domingo, 5 de outubro de 2025

Sem Fim


Jason Peterson




Sempre e sem fim a vida... 
tão pesada de incerteza 
tão plena de impossíveis 
mas a tamanha altura erguida! 

Um invisível suporte
- foi-se-lhe o fio e o norte! -
sem fim aos céus sem nome 
projecta o sonho incansável 
dum reviver sem retrocesso 
dum atingir sempre passando. 

Plenitude atingida 
quer dizer nova largada 
sempre e sem fim rediviva 
a chama que não se apaga
- que a vida não tem sentido 
se dum momento parado 
se faz água estagnada 
charco em que se adormeça 
das canseiras do caminho. 

Fonte sem par 
nuvem sem forma 
a força que não se extingue 
alevanta o seu pendão 
de combate sem naufrágio
- que quanto mais as balas dão 
as setas vão a morte voa 
mais clara a nota soa 
do clamor de vitória! 

Que não há vida sem mortes 
avanço sem retrocesso 
montanha sem precipícios! 
E quanto mais sobe a vida 
na projecção dum destino 
envolto em bruma de signos 
de astrais irreais desígnios 
maior a queda se ousa 
e mais se ganha a vitória 
do quase certo de perdê-la. 

Sonhos de mares de procela 
sem bússola nem equipagem 
sem velas e sem navio! 
Mares da angústia vencida 
calcada por um desígnio 
de não parar sequer no fim! 

E lá ao longe na bruma 
num longe que sempre e sem fim 
renasce sempre mais longe 
quando vai ser atingido 
envolto em voos de chamas 
o cume sem onde espera. 
Lá 
onde sem fio 
onde sem norte 
o rumo se tece e manda.


Adolfo Casais Monteiro





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