sexta-feira, 27 de abril de 2012
Pensar
Entre uma infinidade de hipóteses de não teres nascido, saiu-te a sorte de teres nascido.
Se te tivesse saído a “sorte grande”, haveria gente que se admiraria de isso te ter acontecido.
Tu mesmo dirias talvez que parecia um “sonho”, que era inacreditável, que ainda não tinhas caído em ti do assombro.
Mas essa sorte foi a de um número entre dezenas de milhares ou mesmo centenas.
Mas teres nascido é ter-te saído a sorte entre biliões e biliões e biliões de hipóteses negativas.
Saiu-te o número inscrito numa areia do universo.
Tens pois o privilégio incrível de veres o sol, as flores, os animais.
De ouvires as aves e o vento. De.
E todavia, como esqueces isso tão facilmente.
Breve tudo se te apagará em silêncio.
Breve a oportunidade de estares vivo cessou.
Provavelmente ninguém mais saberá que exististe.
E mesmo dos que o souberem, não se saberá um dia.
Num momento não muito longínquo morrerá o último homem sobre a face da Terra.
Esse é, aliás, o momento da tua própria morte, porque tu és o primeiro e o último homem que nasceu.
Tudo é rápido e contingente e miraculoso.
Tudo é rápido e sem consequências.
A única consequência és tu e a vida que viveres.
Não a desperdices.
Não inutilizes a fabulosa sorte que te calhou.
Vê. Ouve. Pára, escuta e olha, que a morte vai a passar.
E terás cumprido ao menos, para com o universo, um pouco do teu dever de gratidão.
Vergílio Ferreira
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