domingo, 29 de junho de 2025

O Mito de Sísifo








O mito de Sísifo fala sobre um personagem da mitologia grega considerado o mais inteligente e esperto dos mortais.  

Entretanto, ele desafiou e enganou os deuses e, por isso, recebeu um castigo terrível: rolar uma grande pedra montanha acima por toda a eternidade. 

Sua história foi usada pelo filósofo Albert Camus como representação da inadequação do ser humano num mundo sufocante e absurdo.

Na mitologia grega, Sísifo, filho do rei Éolo, da Tessália, e Enarete, era considerado o mais astuto de todos os mortais.

Éolo foi um dos filhos de Heleno, filho de Deucalião, e reinou sobre a Tessália. 

Enarate era filha de Deimachus.

Éolo e Enarete tiveram vários filhos: Creteu, Sísifo, Deioneu, Salmoneu, Atamante, Perieres, Cercafas e Magnes, e filhas, Calice, Peisidice, Perimele, Alcíone e Cânace.

Sísifo foi o fundador e primeiro Rei de Éfira, depois chamada Corinto, localizado na região do Peloponeso, onde governou por diversos anos. 
Casou-se com Mérope, filha de Atlas, sendo pai de Glauco e avô de Belerofonte.

Mestre da malícia e da felicidade, ele entrou para a tradição como um dos maiores ofensores dos deuses.

Segundo Higino, ele odiava seu irmão Salmoneu; perguntando a Apolo como ele poderia matar seu inimigo, o deus respondeu que ele deveria ter filhos com Tiro, filha de Salmoneu, que o vingariam. Dois filhos nasceram, mas Tiro, descobrindo a profecia, os matou. Sísifo vingou-se e, por causa disso, ele recebeu como castigo na terra dos mortos empurrar uma pedra até o lugar mais alto da montanha, de onde ela rola de volta.

Segundo Pausânias, ele tornou-se rei de Corinto após a partida de Jasão e Medeia; nesta versão, Medeia não matou os próprios filhos por vingança, mas escondeu-os no templo de Hera esperando que, com isso, eles se tornassem imortais.

Sísifo casou-se com Mérope, uma das sete Pleiades, tendo com ela um filho, Glauco. 
Ele também teve outros filhos, Ornitião, Tersandro e Almus.
Certa vez, uma grande águia sobrevoou sua cidade, levando nas garras uma bela jovem. 
Sísifo reconheceu a jovem Egina, filha de Asopo, um deus-rio. 
Mais tarde, o velho Asopo veio perguntar-lhe se sabia do rapto de sua filha e qual seria seu destino. Sísifo logo fez um acordo: em troca de uma fonte de água para a sua cidade, ele contaria o paradeiro da filha. O acordo foi feito e a fonte presenteada recebeu o nome de Pirene.

Assim, ele despertou a raiva do grande Zeus, que enviou o deus da Morte, Tânato, para levá-lo ao mundo subterrâneo. Porém o esperto Sísifo conseguiu enganar o enviado de Zeus. Elogiou sua beleza e pediu-lhe para deixá-lo enfeitar seu pescoço com um colar. O colar, na verdade, não passava de uma coleira, com a qual Sísifo manteve a Morte aprisionada e conseguiu driblar seu destino.

Durante um tempo não morreu mais ninguém. 
Sísifo soube enganar a Morte, mas criou novas encrencas. Desta vez com Hades, o deus dos mortos, e com Ares, o deus da guerra, que precisava dos préstimos da Morte para consumar as batalhas.

Logo que teve conhecimento, Hades libertou Tânato e ordenou-lhe que trouxesse Sísifo imediatamente para as mansões da morte. Quando Sísifo se despediu de sua mulher, teve o cuidado de pedir secretamente que ela não enterrasse seu corpo.
Já no inferno, Sísifo reclamou com Hades da falta de respeito de sua esposa ao não o enterrar. 
Então suplicou por mais um dia de prazo, para se vingar da mulher ingrata e cumprir os rituais fúnebres. Hades concedeu-lhe o pedido. 
Sísifo então retomou seu corpo e fugiu com a esposa. 
Tinha enganado a Morte pela segunda vez.

Outra história a respeito de Sísifo trata do ocorrido quando Autólico, o mais esperto e bem-sucedido ladrão da Grécia (que era filho de Hermes e vizinho de Sísifo), tentou roubar-lhe o gado. Autólico mudava a cor dos animais. As reses desapareciam sistematicamente sem que se encontrasse o menor sinal do ladrão, porém Sísifo começou a desconfiar de algo, pois o rebanho de Autólico aumentava à medida que o seu diminuía. Sísifo, um homem letrado (teria sido um dos primeiros gregos a dominar a escrita), teve a ideia de marcar os cascos de seus animais com sinais de modo que, à medida que a res se afastava do curral, aparecia no chão a frase "Autólico me roubou". Posteriormente, Sísifo e Autólico fizeram as pazes e se tornaram amigos. Sísifo também seduziu Anticleia, filha de Autólico, que mais tarde se casou com o rei de Ítaca, Laerte; por este motivo, Odisseu é considerado, por alguns autores, como filho de Sísifo.

Sísifo morreu de velhice e Zeus enviou Hermes para conduzir sua alma a Hades. No tártaro, Sísifo foi considerado um grande rebelde e teve um castigo, juntamente com Prometeu, Tício, Tântalo e Íxion.

Sísifo recebeu a seguinte punição: 

Foi condenado a, por toda a eternidade, rolar uma grande pedra de mármore com suas mãos até ao cume de uma montanha, sendo que toda vez que ele estava quase a alcançar o topo, a pedra rolava novamente montanha abaixo até ao ponto de partida por meio de uma força irresistível, invalidando completamente o duro esforço despendido. 

Por esse motivo, a expressão "trabalho de Sísifo", em contextos modernos, é empregada para denotar qualquer tarefa que envolva esforços longos, repetitivos e inevitavelmente fadados ao fracasso - algo como um infinito ciclo de esforços que, além de nunca levarem a nada útil ou proveitoso, também são totalmente desprovidos de quaisquer opções de desistência ou recusa em fazê-lo.




Significado do mito: um olhar contemporâneo

A história de Sísifo existe desde tempos remotos. 
Entretanto, essa narrativa revela muitos aspectos que servem como ferramentas para a reflexão de questões contemporâneas.

Percebendo o potencial simbólico dessa mitologia, Albert Camus (1913-1960), um escritor e filósofo francês, usou o mito de Sísifo em seu trabalho.

Ele desenvolveu uma literatura que buscava a libertação dos seres humanos e questionava as relações sociais absurdas que rondavam o século XX (e que ainda se mantém).

Uma de suas obras mais famosas é O mito de Sísifo, lançada em 1942, momento em que ocorria a Segunda Guerra Mundial.

Nesse ensaio, o filósofo utiliza Sísifo como alegoria para tratar de questões existenciais como o propósito de vida, a inadequação, a futilidade e o absurdo da guerra e das relações de trabalho.

Assim, Camus elabora uma relação entre a mitologia e a atualidade, trazendo para o nosso contexto o trabalho de Sísifo como uma tarefa contemporânea cansativa e inútil, onde o trabalhador ou trabalhadora não vê sentido em fazer, mas precisa continuar a exercer para conseguir sobreviver.

Muito combativo e com ideias de esquerda, Camus compara o terrível castigo do personagem mitológico ao trabalho exercido por grande parte da classe trabalhadora, condenada a fazer a mesma coisa dia após dia e, geralmente, sem consciência de sua condição absurda.

"Esse mito só é trágico porque seu herói é consciente. O que seria sua pena se a esperança de triunfar o sustentasse a cada passo? O operário de hoje trabalha todos os dias de sua vida nas mesmas tarefas, e esse destino não é menos absurdo.
Mas só é trágico nos raros momentos em que se torna consciente. Sísifo, proletário dos deuses, impotente e revoltado, conhece toda a extensão de sua miserável condição: pensa nela durante a descida. A clarividência que deveria ser o seu tormento consuma, ao mesmo tempo, sua vitória. Não há destino que não possa ser superado com o desprezo."

Albert Camus
in, O mito de Sísifo

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