos, difícil. E ainda bem.
PEDRO CHAGAS FREITAS
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