sábado, 29 de novembro de 2025

Exile


Thomas Toft



As a man approaches thirty he may
take stock of himself.
Not that anything important happens.


At thirty the mud will have settled:
you see yourself in a mirror.
Perhaps, refuse the image as yours.


Makes no difference, unless
you overtake yourself. Pause for breath.
Time gave you distance: you see little else.


You stir, and the mirror dissolves.
Experience doesn’t always make for knowledge:
you make the same mistakes.


Do the same things over again.
The woman you may have loved
you never married. These many years


you warmed yourself at her hands.
The luminous pebbles of her body
stayed your feet, else you had overflowed


the banks, never reached shore.
The sides of the river swell
with the least pressure of her toes.


All night your hand has rested
on her left breast.
In the morning when she is gone


you will be alone like the stone benches
in the park, and would have forgotten
her whispers in the noises of the city.


R. Parthasarthy



Levarei o Fogo Comigo

 

Foto de capa: 
Leïla Slimani em Paris, aos 18 anos. 
Foto do arquivo pessoal cedida pela editora Gallimard





O que fica de alguém 
quando deixa um lugar?


O título do livro ecoa uma promessa e uma herança: 
Uma descendente que recolhe o que ainda queima, fere, foi silenciado da sua história pessoal e coletiva, e que tem um peso que faz com que não volte.
Ela teme os objetos, as heranças, e desconfia de tudo o que se prende com o passado.

Assim, arrumou a infância e levou o que importava.

"Mia, vai e não voltes!
Não guardes forças para o regresso, e nada o mais longe que puderes.
Percebi tudo sabes, e vi tudo.
O que te fizeram sofrer e o que dirão de ti.
Deverás pensar como uma mulher a monte, minha filha, porque é a nostalgia, sempre, a perdição dos criminosos em fuga. Um aniversário, um enterro, a saudade do país onde se nasceu. A nostalgia fá-los regressar e arrependem-se. Não deves regressar a Ítaca, mas sim encontrar para ti uma ilha como a dos Lotófagos, uma ilha para esquecer o regresso, para nem sequer sentir vontade de regressar. 

Sim, as pessoas tentarão convencer-te.
Pensarás que terás alguma coisa para fazer aqui, que podes ser útil.
Mas, não acredites nisso!
Enfia cera nos ouvidos, amarra-te ao mastro, lembra-te do que te disse.
Não voltes!

Essas histórias de raízes não passam de uma maneira de te pregar ao chão, portanto não importa o passado, a casa, a herança, os objetos, as recordações.
Ateia um grande incêndio a tudo, e leva o fogo contigo!

Não te digo até um dia, minha querida, digo-te adeus.
Empurro-te do cimo da falésia, solto a corda e observo-te a nadar.

Meu Amor,
Não cedas no que toca à Liberdade.
Desconfia do calor da tua própria casa,"

A questão é: 
  1. Como manter a chama acesa? 
  2. O que é que recebemos e deixamos em herança? 
  3. Como nos incendiamos depois das cinzas?



O romance acompanha o crescimento de Mia e Inès, duas irmãs que, embora criadas no mesmo ambiente, seguem caminhos distintos. As diferenças entre elas servem como metáforas para o confronto entre tradição e modernidade, entre o peso da herança cultural marroquina e o desejo de emancipação individual. Slimani explora com sensibilidade as tensões familiares, as frustrações geracionais e os dilemas identitários que atravessam as personagens.


"Este livro é escrito não com sangue, mas com lava em ebulição. O que é que nos acontece quando já não temos sangue nas veias, mas apenas uma erupção imparável e incandescente? Leïla Slimani escreve com a fúria de alguém que escava um buraco com as mãos no jardim e que, muitos anos depois, sucumbe ao medo, ao medo paralisante que apaga a memória. Esta fúria e esta lava estão latentes. São sedimentos que resultam da sensação de se ser estrangeiro no seu país, de ser desconforme aos comportamentos de género socialmente aceites, a uma sensação de estranheza e despertença.

"Levarei o Fogo Comigo" é um livro de mulheres que são Ulisses, que inventam o seu próprio destino e que recusam ser a mítica Xerazade, que encantava tiranos e assim salvava a pele. Nesta "Odisseia" chamada "O País dos Outros", trilogia que se encerra com este volume, procura-se menos o regresso a casa, questiona-se: onde é casa? E entende-se casa, se não como sinónimo, como palavra-irmã de identidade, memória, integração.

Nas epígrafes, somos introduzidos a noções fundamentais: casa, raízes, incêndio. É um prenúncio de desgraça, que tem, como aqui se escreve, um cheiro particular. 
Consequentemente, coloca-nos uma pergunta: 
Como fazer o caminho para a frente, como prosseguir depois da hecatombe?"

Anabela Mota Ribeiro



"As pessoas como ela.
Havia, algures, pessoas que se lhe assemelhavam e ela forçava-se a esquecer que, se estavam unidas, era pela infelicidade. Pessoas como ela, e fingia ignorar a que se referia a mãe. Mia não se autorizava, nem em pensamentos, a dizer a palavra [lésbica], a qualificar-se.
Repetia para si própria: sou normal, e não fiz nada de mal.
A mãe queria que ela fosse feliz.
A mãe não acreditava na sua felicidade. Ela tem medo, pensava Mia, que eu seja estranha, travesti, sidosa, marginal. Preferia mil vezes que eu fosse conformista e banal.
Ama-me, repetia Mia para dentro, mas amar não tem nada que ver com palavras.
Amar era não fazer perguntas, não abrir os armários que o outro tivera o cuidado de fechar à chave. Não teimar em desenterrar os segredos.
Amar era guardar silêncio, juntos, deixar pairar perguntas sem respostas e aperceber-se de que isso não tinha importância nenhuma.

Amar e saber eram duas coisas muito diferentes."

O retrato de Marrocos nos anos 80 é rico e crítico. 
A autora não se furta a abordar temas delicados como o islamismo, o extremismo, a repressão política e a liberdade de expressão. 
A pergunta “Seria Marrocos uma verdadeira democracia?” ecoa ao longo do texto, revelando o desencanto de quem vive entre fronteiras físicas e simbólicas. 

Mia e Inès nasceram em Marrocos na década de 80, num país dividido entre o desejo de modernidade e o medo de perder a sua identidade. Enfrentam o preconceito e o desprezo, mas alimentam-se do fôlego que já havia movido as gerações anteriores das mulheres da família, a avó Mathilde, a mãe Aicha e a tia Selma. 

"Para uma mulher, envelhecer era a melhor vingança de todas, porque finalmente as pessoas a respeitavam.
Davam-lhe um beijo no ombro, e abençoavam-na.
Assim que os seios murchavam, o sexo de fechava, o rosto se sulcava de rugas e preocupações, finalmente, os outros aceitavam levar a mulher a sério. No crepúsculo da vida, acabavam por reconhecer que sim, ela tinha dado muito, tinha precisado de resistência e ternura para que os filhos crescessem e tivessem eles próprios filhos. A idade conferia-lhe o poder que sempre lhe faltara, o respeito pelo qual aspirava. 
As velhas podiam ser tiranas, autocratas, soberanas absolutas, podiam usar a bengala para bater e ralhar, gritar, reclamar, e ninguém se atrevia a dizer nada."


"Sempre detestei a ideia de traçar uma linha e dividir o mundo a preto e branco, de um lado as mulheres e do outro os homens. Ou dizer que o patriarcado é os homens no topo e as mulheres na base. A vida é muito mais complexa. Conheço mulheres que são muito patriarcais e conheço homens que foram destruídos pelo patriarcado. Tentei neste livro ser mais subtil e mostrar, através da personagem de Mia, uma mulher que, quando é jovem, despreza as mulheres e a feminilidade."

Leïla Slimani

"Quando era criança, não queria ser mulher. Odiava as mulheres. 
A vida das mulheres é muito trivial e pouco interessante: Elas passam o dia a falar sobre o preço das cenouras e das batatas, só querem ir ao mercado e tratar do jantar e estão sempre a perguntar-me pelos trabalhos de casa. 
O meu pai nem sequer entra na cozinha. É tão livre e tão egoísta. 
Quero ser egoísta e livre como o meu pai." 

A Mia pensa que, para ser livre, tem de ser um homem. 
Ao mesmo tempo, Mia encarna um pouco a masculinidade tóxica, porque é bastante violenta com as mulheres e aceita coisas horríveis da parte dos seus amigos homens, que fazem muitas piadas e vêem filmes pornográficos. 

Sim, as mulheres preocupam-se com o preço das cenouras e das batatas, mas estão tão vivas, profundamente enraizadas. Estão cá e, aconteça o que acontecer, adaptam-se. 
Não se preocupam com o progresso porque elas são o progresso. 
Estão no presente e estão no futuro. 

Os homens, falam e falam e falam...têm muitas teorias sobre tudo. 
As mulheres não falam assim tanto. Elas agem.


A memória, tema recorrente na obra, é tratada como um fio condutor entre gerações. A autora questiona o que resta da identidade quando a memória se esvai, e como o exílio — seja geográfico ou emocional — molda a forma como nos vemos e somos vistos.

É uma reflexão que explora o contraste entre Marrocos e os estados ocidentalizados, onde a liberdade parece mais tangível, mas também mais complexa. Slimani não idealiza o Ocidente, mas usa-o como contraponto para explorar o exílio, a perda de raízes e a reconstrução da identidade.


"Podemos amar um país que não nos ama?
Podemos ser, ao mesmo tempo, daqui e de lá?

Para que servia tentar saber qual era o meu lugar, qual era o meu país, quando eu nem sequer sabia quem era?
Que quer dizer "identidade" quando perdemos a memória?
Não a memória dos povos, essa pouco me importava.
Mas sim, as histórias que a minha avó me contava, as fábulas que o meu pai inventava, esses íntimos "era uma vez" que constituem quem eu sou e com os quais cubro as paredes.

Quando me perguntam de onde eu sou, nunca sei o que dizer, como o balbuciar de um gago tentando pronunciar uma palavra e que, exausto, acaba por desistir.
Tal como o meu pai, faço-me passar pelo que não sou, tornei-me a minha própria falsária, cópia de má qualidade de um quadro de mestre, falso bilhete que nada vale, a não ser para os ingénuos que merecem ser roubados."


Esta trilogia, que começou com O País dos Outros, depois Vejam Como Dançamos e, por fim, Levarei o Fogo Comigo, estes 3 livros são inspirados na vida da autora e na sua família. É a história dos seus avós, dos seus pais, a sua história. Esta trilogia é sobre família e é sobretudo sobre as mulheres, e sobre a ideia que as mulheres têm dos homens. Mas é também sobre identidade, emigração, sentirmo-nos estrangeiros - seja uma europeia em Marrocos, seja uma marroquina na Europa. E é sobre o que levamos quando partimos e aquilo que não podemos, ou não conseguimos ou não queremos, deixar para trás.

"Este livro não é só sobre viver", diz Leïla Slimani sobre "Levarei o Fogo Comigo". 
"Viver o nosso país, viver a nossa cultura para chegar a um novo mundo. Queria falar sobre o regresso. Regressar: gosto muito deste verbo português. É difícil e melancólico. É impossível regressar. Nunca se regressa, pois a pessoa que regressa não é já a mesma. O país para onde se regressa mudou enquanto estivemos fora. 
Quando Ulisses chega a Ítaca, no final da sua odisseia, depois de inúmeras aventuras, de tantos sofrimentos, ninguém o reconhece. Só a ama, já muito velha, e o cão dão sinal de que é ele. Eu passei pelo mesmo. À chegada, deparamo-nos com uma emoção muito forte. É o nosso país, é a cor do céu, a luz, o cheiro das coisas, a língua. Ao mesmo tempo, as pessoas olham para nós e pensam que somos turistas, perguntam se queremos uma visita guiada. Sentimos que há ali qualquer coisa que se desfez para sempre. Queria falar sobre esta mágoa de não ser possível voltar. Sempre me senti uma estranha.

Achava que não pertencia totalmente ao meu país, Marrocos, onde nasci e cresci. Provinha de uma família muito diversa, original e marginal na maneira de viver. A minha avó era da Alsácia, adorava beber vinho branco e comer salsichas durante o Ramadão. O meu pai, embora sendo muçulmano, nunca praticou o Islão. E eu não sabia nada sobre o passado do meu pai. Nunca tinha visto uma fotografia do meu pai em criança. Ele vinha de uma família pobre e frequentou escolas colonizadas. Foi muito influenciado pela cultura ocidental. Era uma espécie de Grande Gatsby, reinventou-se. A minha mãe foi criada em Meknès por uma mãe cristã e um pai muçulmano. As pessoas olhavam para nós com a sensação de que não pertencíamos ali. Éramos demasiado franceses, demasiado ocidentais, demasiado livres. Dávamos imensas festas onde havia álcool e os meus pais eram feministas. Não espanta que sempre me tenha sentido uma forasteira.

Chegamos a um país e tudo é diferente, fisicamente diferente. A imigração não é algo abstracto. Tem directamente a ver com o corpo. E é por isso que escrevo sempre sobre o corpo. O clima não é o mesmo, a comida não é a mesma, a forma como as pessoas se vestem não é a mesma. Foi muito violento chegar a França nos anos 90 do século passado. As pessoas eram bastante racistas e diziam coisas sobre os árabes sem sequer pensarem que podiam fazer-nos sentir vergonha ou tristeza.

Sou uma nómada. Não sei onde é o meu lugar. A minha casa é o corpo das pessoas que amo. Os meus filhos são a minha casa, o meu marido, os meus amigos, a minha família. Não é bem um sítio. A literatura também é a minha casa. Eu habito os livros, habito a ficção.

Por outro lado, não me identifico minimamente com a forma como as pessoas e a política que nos rodeiam falam de raízes, de identidade. Tentam definir uma identidade, dizem-nos que temos de ser assim ou assado. Não é sobre quem somos: o que importa é o que fazemos, o modo como agimos. 
Acho ridículo dizer: “tenho orgulho em ser desta nacionalidade ou daquela”. Orgulhem-se de serem boas pessoas. Não se orgulhem de ser ganeses, portugueses, franceses ou ingleses, se forem más pessoas. Isso é uma estupidez.

É apenas a minha história e não quero passar a minha vida inteira a pedir desculpa por ela."

"Quanto mais envelheço, mais me sinto frágil, vulnerável. 
Mas não o encaro como fraqueza. 
O que sinto é que agora posso partilhar a minha vulnerabilidade com as outras pessoas. 
Quando somos jovens, não queremos ser vulneráveis. Queremos ser fortes, sair e curtir, queremos que as pessoas nos amem e admirem. 
Agora quero olhar para as pessoas e dizer: também tens medo?"

Leïla Slimani


Leïla Slimani nasceu em Rabat em 1981. 
Recebeu o prestigiado prémio Goncourt aos 35 anos. 
Vendeu mais de um milhão de livros no mundo todo. 
Vive desde há quatro anos em Lisboa.




domingo, 23 de novembro de 2025

Trust


Pexels



Oh we've got to trust
one another again
in some essentials.

Not the narrow little
bargaining trust
that says: I'm for you
if you'll be for me. -

But a bigger trust,
a trust of the sun
that does not bother
about moth and rust,
and we see it shining
in one another.

Oh don't you trust me,
don't burden me
with your life and affairs; don't
thrust me
into your cares.

But I think you may trust
the sun in me
that glows with just
as much glow as you see
in me, and no more.

But if it warms
your heart's quick core
why then trust it, it forms
one faithfulness more.

And be, oh be
a sun to me,
not a weary, insistent
personality

but a sun that shines
and goes dark, but shines
again and entwines
with the sunshine in me

till we both of us
are more glorious
and more sunny.


D H Lawrence



Analysis (AI): 

This poem emphasizes the importance of genuine and unconditional trust in relationships. It suggests moving beyond transactional or conditional trust and embracing a larger, cosmic trust that reflects the boundless nature of the sun.

The poem's language is clear and direct, avoiding flowery or sentimental language. This simplicity highlights the poem's central message: trust should be based on the inherent goodness and reliability of the other person, not on specific actions or expectations.

Compared to Lawrence's other works, this poem reflects his ongoing preoccupation with relationships and the search for authenticity. It also resonates with the broader themes of cosmic consciousness and the interconnectivity of all things that characterized his later work.

In the context of its time period, the poem's emphasis on trust and interdependency stands out against a backdrop of social and political upheaval. It offers a vision of hope and resilience, suggesting that even in turbulent times, the power of genuine trust can sustain and nourish human relationships. 




Burning Questions. Complicated Answers

 


Sveta Zi



Relationship dilemmas 
 are not problems to solve. 
They are paradoxes to manage.


People always want tips and tricks for making their relationships better… but often, what they really want are answers. And the answers they want are usually to life’s biggest questions:

  • How do I find “the one”?
  • How do I heal after being hurt?
  • Why does desire fade over time? Can it come back?
  • Should I change careers?
  • Should we move closer to my partner’s family or mine?
  • Should we have kids?
  • Should we open our relationship?
  • Should we be exclusive?
  • Should I stay or should I go?

Behind each of these questions is a story about love, loss, hope, and fear. 
These stories have densely layered plots with surprising character arcs, villains, victims, and redeemable antiheroes. There are miscommunications and missed connections. 
There is rupture and repair. There are grudges. There is forgiveness.

No Easy Answers

Under the surface of each of these questions—and the stories that shape them—is the absolute mess and tremendous beauty of intimacy. 
There’s no easy answer, no simple truth. 
It’s enough to make one shut down or turn away from love altogether. And yet, it is the act of exploring these big questions that keeps us connected not only to others but to ourselves.

So, we keep searching. 
And because we search, we allow ourselves the pleasure and the pain of discovery. 
It is that curiosity which keeps us connected to our sense of aliveness.


  1. How do I live with unrequited love? 
  2. How do I build community? 
  3. Should I keep waiting for my partner to be ready to have a child? 
  4. Will I ever heal from the reality-shattering impacts of betrayal? 

Let’s Turn the Lens on You

When we keep asking, the question itself becomes the teacher.

  • Pick one of the “big questions” that resonates with you (e.g., Should I stay or should I go?).
  • Write your answer in a few sentences, honestly and privately.
  • Then re-read your answer and ask yourself: “What question is hiding underneath this one?” It might be: What do I fear losing if I leave? or What part of me is asking to grow?



Life is a game of risk

From the moment we come into this world to the moment we die, our survival instinct acts as a silent captain navigating every situation we face or desire. And at every step, a subconscious calculation is operating in the background:

  • Is this a harmful situation to avoid?
  • Will I get hurt?
  • Do I want to get hurt?
  • Could there be a payoff?
  • What if it’s great?What if I fail?

Is It Worth the Risk?‍

We focus a lot on red flags, particularly while dating and early on in relationships. 
Often, our ability to recognize a red flag is because we’ve experienced it before. 

When we’ve dated a few too many narcissists, our eyebrows might perk up if our date is bragging a little too much. If a former partner struggled with substance abuse, we might overly-chastise our new mate for occasionally overindulging. When we’ve had past experiences in which our partner was too needy or we felt too needy, we may find ourselves seeking “situationships” where we don’t have to get deep enough to develop any level of dependence. And when we’ve experienced trauma, we will either try to avoid anything similar—or find ourselves experiencing it over and over again without totally understanding why. ‍

It’s crucially important to look for red flags. 
But hypervigilance can also leave us feeling constricted and avoidant. 

How many of us have wanted to run and jump off the dock into new depths of our relationship—only to stop ourselves at the edge because the proverbial water might be too cold, too murky, too mysterious? 

It’s that mystery that triggers our risk calculations—but it’s also what helps build sustainable desire that allows us to go deeper together over time.


Taking Risks Helps Build Trust Over Time

Over the course of a long partnership, issues can pile up, whether it’s major transgressions or minor mistakes that have compounded. 
Even small mistakes can be corrosive when they happen again and again. 
And even when the offending partner is working to heal the wounds, the other partner’s confirmation bias will insist “they’re just going to do it again.” 

If any of this sounds familiar to you, the last thing you probably want to hear is that it’s on you to open back up to the possibility of being hurt or disappointed again . . . but taking that risk is the only way to build trust in a possible alternative: that things can be better. ‍

Deep intimacy, as author Eli J. Finkel explained in The All-or-Nothing Marriage, requires some tradeoff between relationship enhancement and self-protection. 
He asks: 
“Are you more willing to let yourself be highly vulnerable in pursuit of deep intimacy, or are you more willing to sacrifice some level of intimacy to avoid being highly vulnerable?” 

This paradox is also at the heart of the Catch-22 posed by trust researcher Rachel Botsman
"Can we take risks without trust? 
Or is it the act of risk-taking that allows us to develop trust?” ‍

Taking risks is not the same as being reckless. 
We all need both security and adventure in this life. 
It’s okay to stop at the edge of the dock and assess the dark waters below . . . but it’s just as important to take the leap of faith.


Trust Falls—They’re Not Just For Corporate Retreats

Botsman defines trust as “a confident engagement with the unknown.” 

Trust is the confidence that even if the water is freezing and something bites our toe, we’ll be okay. 
And if it ends up better than we could have expected, we’ll always remember that day at the lake where we held hands and plunged into the reinvigorating waters together. ‍

In relationships, trust isn’t a promise to never hurt each other. 
It’s the risk that we will hurt each other and the confidence that, if we do, we will come together to heal. 
We will support one another. 
We will be kind. 
We will have each others’ backs. 

And it’s not just something that happens because we’ve decided to be together, or to move in, or to say “I do.” Cultivating that level of trust requires millions of micro-risks that show us we’re not foolish for being confident in our relationship. It requires taking risks together that show us our partner isn’t the same as the people from our past who hurt us.

Most importantly, trust requires taking risks together that help us grow into better partners for each other. 

If we let each other fall in the past, it’s going to take a lot of trust falls to show that we’re committed now to always catching each other, to really holding each other at our most vulnerable. 
The worst case scenario is that they drop us so many times that we finally understand we can’t trust them. That’s important to learn, too. 

But if we don’t take the risk at all, we might never know either way.


Esther Perel


sexta-feira, 7 de novembro de 2025

A Família que Devorou Seus Homens

 



 

SINOPSE

A família que devorou seus homens é um relato poderoso sobre os significados, as dimensões e as implicações da diáspora. Um livro sobre perdas, partidas e memórias; um retrato de família mergulhado em ternura e dor. Através do diálogo da narradora com a mãe e as memórias dessa mãe, o leitor vai conhecendo as histórias de uma família formada basicamente de mulheres. A autora síria, Dima Wannus, retrata essas mulheres e as reviravoltas na vida de cada uma numa linguagem concisa e luminosa, direta e muitas vezes cheia de humor. São personagens que ficarão com certeza, e para sempre, na memória do leitor.


Ocorrida a Nakba em 1948 e por consequência da expulsão dos povos árabes habitantes da Palestina para diversos países do mundo, uma sensação de não pertencimento e desejo de retorno apoderou-se dos usurpados, todavia, quase incapazes de retornar à Pátria, muitos se fixaram de maneira permanente em países como Líbano, Síria, Irão e Turquia.

É nesse contexto que a escritora síria Dima Wannus escreve o seu romance; fala sobre uma geração de mulheres refugiadas em Damasco e da “saudade mais doída sendo aquela que temos pelo que não existe mais”, quando são novamente refugiadas dado o caos social que a ditadura dos al-Assad promoveu na Síria, fazendo delas novamente migrantes agora em Londres, Paris e Beirute.

Assim como narra cada particularidade das personagens femininas e o seu modo de enfrentar a situação diante da solidão, do passado e da inconformidade do presente, narra também o impacto do conflito Israel-Palestina na vida dos que foram afetados. 


"Minha mãe tem medo 
de perder a memória, e eu 
tenho medo da loucura."


São as memórias que nos dão identidade. 
Não apenas uma identidade pessoal, mas também nos unem a quem tem as mesmas memórias que nós. 

“Aquela confusão, aquela bagunça, dava-me a sensação de estar em lugar nenhum. O carregamento terminou a última caixa e começou a levá-las para o camião. A nossa memória estava a ir embora em caixas numeradas e com uma breve descrição de conteúdo. Como viajar sem memórias? Chegaremos a Londres duas ou três semanas antes de as caixas chegarem! Ter a nossa memória a viajar em caixas facilitou as coisas.”

Os exilados, tentam fazer a viagem de volta a essa identidade desaparecida e ao passado histórico. Quando essa rota se mostra condenada, eles apegam-se a coisas que carregam memórias daquele ponto no tempo e no espaço. É um anseio por uma experiência nacional passada que não se ajusta mais à realidade social e às expectativas futuras sob o exílio. 
Dima Wannus retrata esse sentimento ao montar um retalho de memórias, fiando-o com as biografias da mãe, da avó, suas tias e suas primas.

Mas as memórias podem também ser um fardo. 
Há memórias que nos desequilibram, porque são um fardo que nos atormenta a mente sem tréguas. 
O esquecimento — assim como o medo — são benéficos em certa medida. 
O medo protege-nos. Quando ultrapassa o limite, o medo torna-se uma fobia que nos escraviza. 
O esquecimento também nos protege. Há dores, mágoas, lembranças que, caso nunca sejam superadas, integradas e curadas, ficam ali a remoer o passado numa prisão de porta aberta.
As memórias — assim como o medo, a culpa e a vergonha — podem aniquilar-nos aos poucos até nos levar à morte — seja esta espiritual, psíquica, emocional ou, até mesmo, física.
 
No livro, conseguimos distinguir as personagens e entender as diferentes maneiras como elas lidam com a vida ao ouvir as suas histórias.
Dima mostra as dimensões e implicações da diáspora na relação entre duas gerações de mulheres. Ela e a mãe, num apartamento temporário em Londres, vivem esses múltiplos lutos, o de sua terra natal, de seus homens e suas mulheres. A escrita, ao documentar essas memórias, ajuda-as a processar essas perdas.

Dima Wannus nasceu em Damasco, na Síria, em 1982, e tinha menos de trinta anos quando a guerra civil implodiu na Síria. 
Este livro conta os impactos do conflito na sua família, e o desmantelar das suas relações. 
Dima decide fugir para Londres junto com a mãe e, lá, reclusas e refugiadas, elas mantêm vivas as memórias de Damasco contando as histórias do passado. A filha filma as lembranças da sua mãe enquanto ela fala sobre a sua família que ficou na Síria, e elas apegam-se a esses fragmentos de memória — os cheiros, as comidas, as tragédias — para digerir a perda, a culpa e a saudade.

Dima Wannus traz uma narrativa de memórias. 
A mãe narra cada detalhe do que foi perdido para sempre: a luz da manhã em Damasco, o sabor da comida da irmã, o som das portas do armário, o cheiro da madeira…
A família de Dilma já não tem homens...morreram na guerra, desapareceram sem deixar rasto, e só restou Dima, a sua mãe, as tias e primas, e vivem juntas os anos do regime autoritário da família Assad e o conflito civil que corrói a Síria desde 2011.
A Revolução de 2011,  foi reprimida pelo regime Assad o que desencadeou a guerra civil. 

Mãe e filha reunidas nas fugas, saídas, retiradas, nas trajetórias para longe da revolução na Síria, que se apresenta como uma guerra de interesses envolvendo pelo menos três grupos que disputam o poder, além das intervenções americanas e russas. 
A fuga de Damasco afeta profundamente a mãe de Dima de forma irreversível.
A mãe apoiava-se no passado, ficou aprisionada no passado, e Dima vivia em modo de espera...à espera de um dia se libertar das memórias da mãe...à espera de poder transitar do presente para o futuro completamente desenraizada. Era um abismo aberto entre mãe e filha, entre o apego ao passado e uma sede enorme de futuro...dilemas típicos dos imigrantes e dos refugiados.


Quem são os refugiados sírios?
Os pobres não têm como fugir do país, não têm como financiar uma fuga para um lugar seguro e, muito menos, manter-se num outro país e recomeçar de novo.
A maior parte dos refugiados sírios são, portanto, classe média e classe média alta. 
Dima e a família deixaram Damasco durante a Guerra civil na Síria, refugiaram-se em Beirute, e depois espalharam-se por Paris e Londres. Dima e a mãe foram para Londres. 
Segundo dados das Nações Unidas, existem mais de 6,8 milhões de refugiados sírios espalhados pelo mundo.


Um dia, tudo se perde, tudo se desfaz. 
Ficando apenas as memórias.
As memórias são a única coisa que é verdadeiramente nossa. 
No entanto, as memórias também são grãos de areia que se perdem entre os dedos com o passar do tempo. 



“A saudade mais doída 
é aquela que temos 
pelo que não existe mais.”


Dreams








Despite the geologists’ knowledge and craft,
mocking magnets, graphs, and maps—
in a split second the dream
piles before us mountains as stony
as real life.

And since mountains, then valleys, plains
with perfect infrastructures.
Without engineers, contractors, workers,
bulldozers, diggers, or supplies—
raging highways, instant bridges,
thickly populated pop-up cities.

Without directors, megaphones, and cameramen—
crowds knowing exactly when to frighten us
and when to vanish.

Without architects deft in their craft,
without carpenters, bricklayers, concrete pourers—
on the path a sudden house just like a toy,
and in it vast halls that echo with our steps
and walls constructed out of solid air.

Not just the scale, it’s also the precision—
a specific watch, an entire fly,
on the table a cloth with cross-stitched flowers,
a bitten apple with teeth marks.

And we—unlike circus acrobats,
conjurers, wizards, and hypnotists—
can fly unfledged,
we light dark tunnels with our eyes,
we wax eloquent in unknown tongues,
talking not with just anyone, but with the dead.

And as a bonus, despite our own freedom,
the choices of our heart, our tastes,
we’re swept away
by amorous yearnings for—
and the alarm clock rings.

So what can they tell us, the writers of dream books,
the scholars of oneiric signs and omens,
the doctors with couches for analyses—
if anything fits,
it’s accidental,
and for one reason only,
that in our dreamings,
in their shadowings and gleamings,
in their multiplings, inconceivablings,
in their haphazardings and widescatterings
at times even a clear-cut meaning
may slip through.



Wisława Szymborska