quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Emil Cioran




"NADA NOS TORNA MODESTOS, NEM MESMO A VISÃO DE UM CADÁVER"

"TODA A INFELICIDADE, VISTA DE FORA, PARECE MÍNIMA OU INCOMPREENSÍVEL.
É ESTA ÓPTICA QUE DEVEMOS ADOPTAR SE QUISERMOS SUPORTAR A VIDA"

"O ORGASMO É UM PAROXISMO; O DESESPERO TAMBÉM.
UM DURA UM INSTANTE; O OUTRO UMA VIDA "

EMIL CIORAN



Fiquei aqui a pensar, num episódio da minha vida...

Tive um acidente de viação grave em 2005...um camião TIR atravessou-se à minha frente...ia eu a mais de 100Kms/hora...nem deu tempo de travar...4 meses de baixa, e o carro para a sucata...
Lembro-me de pensar antes da colisão, que ia morrer...
Quando recuperei a consciência...depois de ter noção do que tinha acontecido...decidi que, quando retomasse o meu trabalho( na altura era Delegada de Informação Médica) que ia pedir para assistir a uma autopsia...senti uma forte necessidade de ver o que seria eu morta!

Tenho a família toda nos EUA, vivia sozinha em Portugal.
Foi difícil passar por tudo sozinha.
Tive de pedir roupa emprestada no hospital para ir para casa.
Só tinha o meu telemóvel sem bateria e as chaves de casa( um colega de trabalho foi ao hospital levar).

Acho que por isso, essa necessidade de ver como seria eu estar morta ainda ganhou mais força em mim.
Passados 4 meses, mal comecei a trabalhar, pedi a uma médica que fazia autopsias, para me deixar assistir...e lá fui eu!
Foi num cemitério nos arredores de Lisboa.
E não era uma autopsia, mas sim duas!
Um cadáver era de um jovem que tinha morrido de overdose de heroína. Só pele e osso.
O outro, era um homem de 63 anos, obeso, morreu de enfarte.
Não vou entrar em pormenores, porque acho que não devo mas, as condições eram surreais.
Os cadáveres em cima de "mesas" de madeira, as tesouras para cortar as costelas eram as tesouras da poda cheias de ferrugem...e fico-me por aqui...

Tudo isto para dizer que, ao contrário do que diz Cioran, que nada nos torna mais modestos, nem mesmo a visão de um cadáver...muita coisa mudou na minha cabeça depois de assistir àquelas 2 autópsias. Nunca mais vou esquecer aqueles olhares arregalados para o vazio.
Não existia ali nada mais que 2 pedaços de carne morta!
Nesse dia decidi que queria ser cremada, e que não queria funeral em cemitérios.
Não havia ali nada para se despedirem.
Era só carne morta!
As pessoas e parentes que estavam lá fora a gritar, sem querer aceitar a morte como é, fizeram-me pensar que nada daquilo fazia sentido para mim.

A Essência, a Alma...já não estava ali...já tinha partido de regresso a casa, de regresso ao Cosmos!

Foi tudo tão intenso, a nível emocional...
Tudo mudou para mim naquele dia!

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