terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
Sempre Tua/Teu
Excerto do livro, “Sempre Teu, Oscar”, para deixar registado a todos aqueles que possuem uma grande alma.
“Estou a escrever-te tão longamente para que tu reflitas a respeito de tua importância para mim, para que penses no que tu tens sido para mim durante este meu encarceramento que já dura quase dois anos, para que saibas quais são minhas intenções para comigo mesmo e para com meus amigos quando finalmente for libertado. Não posso reestruturar esta carta ou reescrevê-la. Tu deves aceitá-la como está, com alguns trechos borrados pelas lágrimas e com muitos outros marcados pela paixão e pela dor. Faz com ela o melhor que puderes, apesar dos borrões, das correções e tudo o mais. Com relação às correções e erratas, eu as fiz para que as minhas palavras pudessem expressar exactamente o que eu estava a pensar e não corresse o risco de cometer algum erro por excessos ou inadequações. A linguagem precisa ser afinada, tal e qual um violino. E, da mesma forma que vibrações a mais ou a menos na voz de um cantor ou nas cordas de um instrumento podem fazer com que a nota soe falsa, palavras a mais ou a menos podem estragar a mensagem.
Posto isto, quero que saibas que a minha carta possui seu significado exacto por trás de cada palavra. E não se trata de retórica. Onde quer que haja palavras riscadas ou substituídas, por mais ou menos elaboradas que sejam essas correcções, isso deve-se à minha busca por expressar-me o mais autenticamente possível, por encontrar a palavra exacta para o que estou a sentir. Quando um sentimento chega em primeiro lugar, a forma chega sempre em último.
Lembra-te ainda que, se comparado aos meus mais insignificantes momentos de isolamento, o prato da balança onde tu está sobe até bater no travessão. A vaidade fez-te escolher a balança, e foi a verdade que o fez agarrar-se nela. É aí que está o grande erro psicológico que nos cerca: a completa falta de equilíbrio. Tu forçáste a tua entrada numa vida que era grande demais para ti, uma vida cuja órbita transcendia tanto a tua capacidade de visão quanto a sua capacidade de movimentação cíclica, uma vida cujas idéias, paixões e acções tinham grande importância e eram de enorme interesse, e que estavam impregnadas das mais maravilhosas ou terríveis consequências. A tua vidinha de pequenos caprichos e humores só era admirável no teu medíocre círculo de amizade.
As grandes paixões são para aqueles que possuem uma grande alma e os grandes acontecimentos só podem ser compreendidos por aqueles que estão no mesmo nível (...)
(...) Tu viéste até mim para aprender o prazer da vida e o prazer da arte. Talvez eu tenha preferido ensinar-te algo muito mais maravilhoso: o significado do sofrimento e toda a sua beleza.
OSCAR WILDE
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