segunda-feira, 31 de julho de 2023

............what is without name and form


by, Nisargadatta Maharaj


The comment, "Bullshit", inspired a little commentary...
"I Am" is perhaps the closest we can get with words to expressing our true nature.
The simple phrase "I Am" brings to attention the non-differentiated, unconditional, 'Beingness'...
... calling the mind - the attention - back from "I am this", or "I am that", returning to awareness, to what is without name and form, without becoming and without passing.
'Remembering', 'meditating', practising this awareness, the mind dissolves, revealing the wordless "I Am" - the underlying, continuous, spontaneous experience, prior to identification.
This "I Am"ness - does not become 'certainty' or 'knowledge' in the usual sense.
It can never be 'information, belonging to someone'.
This 'suchness' (called 'Tathata' by the Buddhists) simply becomes revealed as the flavour of Life. ... Not 'an' experience, but the living field of Experience, inexplicably cradled in the eternal womb of Silence.

Peter Littlejohn Cook








Amor Epidérmico





Seus pais foram jantar fora e deixaram o apartamento só para você, seu namorado e a tv a cabo. Que inconsequentes! Em menos de um minuto vocês deixam a televisão falando sozinha e vão ensaiar umas cenas de amor no quartinho dos fundos. De repente, escutam o barulho da fechadura. Seu pai esqueceu o talão de cheques. Passos no corredor. Antes que você localize sua camiseta, sua mãe se materializa na porta. Parece que ela está brincando de estátua, mas não resta dúvida que entrou em estado de choque. Você diz o quê? Mãe, a carne é fraca.

A desculpa é esfarrapada mas é legítima. Nada é mais vulnerável que nosso desejo. Na luta entre o cérebro e a pele, nunca dá empate. A pele sempre ganha de W.O.

Você planeja terminar um relacionamento. Chegou à conclusão que não quer mais ter a seu lado uma pessoa distante, que não leva nada à sério, que vive contando piadinhas preconceituosas e que não parece estar muito apaixonado. Por que levar a história adiante? Melhor terminar tudo hoje mesmo. Marca um encontro. Ele chega no horário, você também. Começam a conversar. Você engata o assunto. Para sua surpresa, ele ficou triste. Não quer se separar de você. E para provar, segura seu rosto com as duas mãos e tasca-lhe um beijo. Danou-se.

Onde foram parar as teorias, os diálogos que você planejou, a decisão que parecia irrevogável? Tomaram Doril. Você agora está sob os efeitos do cheiro dele, está rendida ao gosto dele, está ligada a ele pela derme e epiderme. A gravação do seu celular informa: seus neurônios estão fora da área de cobertura ou desligados.

Isso nunca aconteceu com você? Reluto entre dar-lhe os parabéns ou os pêsames. Por um lado, é ótimo ter controle absoluto de todas as suas ações e reações, ter força suficiente para resistir ao próprio desejo. Por outro lado, como é bom dar folga ao nosso raciocínio e deixar-se seduzir, sem ficar calculando perdas e danos, apenas dando-se ao luxo de viver o seu dia de Pigmaleão.

A carne é fraca, mas você tem que ser forte, é o que recomendam todos. Tente, ao menos de vez em quando, ser sexualmente vegetariano e não ceder às tentações. Se conseguir, bravo: terá as rédeas de seu destino na mão. Mas se não der certo, console-se. Criaturas que derretem-se, entregam-se, consomem-se e não sabem negar-se costumam trazer um sorriso enigmático nos lábios. Alguma recompensa há de ter.


Martha Medeiros





sexta-feira, 28 de julho de 2023

A cada um as suas armas









A cada um as suas armas, as mulheres que amou,
os homens que defendeu do juízo moral dos outros,
a cama onde um dia se viu abandonado,
rodeado de cruzes e velas.
Das linhas que tremo, roda-me a lâmpada
interior à carne, e a claridade
chega aos ossos numa duração insaciável.

Falar com a minha voz depois de tantas outras,
dos condenados a quem roubaste as cartas,
copiando aquele ritmo que se aferrava à carne
e dizias que os viste cair
depois de os teres seguido para a guerra, mas agora
que já ninguém faz luto pelos rouxinóis
e toda a gente escreve poemas,
não te podes valer de mentiras
nem de verdades,
já nem sequer do antepassado
enterrado num canto do pátio
— homem que teve os seus méritos.

Se a folha ainda me arranca um traço,
pisando-me os ossos da mão,
a distância é o meu único assunto.
De olhos fechados, entretenho-me
com a sensação de entrar em comboios remotos,
a tresandar a esquecimento para ser embalado
pela trepidação desse traço contínuo.

Terra e água num copo, a raiz amarga
que lá tenho escuta atentamente,
moendo tudo para épocas futuras.
Lá fora, o mar como um pássaro só
descansa, revê todos os finais,
mil capitães adormecidos enquanto os navios
se entrechocam docemente.
As noites passam em braços,
levanto a casa, feita de pedra negra.
Atraídos, os cometas caem longe
para que os sinta.
Os jardins escutam as flores,
a morte diz o nosso nome
e vimos esperá-la formando filas.


 
Diogo Vaz Pinto
in, De Aurora para os Cegos da Noite



"Se os conselhos fossem bons, não se davam, vendiam-se."

 





Todos temos conselhos para os outros sempre prontos na ponta de língua, certo?

A intenção é boa, a vontade de ajudar também na maioria dos casos, mas  
Como podemos dar soluções a algo que provavelmente nunca vivemos, não conhecemos, não sentimos da mesma maneira ou simplesmente não faz sentido à nossa história pessoal?

Por exemplo, 
perante uma relação tóxica e cheia de problemas, 
para uma pessoa a sua proposta implica ouvir e fazer-se ouvir, ganhar segurança, coragem e autoridade perante o outro, conquistar o respeito de ser fiel a si mesmo, aprender a harmonizar e a encontrar equilíbrio a dois. 

Mas para a outra, 
a sua proposta pessoal implica libertar o apego, transformar o medo de agir em coragem e conquistar a sua independência e autonomia. E de acordo com a proposta de cada uma, ambas estão certas. O problema é quando não sabemos a nossa proposta e corremos o risco de seguirmos o conselho errado para nós.

Lembremos então que cada um está no seu processo pessoal.

- O outro tem uma história diferente da minha
- O outro tem um mapa astrológico diferente do meu
- A proposta de evolução do outro nada tem a ver com a minha
- O estágio de aprendizagem do outro é diferente do meu
- Os processos Karmicos do outro são-me desconhecidos
- O outro não tem o meu passado e por isso não vê, não sente o que eu vejo e sinto.
- O outro pode contar o que ele fez em situações idênticas mas com a consciência de que nunca foram iguais.
- O conselho do outro pode sem querer, ser contrário à nossa proposta e estar a prender-nos ao passado.
- Assim como o conselho pode ser já uma mão amiga que nos vem ajudar a entrar numa nova energia.
- Só nós podemos distinguir umas das outras!

Para haver integridade, humildade pessoal e respeito pelo outro, é importante 
passarmos apenas a nossa experiência pessoal com a consciência de que a verdade não é absoluta e que o que nos serve a nós pode não servir o outro, ou caímos no papel do moralista que dita conselhos e verdades que não pratica.

Quando estamos no lugar de quem ouve o conselho é essencial 
ouvir e filtrar, usar a experiência do outro para abrir espaço a possibilidades dentro de nós mas, colocar na fórmula algo que o outro não tem: 
a nossa intuição, o nosso sentir, o nosso coração.


E como os conselhos são de borla, deixo aqui dois:

  1. Quando fores aconselhar alguém, pergunta-te se praticas o que pregas. 
  2. Quando alguém te aconselhar, olha para a vida e energia dessa pessoa e vê se confere com o conselho que te deu.


Vera Luz




quarta-feira, 19 de julho de 2023

O Rouxinol

 





“Neste épico passado na França da Segunda Guerra, duas irmãs se afastam por discordarem sobre a ameaça de ocupação nazista. Com temperamentos e princípios divergentes, cada uma delas precisa encontrar o próprio caminho e enfrentar questões morais e escolhas de vida ou morte.” 
Christina Baker Kline


SINOPSE
França, 1939: No pequeno vilarejo de Carriveau, Vianne Mauriac se despede do marido, que ruma para o fronte. Ela não acredita que os nazistas invadirão o país, mas logo chegam hordas de soldados em marcha, caravanas de caminhões e tanques, aviões que escurecem os céus e despejam bombas sobre inocentes.
Quando o país é tomado, um oficial das tropas de Hitler requisita a casa de Vianne, e ela e a filha são forçadas a conviver com o inimigo ou perder tudo. De repente, todos os seus movimentos passam a ser vigiados e Vianne é obrigada a fazer escolhas impossíveis, uma após a outra, e colaborar com os invasores para manter sua família viva.
Isabelle, irmã de Vianne, é uma garota contestadora que leva a vida com o furor e a paixão típicos da juventude. Enquanto milhares de parisienses fogem dos terrores da guerra, ela se apaixona por um guerrilheiro e decide se juntar à Resistência, arriscando a vida para salvar os outros e libertar seu país.
Seguindo a trajetória dessas duas grandes mulheres e revelando um lado esquecido da História, O rouxinol é uma narrativa sensível que celebra o espírito humano e a força das mulheres que travaram batalhas diárias longe do fronte.
Quando o país é tomado, um oficial das tropas de Hitler requisita a casa de Vianne, e ela e a filha são forçadas a conviver com o inimigo ou perder tudo. De repente, todos os seus movimentos passam a ser vigiados e Vianne é obrigada a fazer escolhas impossíveis, uma após a outra, e colaborar com os invasores para manter sua família viva. 
Isabelle, irmã de Vianne, é uma garota contestadora que leva a vida com o furor e a paixão típicos da juventude. Enquanto milhares de parisienses fogem dos terrores da guerra, ela se apaixona por um guerrilheiro e decide se juntar à Resistência, arriscando a vida para salvar os outros e libertar seu país.
Separadas pelas circunstâncias, divergentes em seus ideais e distanciadas por suas experiências, as duas irmãs têm um tortuoso destino em comum: proteger aqueles que amam em meio à devastação da guerra – e talvez pagar um preço inimaginável por seus atos de heroísmo.




"Se há uma coisa que aprendi nessa minha longa vida foi o seguinte: 
no amor, nós descobrimos quem desejamos ser; 
na guerra, descobrimos quem somos."




Vianna Mauriac despede-se do marido Antoine que está a ir para a guerra. Ela não acredita que os nazistas irão invadir o país e nem que irão dominá-lo, mas logo depois da partida do marido os soldados começam a chegar, assim como os camiões, tanques e aviões, a disparar bombas.
Quando a França já está totalmente ocupada por Hitler, ela vê-se obrigada a conviver com o inimigo: um soldado nazista  requisita a casa dela para se aquartelar lá, e passa a viver em sua casa junto com ela e sua filha, e ela será obrigada a aceitá-lo e a colaborar com as informações que lhe são exigidas. Caso isso não aconteça, ela sabe que a morte é apenas o começo.

Quando pensamos na guerra geralmente lembramos das mortes dos soldados, do sofrimento dos judeus nos campos de concentração, ou na destruição causada nas cidades pelos incontáveis bombardeios inimigos (e aqui também tem um pouco de tudo isso), mas, através de Vianna entramos dentro do dia-a-dia da guerra, caminhando ao lado dela que, de um dia para o outro passou a conviver com a incerteza do pão na sua mesa, simplesmente porque os alimentos foram acabando e para ter acesso ao pouco que restava no mercado precisava levantar-se antes do sol nascer e encarar as longas filas; que tinha que pensar no que ia falar ou em como ia agir para não correr o risco de ser julgado, denunciado e morto, ou que, de repente, se via obrigado a dividir a mesa e o teto com o inimigo.

“Não sei mais qual é a coisa certa a fazer. Quero proteger e manter Sophie segura, mas de que adianta a segurança para crescer num mundo onde as pessoas desaparecem sem deixar vestígios por rezarem a um Deus diferente?”





De outro lado temos a sua irmã, Isabelle, uma rapariga rebelde, arisca, impetuosa, cheia de questionamentos e que vive com uma enorme paixão. Está sempre pronta para lutar e enfrentar os inimigos. Para ela, conviver com o inimigo não é uma solução. Quando ela conhece um guerrilheiro, apaixona-se e decide entrar para a Resistência.

"Naquele beijo, alguma coisa nasceu em seu coração magoado e vazio e desabrochou. Pela primeira vez, os romances de amor que lera fizeram sentido. Isabelle percebeu que a paisagem da alma de uma mulher podia mudar tão rapidamente quanto um mundo em guerra." 

Ela, e o guerrilheiro por quem se apaixonou e mais um grupo de pessoas, irão ajudar todos aqueles que necessitam de ajuda na Guerra, principalmente aviadores dos países aliados que estão a lutar para que essa tragédia tenha fim.

"Tu és o meu raio de luz na escuridão, o chão sob os meus pés. Vou sobreviver por ti. Espero que também possa dar-te força a ti. Que consigas te sentir mais forte por minha causa." 




O livro mostra-nos a Segunda Guerra Mundial na França sob um ponto de vista de duas mulheres de personalidades muito diferentes – as irmãs Vianna Mauriac e Isabelle Rossignol. Após perder a mãe ainda muito jovens, as meninas se veem sozinhas, abandonadas pelo pai que, além de não saber lidar com o luto pela perda da esposa, ainda convive com os traumas deixados pela Primeira Grande Guerra em sua vida. 

As duas irmãs representam as milhares de mulheres que sobreviveram à Segunda Guerra Mundial e resistiram, à sua maneira, aos horrores a elas impostos, e que nem sempre são devidamente lembradas, suprimidas pelos heróis condecorados que lutaram nas batalhas – e merecem todo o reconhecimento por isso.

O pai delas lutou durante a Primeira Guerra Mundial e, desde que voltou nunca mais foi o mesmo e, depois da morte da esposa, abandonou as filhas aos cuidados de uma estranha.
Vianne não se dava bem com a irmã mais nova, Isabelle, e logo tratou de se livrar da responsabilidade, também. Casou, engravidou e foi viver a vida com a sua nova família. 
Isabelle, por sua vez, passou por colégios e conventos, sempre sendo expulsa de todos por sua falta de modos e desobediência. Desta última vez, foi para a casa do pai, em Paris, para tentar uma vida nova. 
Até que a Segunda Guerra começa…

Mas não foram só as situações da vida ou a diferença de idade que as separaram: as duas eram pólos completamente diferentes. Uma pedia constância e calma, a outra queria velocidade e mudança. Por isso, quando a Segunda Guerra Mundial estourou e a França foi invadida e sediada pelos alemães, Isabelle e Viviane encararam o momento mais importante da vida delas, que não traçava só o futuro do mundo, como também definia quem elas eram para si mesmas e uma para a outra. 

Separadas por todas essas circunstâncias e ideais diferentes, cada uma terá que enfrentar a sua luta e as consequências de suas escolhas. Apenas o final da Guerra dirá qual foi o preço que cada uma teve que pagar para sobreviver.



Logo no começo da guerra a França foi dominada pelos alemães. 
O governo divulgou a dominação como uma aliança, mas com o passar dos anos os franceses viram seus homens partirem para a guerra, seus recursos naturais serem esgotados, suas casas serem invadidas, seus bens serem saqueados, e suas mulheres e crianças morrerem de fome ou serem abusadas das piores formas possíveis. 
E as duas irmãs desta história passaram por tudo isso: roubo, separação, invasão, abuso, fome, perdas. 

Vianne, dona de uma propriedade grande e com uma bela horta, vê seu marido partir, sua casa ser saqueada e dominada por um alemão que vai “morar” com ela, sua filha crescer com fome e dor, e é diariamente estuprada por um nazi alemão aquartelado na sua casa contra sua vontade. 
Isabelle não aceita o abuso da Alemanha e junta-se ao partido comunista, mergulhando em perigosas missões para enfraquecer o governo alemão. 
Sendo assim, Vianne e Isabelle – cada uma à sua maneira – precisarão aprender a lutar contra a guerra, a não desistir de ter fé, e a restaurar o laço fraterno que as une. Perda, luta, amor e perdão… Elas vão passar 5 anos numa guerra e vão experimentar formas dolorosas de amadurecer e vencer as dificuldades da vida.


  • Quantas pessoas precisaram dar abrigo ao inimigo para sobreviver? 
  • Quantos judeus foram mortos? 
  • Quantas pessoas foram para a Guerra e não tiveram a hipótese de se despedir de suas famílias? 
  • Quantas pessoas tentaram ser a resistência e não sobreviveram? 
  • Quantas pessoas perderam alguém que amavam?


Isabelle vai para o lado da Resistência, enquanto Vianne convive com inimigo. 
Cada uma teve que ser forte à sua maneira para sobreviver. 
Enquanto uma enganava os nazistas para proteger pessoas inocentes, a outra tinha que ajudar o inimigo  para não morrer.

Vianne começa no início do livro como uma mulher temerosa e reclusa, capaz de tudo – até de fingir acreditar que eles são bons – para não irritar os alemães. Ela é pacata, devota e esperançosa, mas com o passar dos anos vai mostrando toda a sua força. Ela luta pelos que ama e amadurece a cada pequena queda ou vitória. 
Através dela vemos como foi doloroso para muitas mulheres o fato de ter que deixar o marido partir, terem que cuidar sozinhas dos filhos, ter que enfrentar filas longas de racionamento de comida (para voltar para casa com nada mais do que restos), e ter que aguentar os olhares de cobiça de homens fardados desrespeitosos. 

Isabelle  surpreende do início ao fim. Ela é forte, determinada, rebelde, inteligente e, num período em que as mulheres não eram notadas, fez de tudo para provar o seu valor. Isabelle salva vidas colocando sua vida em risco, e isso é extremamente inspirador. A força que ela teve para enfrentar o controle alemão e no quanto sofreu por causa disso. Tem uma personalidade inconstante e muitas vezes imatura, que faz de tudo – sem pensar nas consequências – para provar que é mais do que um rostinho bonito. 

"Agora sei o que é importante, e não é o que eu perdi. São as minhas lembranças. Feridas cicatrizam. O amor perdura."


Andrée de Jongh, foi uma mulher que fez parte da Resistência Belga durante a Segunda Guerra Mundial e ajudou mais de 800 aviadores dos Aliados. Conhecida internamente como Dédée, resgatou esses soldados e cuidou deles. Com a ajuda da família e de outros membros da Resistência, ela conseguiu roupas e documentos falsos para todos para, em seguida, atravessar uma rota de fuga de 1.600 quilómetros através da Bélgica e da França ocupadas, passando pelos Pirinéus na escuridão da noite, até à Espanha. 
Em 1943, foi presa e torturada pela Gestapo, e transferida para um campo de concentração nazista, mas conseguiu sobreviver.

Foi nessa mulher extraordinária que Kristin se inspirou para contar a história de uma das personagens principais deste livro, a Isabelle. 

Começamos o livro em 1995, com a narração de uma viúva que acabou de ser diagnosticada novamente com câncro e está a mudar-se para uma Casa de Repouso a pedido do filho. 
Apesar da narração ser na primeira pessoa, não há nenhuma menção ao nome da personagem. Temos, então, um alívio e um mistério a ser desvendado: pelo menos uma das irmãs está viva, mas qual está a contar a história? 
São poucas as vezes que voltamos ao momento atual em 1995, mas, sempre que isso acontece, uma nova pista sobre a narradora é lançada.


“Os homens contam histórias, as mulheres seguem em frente com essas histórias. Para nós foi uma guerra nas sombras. Ninguém organizou desfiles para nós quando a guerra acabou, não nos deram medalhas nem nos mencionaram nos livros de história. Fizemos o que precisávamos fazer durante a guerra, e quando tudo acabou nós recolhemos os cacos para começar a vida de novo.”




A Meias




 




Bebo o meu café enquanto bebes 
do meu café. Intriga-me que faças isso. 
Se te posso pedir um 
(se podes tomar um igual) 
porque hás-de querer do meu? 
Que 
não. Que não queres. Escuso 
de pedir 
que não queres. Então 
começo um cigarro e tu fumas 
do meu cigarro dizes 
"tenho quase a certeza de 
não acabar um sozinha" por isso 
fumas do meu. 
Dá-te gozo esse roubar de 
leves goles furtivos 
dá gozo participar 
do prazer que eu possa ter 
contigo 
(e entre nós) 
dá-se agora tudo 
a meias. 


João Luís Barreto Guimarães
in, Poesia Reunida



Ovelha Branca vs Ovelha Negra - Quem és tu?

 

Macroworlds por Pixabay





Todas as pessoas têm necessidade 
de pertencer a um grupo: 
amigos, família, trabalho, 
amar os outros e ser amados, 
o que conhecemos como 
necessidade de pertencimento. 
Pertencer é uma forma de garantirmos 
segurança, proteção, aceitação, amor, 
principalmente quando 
nos adaptamos e aceitamos 
as regras e a hierarquia do grupo. 




Pertencer não é só um estado natural onde vivemos logo desde a infância. 
Pertencer remonta aos tempos tribais, às vidas em que vivemos em tribo e onde estar fora ou ser excluído era estar desprotegido, à mercê de perigos e elementos, ou seja, era quase uma sentença de morte.

Bert Hellinger, no seu trabalho, reforçou mesmo a Lei do Pertencimento como uma das três leis essenciais no processo de cura do indivíduo, tanto na relação de cura com os ancestrais e família, como para a sua necessidade de seguir o seu rumo leve e livre.

Por exemplo, 
quem tem muitas dependências e uma exagerada relação com o grupo da família, acaba por imitar e adoptar um estilo de vida, forma de pensar e viver, que em tudo reflete a necessidade de pertencer e ser aceite pela família, mesmo que crie problemas a nível profissional, pessoal ou relacional.
Ou seja, o critério para as escolhas pessoais vai estar sempre condicionado pelas expectativas dos outros, suas ideias, crenças, religião, moral, comportamentos do grupo pois arriscar ser diferente vai por em risco também a necessidade de pertencer.

O mesmo pode acontecer dentro do grupo de uma empresa quando o grande objetivo de vida é o sucesso profissional, levando-nos a imitar e adoptar os estilos de vida, roupa, comunicação, hábitos, vícios, etc do patrão e dos colegas em busca da pertença e aceitação. 

O mesmo sentimos quase todos na desafiante adolescência quando pertencer ao grupo de amigos é mais importante do que a própria família ou até o próprio futuro profissional.


Mas o que acontece 
quando a vida nos lembra que não estamos cá para nos escondermos em grupo nenhum? 

  • Que é bom sentir a pertença no grupo mas, não cresceremos se não aprendermos a caminhar sozinhos? 
  • Como lidar com as emoções da rejeição, do julgamento, da solidão e abandono quando a vida nos tenta separar do grupo e lembrar que temos um caminho pessoal a cumprir? 
  • Ou, o que fazer quando não nos identificamos com grupo nenhum, incluindo o grupo da própria família?

A resposta leva-nos à metáfora da Ovelha Branca e da sua vida no rebanho onde pertence, é protegida, é aceite, é acolhida mas paga o preço da sua liberdade, da consciência de si mesma e de percorrer o seu próprio caminho. Um dia ela sente que esse preço é alto demais, que não aguenta mais viver sem sentido, que não quer mais seguir o rebanho, que tem uma imensa vontade de seguir o seu caminho e aceitar nascer como Ovelha Negra. 
No entanto, também a Ovelha Negra viverá a sua dualidade: vai perder a segurança, a pertença, a proteção, mas ganhará a liberdade, a consciência da sua essência, viver a vida com propósito. 


Claro que não há a viagem ou escolha certa ou errada. 
Todos temos dentro de nós a vontade de segurança da Ovelha Branca e, o anseio pela liberdade da Ovelha Negra. 

A questão pertinente está na consciência com que vivemos e, na flexibilidade com que nos ajustamos a cada momento: 
se o momento nos convida à integração com o grupo, às aprendizagens que temos com ele, ao factor “espelho” que ele nos permite  quando aprendemos a nos rever no holograma que é a vida e pessoas à nossa volta ou, 
se o momento convida à rotura do que se tornou tóxico, à libertação do que já não devolve Vida ou crescimento, ao desapego de quem nos serviu de muleta mas que hoje nos condiciona a caminhar sozinhos.

A ideia é permitir que ambas tenham um lugar dentro de nós. 
Que sejam reconhecidas as enormes e diferentes necessidades de cada uma e, termos em nós o poder de decidir, qual das expressões se ajusta melhor a cada momento.

Joseph Murphy apresentou-nos a sua visão sobre esta viagem interna do ser humano na “Jornada do Herói”.

Não é raro observar que os grandes desajustes ou desconfortos tenham a sua origem precisamente na inconsciência desta polaridade. 
Ou seja, vejo pessoas presas a outras, a viver a inconsciência total de si mesmas em prol de um qualquer rebanho, que esqueceram  dentro de si a Ovelha Negra, ou seja, a sua enorme necessidade de liberdade e de criação de uma vida que lhes faça sentido. 

 
A proposta é 
recuperar e tornar saudável 
esta estrutura interna, 
este poder de decidir a cada momento, 
esta paz e fé de saber que 
tudo flui como tem que fluir, 
esta aceitação de que 
tanto a experiência da 
integração e harmonia com o outro 
como a libertação e harmonia pessoal, 
fazem parte da viagem da vida. 


  • Deixo-te assim o convite para observares onde na tua vida tendes a ser Ovelha Branca, a cooperar, a entrar em empatia com o outro, a necessitar de aprovação e como te sentes quando o fazes e que preços pagas por fazeres isso?
  • Observa também onde na tua vida tendes a ser Ovelha Negra, a precisar de espaço e liberdade, a querer fazer as coisas à tua maneira, a não considerar a opinião do outro, como te sentes e que preços pagas por fazeres isso?



Vera Luz



sábado, 8 de julho de 2023

Protest

 

John Vink



To sin by silence, when we should protest, 
Makes cowards out of men. The human race 
Has climbed on protest. Had no voice been raised 
Against injustice, ignorance, and lust, 
The inquisition yet would serve the law, 
And guillotines decide our least disputes. 
The few who dare, must speak and speak again 
To right the wrongs of many. Speech, thank God, 
No vested power in this great day and land 
Can gag or throttle. Press and voice may cry 
Loud disapproval of existing ills; 
May criticise oppression and condemn 
The lawlessness of wealth-protecting laws 
That let the children and childbearers toil 
To purchase ease for idle millionaires. 

Therefore I do protest against the boast 
Of independence in this mighty land. 
Call no chain strong, which holds one rusted link. 
Call no land free, that holds one fettered slave. 
Until the manacled slim wrists of babes 
Are loosed to toss in childish sport and glee, 
Until the mother bears no burden, save 
The precious one beneath her heart, until 
God’s soil is rescued from the clutch of greed 
And given back to labor, let no man 
Call this the land of freedom. 


Ella Wheeler Wilcox



How to Overcome Your Obsession with Helping Others



TAI WOODVILLE



 

 If you have ever wondered whether your genuine enjoyment of helping others teeters on over-indulgence, there a few things you can to do overcome agency addiction, or avoid it altogether. 
First, ask yourself a few questions: 
  • When you’re not helping others, do you feel anxious or aimless?   
  • Do you feel defensive or dismissive when you learn that the people you helped have found another’s advice helpful, or that they didn’t consult you on a problem? 
  • Do you often imagine helping others with life-changing advice? 
Answering yes to a few of the above doesn’t necessarily confirm you over-help, but it could indicate that it is something you should watch out for. 
Next, commit to being an equal partner, and not a savior. A telling sign of over-helping is when you find yourself doing more to help others than they do for themselves. You can also avoid dependency by measuring improvement. The greatness of the helper can be measured by their ability to help someone grow to a point of no longer needing them.


There has arguably never been a better time for employees seeking professional guidance. With the rapid increase of coaches, consultants, and advisors in the workplace, as well as the popular, and growing, trend of “the leader as a coach,” getting access to help (for most) is no longer challenging. Those who work with coaches are often viewed as admirable, and leaders who bear the title themselves do so like a badge of honor — despite the fact that, just a few years ago, even asking for help was considered weak.

There are many benefits to this unfolding shift in organizational culture. Most notably, it will allow people to admit limitations without fear, and make learning both safe and expected. But could having so much help also have a dark side?

Recently, I overheard someone exclaim, “I’m just a coaching addict! I love watching people have breakthroughs.” It turns out, this sentiment is not a unique one. Despite our many good intentions, it is indeed possible for coaches and leaders to over-help those seeking advice. In his book, The Advice Trap, author Michael Bungay Stanier explores our inherent obsession with giving advice. He says, “As soon as someone starts talking, our Advice Monster looms out of our subconscious, rubbing its hands and declaring, ‘I’m about to add some value to this conversation!’ The dangerous core belief underneath our Advice Monster is, ‘You’re better than the other person.’”

Behavioral experts agree that “helping” does indeed have the potential to become an addiction. When we help others, our brains emit three chemicals, often referred to as 
the happiness trifecta:

  • Serotonin (produces intense feelings of wellbeing)
  • Dopamine (intensifies motivation)
  • Oxytocin (increases a sense of connection to others)

The “feel good” outcome of this combination naturally makes us want to repeat it. But when our need to help becomes so insatiable that our sense of purpose is tied directly to others, specifically, them needing our guidance, it is no longer other people that we are helping. It is ourselves.

Psychologists refer to this particular problem as agency addiction, or The White Knight Syndrome. It is defined as a need to rescue others through helping — with our advice, coaching, or ideas — in order to bolster our feelings of self-importance. Whereas those with a healthy sense of agency are just as gratified by helping others succeed as they are seeing them succeed on their own.

This phenomenon could perhaps be a consequence of working in a knowledge economy. This kind of ever-changing, highly innovative environment can intensify our need to feel useful. For many employees today, contribution is measured in adopted ideas, insightful analyses, or answers to hard questions. What we produce is inseparably tied to who we are. At one firm I consulted with, this was true to a precarious extent. A partner at the firm was so bright, generous, and willing to help anyone that his colleagues referred to him as “the answer ATM.” His motto was, “You’re only as good as your last idea.” Privately, however, he suffered with depression and anxiety, unable to separate his sense of value from the help he offered those around him.

If you have ever wondered whether your genuine enjoyment of helping others teeters on over-indulgence, there a few things you can to do overcome agency addiction, or avoid it altogether.

Monitor your internal narratives
The best way to test whether or not you have an inclination to over-help is to turn inward and take a hard look at your own mind. Ask yourself these questions and answer them honestly:

  1. When I’m not helping others, do I feel anxious or aimless?
  2. Do I offer others unsolicited advice, even in casual social settings, under the guise of “just trying to be helpful?”
  3. Do I feel defensive or dismissive when I learn that the people I helped have found another’s advice helpful, or that they didn’t consult me on a problem?
  4. Do I imagine helping others with life-changing advice, visualizing how my help could be vital to their success?
  5. Do I feel insecure when someone I help questions or doesn’t take my advice?
  6. Do I fish for praise after giving advice, or need the other person to acknowledge that I was helpful?
  7. Do I feel taken advantage of, like I’ve made a sacrifice, after a stressful period of helping?
Answering yes to a few of the above doesn’t necessarily confirm you over-help, but it could indicate that it is something you should watch out for. If you answered yes to all of the above, or feel concerned about this topic, you may need to consider doing some deeper work to identify where and how you might have fused your sense of identity with giving others help in the first place.

Commit to being an equal partner, and not a savior
The greatest helpers set clear expectations from the outset. One of the first boundaries I set with clients is, “I will never care about your success more than you do.” A telling sign of over-helping is when you find yourself doing more to help others than they do for themselves. If a coach or leader routinely reminds clients or direct-reports of commitments they’ve made, accepts excuses when those commitments are missed, and even steps in to do some of the work for them, then the partnership is not equal. And if that coach or leader finds the superlative expressions of gratitude privately satiating (“I can’t thank you enough — you really saved me!”), their inner white knight has been activated. To be a great helper, you must be willing to let those you help suffer the consequences of their own choices when they fall short. Adhering to clear, mutual accountabilities makes success a shared outcome.

Avoid dependency by measuring improvement
The consulting and coaching professions have been appropriately criticized for having economic models that incent extending revenue streams after clients no longer need them. Similarly, leaders often feel insecure about the talents of those they lead surpassing them. But the fundamental reason behind any coaching relationship is to help the other person realize improvement. The greatness of a coach can be measured by their ability to help someone grow to a point of no longer needing them. Similarly, the greatness of a leader can be measured by their willingness to let others outshine them. Cultivating dependency only makes the other person weaker, even if it temporarily makes you feel powerful.

To avoid this, helpers should measure progress against defined objectives for improvement. For example, if a coach is working with a leader to improve their ability to delegate, they should track progress on delegation opportunities to ensure they don’t rehash old ground. While it’s reasonable for new needs or opportunities for help to arise, continuing to be “needed” for the same issue for too long is a clear sign that the lack of progress has become what is gratifying to both the helper and the one being helped (it’s often safer to stay helpless and keep relying on the helper to be rescued).

Apply the right amount of pressure
One of the common complaints leaders share with me is, “My coach didn’t really push me that hard. We just talked during our sessions, but I didn’t feel challenged.” Many in advisory professions fear putting their relationships at risk by being “too honest” about issues that must be addressed. Likewise, many leaders avoid giving hard feedback to dodge conflict. I’ve heard coaches and consultants justify pulling their punches with statements like, “I’m not sure they’re ready to hear that.” I’ve heard leaders avoid addressing underperformance with, “Let’s give them one more quarter to turn this around.” While it’s prudent to thoughtfully prepare leaders to hear tough news, it’s equally important to be honest about whose interest you are serving by delaying it. A coach or consultant’s greatest value to a client is their ability to see and offer the unvarnished truth, no matter how difficult it is to hear. Followers trust leaders that deliver hard messages in respectful, caring ways.

On the other end of the spectrum, I’ve seen bullying coaches and leaders whose bluntness borders on abusive, leading to the loss of confidence and commitment on the part of those being helped. They speak in condescending dogma and bark declarations. Both avoidant and bully helpers reach the same outcome — keeping those they help in need of them. To become great, leaders and coaches must learn to determine the right degree of pressure to apply — it should be enough to sustain confidence and commitment while making tangible progress.

Contributing to others’ success is a sacrosanct privilege. “First, do no harm” applies as much to us as it does to physicians. It’s a wonderful feeling to know others rely on our help. But when our desire for impact contorts into a need to be indispensable and pivotal to others’ achievement, we’ve started our decent to the very insignificance we fear. Because when those we help figure out we are serving our egos instead of them, they back away. In a world where who we are and what we do have become so closely connected, it’s especially critical for helpers to keep a healthy separation between them. Great help is what you give, it’s not who you are.



Ron Carucci