envolvidas na nudez inicial!...
Direi as que te envio pelo fio telefónico,
as que te escrevo numa carta lacrada,
as que guardas à chave na gaveta;
as que a minha boca coloca nos teus olhos
e as que transformam o teu riso em arbustos floridos.
Direi somente as palavras vulgares e milenárias,
viciadas pelos usos mais diversos,
que têm mentido amores, construído amores,
envenenado e sustentado amores...
direi apenas essas - mais nenhumas!
As que projectam luz directa nos teus passos
para contar a nossa história, a pobre história
de uma casa, uma cama, um orçamento,
- a história tão banal mas espiada
por entidades misteriosas e solenes
que velam para que nada seja escrito.
Direi apenas as palavras de paixão
que te remeto em flechas aceradas
por sobre a multidão espavorida;
as que te arrancam de um corredor sombrio
para outro que os meus dedos iluminam;
as que fecham o alçapão das tuas mágoas
e rasgam a parede de silêncio;
as que telefono com a cabine aberta
cuspindo na ironia dos que passam;
as que te oferecem um galhardete colorido
e te auxiliam a patinar sorrindo
sobre a endurecida maldição antiga;
as que destroem o veneno da tristeza
e garantem a tua marcha musculado;
direi apenas essas... mais nenhumas!
As que arborizam o interior da solidão
e as que te escrevo com um dedo nas espáduas.
Egito Gonçalves
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