sexta-feira, 7 de novembro de 2025

A Família que Devorou Seus Homens

 



 

SINOPSE

A família que devorou seus homens é um relato poderoso sobre os significados, as dimensões e as implicações da diáspora. Um livro sobre perdas, partidas e memórias; um retrato de família mergulhado em ternura e dor. Através do diálogo da narradora com a mãe e as memórias dessa mãe, o leitor vai conhecendo as histórias de uma família formada basicamente de mulheres. A autora síria, Dima Wannus, retrata essas mulheres e as reviravoltas na vida de cada uma numa linguagem concisa e luminosa, direta e muitas vezes cheia de humor. São personagens que ficarão com certeza, e para sempre, na memória do leitor.


Ocorrida a Nakba em 1948 e por consequência da expulsão dos povos árabes habitantes da Palestina para diversos países do mundo, uma sensação de não pertencimento e desejo de retorno apoderou-se dos usurpados, todavia, quase incapazes de retornar à Pátria, muitos se fixaram de maneira permanente em países como Líbano, Síria, Irão e Turquia.

É nesse contexto que a escritora síria Dima Wannus escreve o seu romance; fala sobre uma geração de mulheres refugiadas em Damasco e da “saudade mais doída sendo aquela que temos pelo que não existe mais”, quando são novamente refugiadas dado o caos social que a ditadura dos al-Assad promoveu na Síria, fazendo delas novamente migrantes agora em Londres, Paris e Beirute.

Assim como narra cada particularidade das personagens femininas e o seu modo de enfrentar a situação diante da solidão, do passado e da inconformidade do presente, narra também o impacto do conflito Israel-Palestina na vida dos que foram afetados. 


"Minha mãe tem medo 
de perder a memória, e eu 
tenho medo da loucura."


São as memórias que nos dão identidade. 
Não apenas uma identidade pessoal, mas também nos unem a quem tem as mesmas memórias que nós. 

“Aquela confusão, aquela bagunça, dava-me a sensação de estar em lugar nenhum. O carregamento terminou a última caixa e começou a levá-las para o camião. A nossa memória estava a ir embora em caixas numeradas e com uma breve descrição de conteúdo. Como viajar sem memórias? Chegaremos a Londres duas ou três semanas antes de as caixas chegarem! Ter a nossa memória a viajar em caixas facilitou as coisas.”

Os exilados, tentam fazer a viagem de volta a essa identidade desaparecida e ao passado histórico. Quando essa rota se mostra condenada, eles apegam-se a coisas que carregam memórias daquele ponto no tempo e no espaço. É um anseio por uma experiência nacional passada que não se ajusta mais à realidade social e às expectativas futuras sob o exílio. 
Dima Wannus retrata esse sentimento ao montar um retalho de memórias, fiando-o com as biografias da mãe, da avó, suas tias e suas primas.

Mas as memórias podem também ser um fardo. 
Há memórias que nos desequilibram, porque são um fardo que nos atormenta a mente sem tréguas. 
O esquecimento — assim como o medo — são benéficos em certa medida. 
O medo protege-nos. Quando ultrapassa o limite, o medo torna-se uma fobia que nos escraviza. 
O esquecimento também nos protege. Há dores, mágoas, lembranças que, caso nunca sejam superadas, integradas e curadas, ficam ali a remoer o passado numa prisão de porta aberta.
As memórias — assim como o medo, a culpa e a vergonha — podem aniquilar-nos aos poucos até nos levar à morte — seja esta espiritual, psíquica, emocional ou, até mesmo, física.
 
No livro, conseguimos distinguir as personagens e entender as diferentes maneiras como elas lidam com a vida ao ouvir as suas histórias.
Dima mostra as dimensões e implicações da diáspora na relação entre duas gerações de mulheres. Ela e a mãe, num apartamento temporário em Londres, vivem esses múltiplos lutos, o de sua terra natal, de seus homens e suas mulheres. A escrita, ao documentar essas memórias, ajuda-as a processar essas perdas.

Dima Wannus nasceu em Damasco, na Síria, em 1982, e tinha menos de trinta anos quando a guerra civil implodiu na Síria. 
Este livro conta os impactos do conflito na sua família, e o desmantelar das suas relações. 
Dima decide fugir para Londres junto com a mãe e, lá, reclusas e refugiadas, elas mantêm vivas as memórias de Damasco contando as histórias do passado. A filha filma as lembranças da sua mãe enquanto ela fala sobre a sua família que ficou na Síria, e elas apegam-se a esses fragmentos de memória — os cheiros, as comidas, as tragédias — para digerir a perda, a culpa e a saudade.

Dima Wannus traz uma narrativa de memórias. 
A mãe narra cada detalhe do que foi perdido para sempre: a luz da manhã em Damasco, o sabor da comida da irmã, o som das portas do armário, o cheiro da madeira…
A família de Dilma já não tem homens...morreram na guerra, desapareceram sem deixar rasto, e só restou Dima, a sua mãe, as tias e primas, e vivem juntas os anos do regime autoritário da família Assad e o conflito civil que corrói a Síria desde 2011.
A Revolução de 2011,  foi reprimida pelo regime Assad o que desencadeou a guerra civil. 

Mãe e filha reunidas nas fugas, saídas, retiradas, nas trajetórias para longe da revolução na Síria, que se apresenta como uma guerra de interesses envolvendo pelo menos três grupos que disputam o poder, além das intervenções americanas e russas. 
A fuga de Damasco afeta profundamente a mãe de Dima de forma irreversível.
A mãe apoiava-se no passado, ficou aprisionada no passado, e Dima vivia em modo de espera...à espera de um dia se libertar das memórias da mãe...à espera de poder transitar do presente para o futuro completamente desenraizada. Era um abismo aberto entre mãe e filha, entre o apego ao passado e uma sede enorme de futuro...dilemas típicos dos imigrantes e dos refugiados.


Quem são os refugiados sírios?
Os pobres não têm como fugir do país, não têm como financiar uma fuga para um lugar seguro e, muito menos, manter-se num outro país e recomeçar de novo.
A maior parte dos refugiados sírios são, portanto, classe média e classe média alta. 
Dima e a família deixaram Damasco durante a Guerra civil na Síria, refugiaram-se em Beirute, e depois espalharam-se por Paris e Londres. Dima e a mãe foram para Londres. 
Segundo dados das Nações Unidas, existem mais de 6,8 milhões de refugiados sírios espalhados pelo mundo.


Um dia, tudo se perde, tudo se desfaz. 
Ficando apenas as memórias.
As memórias são a única coisa que é verdadeiramente nossa. 
No entanto, as memórias também são grãos de areia que se perdem entre os dedos com o passar do tempo. 



“A saudade mais doída 
é aquela que temos 
pelo que não existe mais.”


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