sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Olhos nos Olhos




Quando você me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci
Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos
Quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais
E que venho até remoçando
Me pego cantando, sem mais, nem por quê
Tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você
Quando talvez precisar de mim
Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Olhos nos olhos
Quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz

Chico Buarque

Coisas que eu sei




O AUTO-RETRATO
No retrato que me faço- traço a traço - às vezes me pinto nuvem, às vezes me pinto árvore... às vezes me pinto coisas de que nem há mais lembrança...ou coisas que não existem, mas que um dia existirão... e, desta lida, em que busco- pouco a pouco - minha eterna semelhança, no final, que restará?
Um desenho de criança... Corrigido por um louco!
(Mário Quintana)



Eu quero ficar perto de tudo o que eu acho certo
Até o dia em que eu mudar de opinião
A minha experiência, meu pacto com a ciência
Meu conhecimento é minha distração

Coisas que eu sei
Eu adivinho sem ninguém ter me contado
Coisas que eu sei
O meu rádio-relógio mostra o tempo errado... aperte o ‘Play’

Eu gosto do meu quarto, do meu desarrumado
Ninguém sabe mexer na minha confusão
É o meu ponto de vista, não aceito turistas
Meu mundo tá fechado pra visitação

Coisas que eu sei
O medo mora perto das idéias loucas
Coisas que eu sei
Se eu for eu vou assim não vou trocar de roupa... é a minha lei

Eu corto os meus dobrados
Acerto os meus pecados
Ninguém pergunta mais... depois que eu já paguei
Eu vejo o filme em pausas
Eu imagino casas
Depois eu nem me lembro do que desenhei

Coisas que eu sei
Não guardo mais agendas no meu celular
Coisas que eu sei
Eu compro aparelhos que eu não sei usar... eu já comprei

As vezes dá preguiça
Na areia movediça
Quando mais eu deixo mais afundo em mim
Eu moro num cenário
Do lado imaginário
Eu entro e saio sempre quando eu to a fim

Coisas que eu sei
As noites ficam claras no raiar do dia
Coisas que eu sei
São coisas que antes somente eu não sabia... Agora eu sei

O Tempo





"O tempo é o melhor tesouro de que o homem pode dispor.
Embora inconsumível, o tempo é o nosso melhor alimento.
Sem medida que o conheça, o tempo é contudo nosso bem de maior grandeza, não tem começo, não tem fim.
Rico não é o homem que colecciona e se pesa num amontoado de moedas, nem aquele devasso que estende mãos e braços em terras largas.
Rico só é o homem que aprendeu piedoso e humilde a conviver com o tempo, aproximando-se dele com ternura, não se rebelando contra seu curso, brindando antes com sabedoria para receber dele os favores e não sua ira.
O equilíbrio da vida está essencialmente nesse bem supremo, a quem souber com acerto a quantidade de vagar ou de espera que se deve por nas coisas não corre nunca o risco ao buscar por elas e defrontar-se com o que não é.
Pois só a justa medida do tempo dá a justa natureza das coisas."

Raduan Nassar

Multiply life by the power of two.




Now the parking lot is empty
Everyone's gone someplace I pick you up and in the trunk I've packed
A cooler and a two day suitcase
'Cause there's a place we like to drive
Way out in the country
Five miles out of the city limit we're singin'
And your hand's upon my leg

So we're ok, we're fine
Baby I'm here to stop your crying
Chase all the ghosts from your head

I'm stronger than the monster beneath your bed
Smarter than the tricks played on your heart
Look at them together then we'll take them apart
Adding up the total of a love that's true
Multiply life by the power of two

I know the things that I am afraid of
I'm not afraid to tell
And if we ever leave a legacy
It's that we loved each other well

'Cause I've seen the shadows of so many people
Trying on the treasures of youth
But a road fancy and fast ends in a fatal crash
And I'm glad we got off to tell you the truth

So we're ok, we're fine
Baby I'm here to stop your crying
Chase all the ghosts from your head
I'm stronger than the monster beneath your bed
Smarter than the tricks played on your heart
Look at them together then we'll take them apart
Adding up the total of a love that's true
Multiply life by the power of two

All the shiny little trinkets of temptation
Something new instead of something old
But all you gotta do is scratch beneath the surface
And it's fool's gold
Fool's gold

Now we're talking about a difficult thing
Your eyes are getting wet
I took us for better and I took us for worse
And don't you ever forget it

Now there's steel bars between me and a promise
Suddenly bend with ease
And the closer I'm bound in love to you
The closer I am to free

Indigo Girls - Power of two
Algumas sensações só podem ser transmitidas através da música...

Desprendimento




Desprender-se é a atitude de desistir de algo, desligar-se, desapegar-se. E, por mais paradoxal que possa parecer, esta é uma postura fundamental para alcançarmos algo que desejamos muito, ou seja, para que eu consiga realizar os meus desejos devo desprender-me deles, abandoná-los e entregar-me ao desconhecido.
Este exercício é bastante difícil visto que a maioria dos nossos desejos estão relacionados com o nosso passado recente ou com o mais distante. E o desprendimento exige de nós uma entrega total ao futuro e à incerteza que ele carrega.
Entretanto, se conseguirmos realizar essa mudança, estaremos a entrar no campo das possibilidades infinitas.
Visto que a maior parte dos nossos desejos são direcionados para os bens materiais, que se constituem em símbolos de poder muito valorizados pela sociedade, temos uma grande possibilidade de ver frustradas as nossas expectativas, já que os objectos de desejo material são prontamente substituídos por outros, assim que os conquistamos. A vida torna-se, então, uma busca incessante pela satisfação imediata de desejos vazios de significado.
Mas, se aprendermos a focar os nossos desejos não na conquista material pura e simples, mas sim na nossa realização interior, estaremos muito mais próximos de alcançar a plenitude. Viver assim requer de nós, antes de mais, uma intimidade absoluta com a incerteza. Ao desejarmos a segurança absoluta, principalmente em termos financeiros, estamos a alimentar uma expectativa irreal. Visto que a insegurança e o medo são estados interiores, eles continuarão presentes nas pessoas que os cultivam, mesmo se elas alcançarem a tão sonhada segurança material ou o grande amor com que sonharam.
Portanto, libertar-me destes estados interiores exige uma entrega voluntária à insegurança, à incerteza e ao desconhecido. Algo que, para algumas pessoas parece aterrador, mas que se confrontado, pode trazer mudanças profundas e um verdadeiro renascimento interior.
Flexibilidade, abertura para o novo, deixar fluir, são as principais atitudes a serem cultivadas para atrair a realização daquilo que desejamos e a estrada certa para a liberdade, para libertar tudo o que nos aprisiona num estado de medo e ansiedade.

"Quando aceitar o desafio de um determinado método difícil,tu cresces. Algo fácil não é necessariamente bom. Algo pode parecer fácil, mas não força qualquer mudança em ti. Permite-te ser como és, mas então isso não tem sentido. Todo o sentido está em criar algo em ti, maior do que tu és; algo em ti, mais profundo do que tu és. Todo o esforço é para ajudar-te a ir um pouco além de ti mesmo. Uma coisa é fácil quando ela se ajusta a ti. Uma coisa é difícil quando tu tens que te ajustar a ela. Assim, lembra-te sempre de que o caminho é árduo. Não existem atalhos. Todos chegam por um caminho árduo. Quando alguma coisa se torna muito fácil, procura por algo árduo novamente. Caso contrário, tu viverás convenientemente, morrerás convenientemente, mas nada terá acontecido. Segue procurando por novos desafios. Segue olhando mais alto. Mesmo que pareça impossível de ser alcançado, isso te ajudará a crescer. A própria visão de algo grandioso imediatamente começa a transformar-te. Tu começas a tornar-te maior até mesmo com um sonho de algo grandioso. Assim, nunca te acomodes com o fácil. As pessoas tendem a se acomodar muito facilmente e aí, naturalmente, o crescimento pára... Assim, nunca percas qualquer desafio. E se não existir qualquer desafio, cria um. Cria mesmo barreiras e obstáculos, eles irão ajudar-te. Eles farão de ti mais forte."

Osho

Porque complicamos tudo?




Estava aqui á espera, a olhar para uma flor á beira da estrada...

Porque será que as flores são todas bonitas sem excepção, e até mesmo o cardo e as ervas daninhas têm beleza como tudo na natureza, e o Homem não? As flores não são ricas nem pobres, nem mais inteligentes ou bem vestidas, não estão na moda...nem competem umas com as outras como as mulheres...as flores...nascem crescem e morrem sem problemas...porque estão junto da Terra...e viradas para o sol...nós não...

Ver as outras mulheres como rivais, para mim é sinal de uma grande insegurança a respeito das nossas capacidades, daquilo que somos realmente. E então viver uma vida centrada na comparação é certamente um convite à depressão e toda uma série de consequências incontroláveis. Realmente, tudo me leva a considerar que todo este sistema é uma teia bem tecida, e me desculpem, burro é quem cai nela. Cada pessoa é um mundo e não há ninguém igual a ninguém. Todos temos o nosso Caminho, que devemos seguir sem nos desviarmos um milimetro sequer, pois concerteza a vida se encarregará de o mostrar quando assim não o fizermos. E isto de comparações é uma ilusão muito grande. O que para uns é bonito ou melhor para outros não. E além do mais para quê que precisamos nós da aprovação de quem quer que seja para nos valorizarmos? Não teremos espelhos em casa?
Esses comportamentos são fruto de tudo que nos é ensinado, e do meio onde crescemos....presos a falsas crenças e treinados para uma corrida (competição)...e não para viver. E muitos sem voto na matéria, limitam-se a praticá-lo e a correr, achando-se o máximo porque estão a ser avaliados pelo mesmo sistema que os formou e moldou... a vida não é uma corrida.
Temos que ter em mente que lá porque nos ensinaram isto desde que nascemos, não temos que forçosamente seguir esse tipo de padrão, porque é isso que o sistema quer. Já viram os rios de dinheiro que deixariam de ganhar, se não houvesse essa dita rivalidade? Eles exploram esses medos e rivalidades porque é daí que fazem dinheiro...em relação aos medos e inseguranças então é uma loucura...tudo se vende tocando num medozinho qualquer que a gente tenha. E infelizmente têm armas muito potentes para nos arrasar, e os que tentam denunciar/lutar contra o sistema são facilmente aniquilados/presos/rejeitados/diagnosticados com todo o tipo de desordens cujo tratamentos os inultilza ou torna deficientes...até o suicidio, que nos tempos actuais cresce de forma inacreditável.

Por qué las mujeres no se han liberado todavía?

Una de las razones por las que las mujeres no se han liberado todavía es que no pueden formar una fuerza juntas: se compadecen del hombre; su co...mpasión no se dirige a las demás mujeres. Con las demás mujeres tienen una relación de celos, a ver si tienen ropa mejor, si tienen mejores accesorios, si tienen un buen coche, si tienen una casa mejor. Su única relación con otras mujeres es una relación de celos.

Pero si toda mujer está celosa de las demás mujeres, naturalmente esta es una de las causas de su esclavitud. No pueden formar una fuerza juntas; de otra forma, constituyen la mitad de la gente del mundo, podrían habérselas arreglado para liberarse hace mucho tiempo. En cualquier momento que quisieran liberarse no habría nada para impedírselo. Ellas son sus propios enemigos.

Una cosa que toda mujer debe recordar es que el hombre os ha dividido de una manera tan astuta que lográis formar una fuerza. Estáis celosas unas de otras; no sentís ninguna compasión las unas por las otras. Preferís sentirla por los hombres, ¡menos por vuestro marido, por supuesto! Tiene que ser el marido de otra...

El libro de la mujer - Osho

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

ICE DANCE Danny Elfman



Danny Elfman, banda sonora do filme Edward Scissorhands

Parece que nos faz entrar num outro mundo, um mundo de magia, de pura beleza, e que nos dá aquele sentimento especial, de que ainda há esperança de sermos melhores pessoas. Faz-me querer acreditar num mundo melhor, LINDO na sua essência, FRÁGIL ao nosso toque e tão MISTERIOSO ao ponto de suscitar a nossa curiosidade...

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

The End - Pearl Jam



What were all those dreams we shared
those many years ago,
What were all those plans we made,
now left beside the road.
Behind us in the road.
...
More than friends, I always pledge,
cause friends, they come and go.
People change as does everything.
I wanted to grow old.
Just want to grow old.

Slide on next to me,
I'm just a human being.
I will take the blame, but just the same,
this is not me, you see, believe,
I'm better than this.
Don't leave me so cold.
I'm buried beneath the stones,
I just want to hold on and know I'm worth your love,
and I, I don't think, there's such a thing.

It's my fault now, I've been caught,
a sickness in my bones.
How it pains to leave you here
with the kids on your own.
Just don't let me go.

Help me see myself,
Cause I can no longer tell,
Looking up from inside of the bottom of a well,
it's hell, I yell, but no one hears before, I disappear,
whisper in my ear.
Give me something to echo in my unknown future,
you see, my dear, the end, comes near, I'm here,
but not much longer.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Abolitionist - Aaron Cohen - Human Trafficking in The United States and ...

                                                   



Human trafficking is a problem, not just in southeastern Asia or Cambodia, but also  in the good ole' United States of America.
The US is both a destination and a source location for human trafficking victims.

Join Aaron Cohen as he investigates the global problem of human trafficking and modern day slavery.
See the mass reunion of slaves in Sudan and children returned to their families in Haiti.




What Your Soul Sings - Massive Attack



Don't be afraid
Open your mouth and say
Say what your soul sings to you

Your mind can never change
Unless you ask it to
Lovingly re-arrange
The thoughts that make you blue
The things that bring you down
Only do harm to you
And so make your choice joy
The joy belongs to you

And when you do
You'll find the one you love is you
You'll find you
Love you

Don't be ashamed no
To open your heart and pray
Say what your soul sings to you

So no longer pretend
That you can't feel it near
That tickle on your hand
That tingle in your ear
Oh ask it anything
Because it loves you dear
It's your most precious king
If only you could hear

And when you do
You'll find the one you need is you
You'll find you
Love you

Air - All I Need - New Video!



Alto Groove...mnham, mnham!

The Dying Swan



From The Carnival of the Animals by Camille Saint-Saens (1975)

Eu Adoro esta versão da morte do Cisne mas, fico triste quando as pessoas criticam outras bailarinas por causa dos seus Cisnes serem menos graciosos, ou parecerem muito tristes...
Existem muitos e diferentes tipos de Cisnes no Mundo, e tenho a certeza que todos eles morrem de formas diferentes! Uns de uma forma calma devido á sua idade,outros em sofrimento porque estão tão agarrados á Vida.
Deixemos cada Cisne ser ele próprio e, apenas disfrutar de cada interpretação como uma entrega de Alma!

The dying swan



Tal como o John, o "figurino" não é muito dado á beleza mas, Dança com Alma!
Maya Thickenthighya From The Trocadero Ballet of Montecarlo...

Se ela dança,eu danço SBT john Lennon A morte do Cisne



Sem palavras...Quanta emoção!
A certa altura deixei de ver o John e passei a ver o próprio Cisne, a debater-se, a lutar pela Vida, e na minha opinião, é o que distingue os bons, dos maus artistas.
Emocionante!

p.s. mais uma vez, obrigada Ricardo Pinto

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Férias do Barulho



Férias do Barulho (Private Resort) 
1985

Directed by George Bowers

Johnny Depp : Jack Marshall

Dois adolescentes loucos por sexo em busca da aventura de suas vidas neste escandaloso filme sobre férias cheio de areia, surf e corpos!
Jack (Depp) e seu amigo Ben (Morrow) vão para um hotel na Flórida planeando passar cada minuto de sua estadia procurando por lindas mulheres.
Mas seus planos vão por água abaixo quando eles tentam seduzir a mulher de um ladrão de jóias (Hector Elizondo).
Eles vão ter que ser mais espertos do que ele, um cruel segurança e um repulsivo escocês, se quiserem passar um tempo a sós com as mulheres de seus sonhos!

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Lisbon revisited









Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafisica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!)
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja de companhia!

Ó céu azul o mesmo da minha infância ,
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflecte!

Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!


Álvaro de Campos




Poema em Linha Recta




Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó principes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Álvaro de Campos

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Ninguém me conhece...




Ninguém me conhece da maneira que você ousou.
Ninguém foi tão profundo,
E eu vou usar o mar como metáfora,
Um dos meus maiores medos,
E resistiu por tanto tempo.

O que me assusta
E não deveria
É que não estou dando um peso maior ao fato.
Ou organizando as palavras de forma meticulosa
Para parecer misterioso
Ou interessante.
Não.

De fato, ninguém sabe tanto sobre mim.
Do que não é visível.
Do que não se percebe ao observar
Da forma que você...
(Eu não sei completar essa frase)

Você conhece tudo o que não é agradável.
Você sabe quando estou agindo de forma educada
Somente para cumprir formalidades.
Sabe quando eu concordo querendo explodir palavrões.
Das ironias, dos segredos, dos armários.
Das insatisfações, receios e despudores.
Dos pecados, todos eles e os seus desdobramentos, você sabe.
Algumas vezes sorri para eles e me respeita
E que me ensina a ser.
Quase sempre.

Você sabe do que me desagrada.
Do que me incomoda.
Do que me paralisa e não sei se é comum
Alguém saber tanto do outro
Mesmo depois de tanto tempo.

Eu não sei se é natural alguém conhecer sobre tanto
Do que é sombra em outra pessoa.
Se for trivial se deixar radiografar sem garantias
Porque com gente é assim:
Sem garantias.

Gostaria de qualquer rede de segurança,
Qualquer direito que me protegesse
Mas se eu resolver listar tudo o que eu gostaria
Poderia escrever por três dias.
Meses, talvez.

Provavelmente, eu não sei tanto sobre você.
Não me aflige não saber.
Não saber, na verdade, me salva.
Não saber, de uma forma bem sarcástica, é minha garantia.
Não saber, só me faz tomar ciência de que sou o tipo de pessoa
Que se deixa decifrar facilmente
E não acredito que somos todos tão misteriosos assim.
Mas permitir é uma escolha
Assim como conviver, ser amigo, amar.

Se permito tão fácil e tão simples,
É também pela qualidade do tempo.
Do amor
Que me sopra que ninguém aproveitou tanto do agrado
Das luzes
Da gentileza
E das sopas de letrinhas da forma como você se lançou.
Tempo do amor, eu dizia.
Ou vaidade deslavada.

E você, homem lindo, já compreendeu.
Percebeu.
Retribuiu.
E se esquiva ou se esconde,
Ou talvez tenha medo,
A ponto de se deixar penetrar.

Do equilíbrio entre o sim e o não
É que talvez se explique o fato de que nós dois juntos
Consigamos nos preservar sem tantos espinhos.
Daquelas equações improváveis
Daqueles nós insolúveis
Daqueles casos descartados
Que se alimentam da improbabilidade
De perceber a beleza que sempre existiu
Mas nunca foi provocada.

Ninguém sabe tanto dos meus vulcões.
Ou suportou por tanto tempo todo tremor de terra.

Sei também eu das tuas e dos teus desvios
Conheço os atalhos
Sei da roupa amassada
Da fome gigantesca
De quando os holofotes descansam
E a maquiagem derrete
Da lágrima que ninguém viu, eu sequei cada uma.

Aqui vou me desdizer
E deixar de ser poeta:
É recíproco - sim - porque ambos compreendemos
Que é preciso alguém para dividir qualquer tesouro
Empoeirado ou não.

Companheiros, me sopra o racional
Se não fosse essa leve sensação de não se deixar tocar
De te exigir atitudes
Mendigar migalhas
Eu, com reserva para tantos invernos.
Me assalta a sensação de não satisfação
E que não chega a ser nada além de uma sensação
Tola
Que não esbarra na história real de nós dois.

Ninguém nunca me resistiu por tanto tempo.
Ao meu amor. Carinho. Ou qualquer outra urgência branda.
Ninguém foi tão meu amigo por tantas quadras
Me entregando a sensação de que cada dia é um novo dia.
Nova página para rabiscar

Ávidas crianças diante da tinta abundante e plural.
Ciente dos cuidados, da conquista que se refaz
Feito tecelão dos bons, diante da sua melhor roca.

Era sobre isso que eu queria escrever:
Sobre essa responsabilidade
de ser e estar
Que a gente vai honrando com sal pimenta
E um açúcar nada amargo.

Egídio La Pasta

Sempre Tua/Teu




Excerto do livro, “Sempre Teu, Oscar”, para deixar registado a todos aqueles que possuem uma grande alma.


“Estou a escrever-te tão longamente para que tu reflitas a respeito de tua importância para mim, para que penses no que tu tens sido para mim durante este meu encarceramento que já dura quase dois anos, para que saibas quais são minhas intenções para comigo mesmo e para com meus amigos quando finalmente for libertado. Não posso reestruturar esta carta ou reescrevê-la. Tu deves aceitá-la como está, com alguns trechos borrados pelas lágrimas e com muitos outros marcados pela paixão e pela dor. Faz com ela o melhor que puderes, apesar dos borrões, das correções e tudo o mais. Com relação às correções e erratas, eu as fiz para que as minhas palavras pudessem expressar exactamente o que eu estava a pensar e não corresse o risco de cometer algum erro por excessos ou inadequações. A linguagem precisa ser afinada, tal e qual um violino. E, da mesma forma que vibrações a mais ou a menos na voz de um cantor ou nas cordas de um instrumento podem fazer com que a nota soe falsa, palavras a mais ou a menos podem estragar a mensagem.

Posto isto, quero que saibas que a minha carta possui seu significado exacto por trás de cada palavra. E não se trata de retórica. Onde quer que haja palavras riscadas ou substituídas, por mais ou menos elaboradas que sejam essas correcções, isso deve-se à minha busca por expressar-me o mais autenticamente possível, por encontrar a palavra exacta para o que estou a sentir. Quando um sentimento chega em primeiro lugar, a forma chega sempre em último.

Lembra-te ainda que, se comparado aos meus mais insignificantes momentos de isolamento, o prato da balança onde tu está sobe até bater no travessão. A vaidade fez-te escolher a balança, e foi a verdade que o fez agarrar-se nela. É aí que está o grande erro psicológico que nos cerca: a completa falta de equilíbrio. Tu forçáste a tua entrada numa vida que era grande demais para ti, uma vida cuja órbita transcendia tanto a tua capacidade de visão quanto a sua capacidade de movimentação cíclica, uma vida cujas idéias, paixões e acções tinham grande importância e eram de enorme interesse, e que estavam impregnadas das mais maravilhosas ou terríveis consequências. A tua vidinha de pequenos caprichos e humores só era admirável no teu medíocre círculo de amizade.

As grandes paixões são para aqueles que possuem uma grande alma e os grandes acontecimentos só podem ser compreendidos por aqueles que estão no mesmo nível (...)

(...) Tu viéste até mim para aprender o prazer da vida e o prazer da arte. Talvez eu tenha preferido ensinar-te algo muito mais maravilhoso: o significado do sofrimento e toda a sua beleza.


OSCAR WILDE